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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

POVOS ORIGINÁRIOS

Imperialismo quer manter ‘guardiães do meio ambiente’

É fácil desfrutar do conforto e defender que o indígena seja o "guardião do meio ambiente"

Ontem, 19 de abril, celebrou-se o Dia do Índio, rebatizado de “Dia dos Povos Indígenas” desde o ano passado, após queda de braço entre o Senado e o então presidente da República, Jair Bolsonaro. Este havia vetado na íntegra o projeto de alteração do nome sob o argumento (verdadeiro) de que, na Constituição de 1988, é empregado o termo “índio”. Ao mesmo tempo que a nação discutia palavras, os remanescentes dos povos originários continuavam – e continuam – na mira dos jagunços do latifúndio. Hoje, enquanto a imprensa ainda se ocupa da questão da nomenclatura, alguns deles estão passando a data comemorativa atrás das grades.

Seria de esperar que a ministra Sônia Guajajara, à frente do novíssimo Ministério dos Povos Indígenas, tivesse alguma atuação diante da prisão de indígenas, no âmbito da luta por terras, em Mato Grosso do Sul. Sônia Bone de Sousa Silva Santos, no entanto, às voltas com compromissos nos Estados Unidos, permanece em silêncio. Desta vez, a ministra foi a Nova York para participar do Fórum Permanente da Organização das Nações Unidas, onde, além de noticiar a demarcação de 11 territórios, que em breve irão para sanção presidencial, cumpriu a agenda do Tio Sam, ao pedir que “a ‘pauta indígena’, que inclui a demarcação, a proteção e a segurança dos territórios indígenas, seja integrada ao debate global sobre a crise climática”, conforme matéria publicada no UOL.  

Há pouco tempo, Sônia Guajajara, que não dispensa o cocar e a caracterização em suas aparições públicas, foi convidada ao programa Altas Horas, da Rede Globo, cujo apresentador (o conhecido Serginho Groissman) lhe perguntou desde quando ela era uma “liderança indígena”, desde quando “sua luta se torna clara na sua vida”. É provável que um líder genuíno tivesse a memória de um fato marcante que teria despertado sua consciência – e talvez a pergunta tivesse essa expectativa de resposta.

Guajajara, porém, limitou-se a dizer que se tornou liderança desde que nasceu e, aos trancos e barrancos, engatou um discurso pronto: “Eu acho eu já nasci liderança porque a gente que é indígena luta todos os dias para viver, luta pelo reconhecimento enquanto povo, pelo respeito ao nosso modo de vida, pelos direitos constitucionais – que já tem alguns escritos, né, mas não são implementados na prática. [A gente] luta para que o Brasil nos conheça. Em 1500, o Brasil foi invadido; poderia ter sido um encontro de culturas, mas houve sobreposição de culturas; o modo de vida dos indígenas é considerado atrasado, mas são [modos] diferentes”.  Coube ao apresentador incluir o recado: “A continuidade da segurança dos povos indígenas é a segurança do planeta, a segurança ambiental”.

Embora diga lutar pelo reconhecimento dos indígenas enquanto povos e pelo respeito ao seu modo de vida, que é “diferente”, mas não “atrasado”, Guajajara, bem como os outros indígenas do universo pop, cultiva o modo de vida e os valores da pequena burguesia brasileira. Na posição de quem aderiu a um estilo de vida mais confortável (com energia elétrica, por exemplo, e muitas outras coisas), defende que os outros permaneçam na função de “guardiães do meio ambiente”, que é o que, de fato, deseja o conjunto de ONGs, empresas e governos estrangeiros interessados na Amazônia.

Caso estivesse o imperialismo preocupado com as populações indígenas, que vivem em condições precárias e sob ameaça constante dos latifundiários, a ministra estaria cuidando de proteger os indígenas de Mato Grosso do Sul e de impedir que, no âmbito da luta pela terra, fossem recolhidos a uma cela como se criminosos fossem. Qual é a luta, de fato, desse tipo de “liderança” indígena, que tem o rabo preso com o Tio Sam?

A indígena Márcia Mura, professora de História Social, em matéria do G1, explicita as suas preocupações: “Estamos perdendo nossas terras para estradas, hidrelétricas, termelétricas, pastos e para a mineração ilegal. Não podemos comemorar enquanto tentamos sobreviver”.  Mesmo havendo grandes mineradoras estrangeiras no país, totalmente legais, que, ao mesmo tempo que investem nas ONGs e fundações ambientalistas, provocam a contaminação de águas e solo, o alvo do combate é o garimpeiro “ilegal”, que deve provocar bem menos estragos que as empresas estrangeiras. De resto, segundo a professora indígena, estradas e usinas hidrelétricas ou termelétricas são a outra face do inimigo. Vale perguntar a quem interessa, a pretexto de defender o modo de vida dos indígenas (e das populações extrativistas, ribeirinhas etc.), inibir o desenvolvimento do país. A pergunta é retórica.  

Ouvir os índios (ou indígenas) de verdade e dar voz a lideranças reais parece ser muito mais produtivo do que eleger índios de proveta, que não passam de porta-vozes de interesses escusos. A classe média, no entanto, vibra quando vê um indígena de cocar e maquiagem em show de rock, programa de TV ou nos salões da ONU. Caetano Veloso e Paula Lavigne conseguiram botar a Sônia Guajajara num show de Alicia Keys e, no ano seguinte (2018), ela saía candidata a vice-presidente na chapa de outro egresso de algum tubo de ensaio, ninguém menos que Guilherme Boulos, cujas amizades têm feito cair sua máscara de esquerdista.

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