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Paraíba

Intervenção e identitarismo na UFPB

Não sem motivo de ser, a crítica à política identitária tem sido objeto de colunas e várias contribuições na redação do DCO, um ataque do imperialismo aos direitos democraticos.

Não sem motivo de ser, a crítica à política identitária tem sido objeto de colunas e várias contribuições na redação do DCO. A burguesia imperialista e seus serviçais estão numa grande ofensiva contra os direitos democráticos da população, tendo os identitários como uma lança do flanco esquerdo dessa investida.

Dardo do imperialismo

Para a burguesia, o identitarismo serve tão bem quanto o conservadorismo religioso. São políticas com origem na mesma classe social, servindo ao mesmo interesse em situações distintas.

Na instituição que trabalho houve uma escalada dos identitários durante o período de intervenção bolsonarista. Acabar com o bolsonarismo e o identitarismo, sendo complementares na sua ação.

A UFPB foi a instituição de ensino onde a política de intervenção melhor se desenvolveu, havendo a menor resistência da comunidade universitária. Longe de uma coincidência, também foi umas das instituições onde o identitarismo alçou maior representação, crescendo na ausência de movimento combativo real.

O identitarismo acaba sendo uma farsa de manifestações políticas da pequena-burguesia já superada em momentos anteriores pela classe operária. Que hoje ressurge através do estímulo do imperialismo.

Sem dúvida o identitarismo cobrava um alto preço, principalmente das minorias das quais falseiam as dores. Cabe a classe trabalhadora superar esse divisionismo e expulsar esse corpo estranho das suas fileiras.

Abaixo transcrevo o texto de uma colega da UFPB sobre a nova rotina pós pandêmica, com intervenção e avanço do identitarismo.

Identitarismo e censura na UFPB

Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), questionar a pauta identitária pode implicar em perseguição, cancelamento moral e processos administrativos com graves consequências para estudantes, professores, servidores públicos e trabalhadores terceirizados. 

A comunidade acadêmica da UFPB vive em clima de autocensura sobre a política identitária há algum tempo. Como se diz à boca miúda nos corredores da universidade: “há certas coisas que não podemos falar”.

No entanto, desde o retorno das aulas em fevereiro, houve uma escalada da censura aberta contra quem ousar manifestar qualquer pensamento que os identitários considerem inadequados. Coordenadores de curso e chefes de departamento passaram a receber reclamações de estudantes e professores, que se sentem acossados. 

Chegou também ao conhecimento deste jornal vários episódios que comprovam o avanço do cerceamento ao debate crítico na UFPB. Eis alguns deles:

Em sala de aula, um questionamento sobre a segurança no uso de bloqueadores de hormônios em adolescentes foi considerado intolerável. Parte dos estudantes julgaram que essa dúvida era, em si mesma, ofensiva e reagiram duramente contra quem não concordava com eles.

Em outra situação, a fúria de alguns estudantes veio à tona quando alguém afirmou que, se fosse o caso de escolher uma prioridade, seria mais importante alimentar crianças famintas que construir banheiros “neutros”. Essa colocação foi interpretada como um ataque iminente à vida e ao bem estar da comunidade LGBTQIA+.

Uma trabalhadora de idade já avançada, sem qualquer intenção de ofender, chamou uma jovem mulher trans pelo pronome “ele”. A senhora se corrigiu e pediu desculpas, mas ainda assim foi publicamente humilhada pela identitária: “Que isso não se repita! Vê se aprende!” 

Um estudante exigiu que um professor em sala de aula não usasse o termo “índio”, mas sim “indígena”. Mesmo depois de explicar que o autor que estava sendo discutido era do século XIX, o professor foi xingado de racista. 

Esse clima de controle do pensamento e da palavra alheia ocorre em um momento de certa apatia e indefinição políticas. A UFPB funciona sob intervenção desde novembro de 2020, quando Bolsonaro nomeou Valdiney Veloso Gouveia, o candidato menos votado na consulta geral à comunidade acadêmica e sem voto na instância superior que formaliza a lista tríplice. 

Durante a pandemia, a intervenção foi terrível para os estudantes, em especial os mais pobres e que vivem no interior do estado ou em outras cidades do país. Sem condições de acesso às aulas remotas, muitos foram obrigados a desistir ou a trancar o curso. O interventor aproveitou para desmantelar o que havia de políticas sociais, como o restaurante universitário e a residência estudantil. Muitas bolsas de ensino, pesquisa e extensão também foram cortadas.

Valdiney se apoia no corporativismo da burocracia universitária e nas forças conservadoras de dentro e de fora da UFPB. O movimento “Escola Sem Partido”, cujo auge se deu em 2017, ajudou a organizar a extrema direita na universidade. Eles utilizavam os mesmos métodos de censura que hoje os identitários utilizam. No entanto, se esse movimento ajudou a eleger Bolsonaro em 2018 e é um dos pilares de sustentação da intervenção de Valdiney, a intimidação moral identitária não pode ser aproveitada em benefício da maioria dos estudantes, servidores e professores da UFPB.

Prova disso é que o “Dossiê da Intervenção”, produzido em 2021 pelo Comitê de Mobilização pela Autonomia e contra a intervenção na UFPB, não foi suficiente para agrupar em torno de si uma força política capaz de impor uma derrota ao bolsonarismo na universidade. Entre os estudantes, além da extrema direita, os identitários são a força política mais organizada, até mesmo com cargos representativos nas instâncias superiores.

Enquanto isso, o interventor persegue e censura a oposição na UFPB. Ele investe contra as representações sindicais dos estudantes, servidores e professores com a cobrança de aluguéis exorbitantes para as sedes que se situam no campus. Este jornal também relatou um episódio de franca censura, quando seguranças privados retiraram uma faixa “Fora Bolsonaro” que militantes do PCO haviam colocado na feira agroecológica. Além disso, o interventor promove processos administrativos para expulsar estudantes que lhe fazem críticas.

Para que a extrema direita seja varrida da UFPB é preciso estabelecer na prática a diferença dos métodos de ação política das duas classes fundamentais, trabalhadores e burguesia. 

A censura e o linchamento moral são  sempre métodos políticos da burguesia. Vindo do bolsonarismo ou do identitarismo, a burguesia deixa aí sua marca indelével. É essa classe que domina as várias formas de controle social: meios de comunicação, igrejas, escolas, partidos, judiciário, polícia entre outros. 

O método de ação política dos trabalhadores, ao contrário, sempre foi o convencimento racional e a criação de alianças que evidenciem os pontos que unem as diversas formas de opressão e de exploração. Sem qualquer ingerência no aparato repressivo do Estado, resta a essa classe social e às suas organizações políticas a defesa irrestrita da mais ampla liberdade de expressão. 

Por isso, é preciso superar a ação política do identitarismo na UFPB, que aprofunda as divisões sociais ao invés de fortalecer os vínculos entre as forças progressistas da comunidade acadêmica.

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