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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Conflito em Gaza

Imprensa burguesa manipula informação com jogos de palavras

Imprensa da burguesia está unida na defesa do sionismo: não se deixe enganar

O conflito entre os palestinos e o Estado de Israel, cuja mais recente crise eclodiu no último dia 7 de outubro, tem posto às claras a cara e a cor política da imprensa burguesa e, de quebra, da farsa chamada identitarismo, que é acionada como estratégia de defesa dos crimes de Netanyahu. Não faltam a essa imprensa recursos, alguns dos quais sutis, de manipulação da opinião pública.

Entre os mais antigos desses recursos está a seleção de articulistas, que, a soldo, assinam textos de opinião nos quais propalam as ideias do veículo em questão. Em geral, esses colunistas chegam à imprensa pré-selecionadas por sua opinião ou campo de atuação (os identitários, por exemplo, ganharam muita visibilidade nos jornais). Na competição interna por um espaço de destaque na primeira página ou na “home” dos sites, os mais espertos apostam alto na defesa daquilo que nem os donos do jornal têm coragem de dizer alto e bom som.  

Isso explica, por exemplo, uma articulista da Folha de São Paulo defender posições feministas num dia e, no outro, enaltecer o genocídio perpetrado por Netanyahu na Faixa de Gaza, sob a alegação de que “os terroristas do Hamas” são monstros. Afinal, segundo ela, o “exército israelense não estupra, não mata pais na frente de filhos, não decapita gente viva”. O feminismo sionista, assim apresentado, até parece uma opinião “coerente” ofertada aos desavisados. De resto, a base do argumento está num jogo de palavras: “terrorismo” seria pior que “crimes de guerra”, pelos quais, supostamente, um dia, num futuro improvável, poderia vir a responder o premiê de Israel.

Segundo esse argumento, o que respaldaria a crueldade de Netanyahu seria o fato de ser cometida por um exército regular. Os “terroristas” seriam, portanto, extraterrestres que, sem motivo algum, saem estuprando mulheres, decapitando bebês, atirando em pobres jovens que apenas se divertiam em uma festa – criaturas, portanto, da pior espécie, capazes de atrocidades desmedidas, que têm de ser detidas pelas “forças do bem”. Estas, representadas pelo bravo exército de Israel, têm de bombardear hospitais para exterminar perigosos “terroristas” que talvez lá estejam escondidos, bem como explodir um comboio de ambulâncias para atingir supostos “terroristas” supostamente ocultos nos carros. A diferença entre uns e outros, dessa perspectiva cínica, estaria na pretensa “legalidade” do Estado de Israel ante a “ilegalidade” do Hamas e dos outros grupos armados de Gaza. Só falta explicar que os palestinos não têm um Estado, portanto não têm “exército regular” – só lhes resta lutar exatamente como estão lutando contra a força opressora do inimigo. Qual das duas partes não quer o diálogo? O que impera ali é lei do mais forte, com uma indiscutível desproporção entre as forças de um e outro lado.

Esse mesmo jornal, dirão alguns, publicou recentemente um artigo do jornalista Breno Altman, que tem feito uma série de vídeos nos quais explica em minúcias as origens do conflito na região. Como judeu que é, faz questão de explicitar que a crítica ao Estado de Israel, que ele encampa, nada tem a ver com antissemitismo, confusão na qual a propaganda sionista vem investindo pesadamente. O texto de Altman, no entanto, sofreu uma espécie de edição, que tem sido usada com maestria pela imprensa burguesa: a inclusão de links.

Ao texto de Breno Altman na Folha, intitulado “Quem irá parar a mão assassina de Israel?”, foram acrescidos nove links, que, supostamente, conduzem o leitor a mais informações sobre determinados pontos citados. Os cinco links dos dois primeiros parágrafos remetem a matérias do jornal que “explicam” que o Hamas é uma “organização terrorista”.

Em suma, enquanto Breno diz isto:

A situação atual não começou com os trágicos ataques do dia 7 de outubro. A condenada empreitada do Hamas foi uma reação a décadas de bloqueio e isolamento dos territórios ilegalmente ocupados, ao assassinato de milhares e milhares de civis, ao encarceramento em massa de palestinos, a uma segregação violenta e humilhante.

Não há uma guerra entre Israel e Hamas. Trata-se de simplificação rasteira e manipuladora. Essa síntese serve para reivindicar o direito sionista de autodefesa ou para apresentar o cenário como um duelo entre dois monstros”,

a Folha enche o seu texto de links que, com o pretenso propósito de ampliar o debate com mais informação, apresentam a visão da imprensa burguesa. No texto da feminista sionista, não há, porém, nenhum link para um texto que defenda os palestinos, como seria o próprio texto de Altman, publicado antes do dela, portanto pertencente ao arquivo do jornal. Os demais links seguem a mesma linha. Onde Breno fala em “violência israelita”, o link sai de “violência” e leva a assuntos vários do jornal que envolvam qualquer tipo de violência, exceto a de Israel. Onde ele fala em “unidade palestina contra as forças de ocupação”, o link sai de “palestina” e lá vemos, de novo, o “Hamas terrorista”. Fica a dica: melhor não abrir links, pois eles não são feitos pelo autor do texto, e sim pelos “editores”…

A Rede Globo, por sua vez, com muito menos sutileza, teve o desplante de constranger um dos brasileiros de origem palestina que integravam a última leva de repatriados ao Brasil. Trata-se de Hassan Rabbee, que da Palestina vinha gravando vídeos sobre as condições de vida no meio da guerra, vídeos esses transmitidos pela TV 247.

Na conta da Globonews no X (antigo Twitter), foram replicadas publicações colhidas nas redes sociais de Hassan pela extrema-direita sionista, nas quais, em 2015, ele dizia algo como, na ocasião, ser oportuno explodir um ônibus em Israel. Mal chegou ao Brasil, o rapaz teve de se explicar às câmeras da Rede Globo (que usou as imagens no Jornal Nacional, da TV aberta) e dizer que não é a favor da violência, que não lembrava ao certo por que tinha escrito aquilo, que estava com raiva no momento.

Não, Hassan não precisava explicar por que sentiu raiva. Faz 75 anos que Israel oprime o povo palestino, expulso de seu território e condenado, dia após dia, a uma vida sem horizontes num campo de concentração a céu aberto. A imprensa da burguesia, entretanto, não tem vergonha de querer calar a voz de uma vítima. Estão todos os veículos unidos na defesa do sionismo – e depois “bolsonaristas” são os outros.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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