Faz sete dias desde que uma junta militar tomou o poder no Níger, depondo o governo colonial e pró-imperialista que governava o país. O golpe militar seguiu a tendência do Sahel, região da África logo abaixo do Saara, onde fica o Níger, e que vem rompendo com o imperialismo. Milhares de pessoas tomaram as ruas para apoiar a ação dos militares que estavam depondo o governo colonial, e empunhavam bandeiras russas, mostrando que o povo do país africano vê na Rússia um parceiro fundamental para a libertação nacional do inimigo francês.
O recém empossado governo do Níger se moveu rapidamente para romper laços com a potência colonial França. O governo anunciou um corte das relações diplomáticas e militares, bem como a exigência da retirada das tropas coloniais francesas do país, algo que o governo Emmanuel Macron se recusa a fazer.
Num dos golpes mais duros do novo governo nigerino aos franceses, o país, que é o sétimo maior produtor de urânio do mundo, proibiu a exportação do material para a França, colocando em risco a indústria nuclear francesa e chacoalhando o mercado do minério no mundo.
As medidas e o golpe de Estado apoiado no povo rapidamente receberam apoio de três governos na mesma região do Sahel, Burkina Faso, Mali e Guiné. Todos os governos assumiram em golpes de Estado similares, que viram ruir o domínio da França imperialista, e lutam para garantir a mais ampla independência de seus países frente ao imperialismo.
O Mali, país que também recorreu ao golpe militar para garantir sua independência, chegou a ser invadido pela França, e levou as tropas imperialistas do presidente francês Emmanuel Macron à derrota, praticamente numa segunda declaração de independência.
Ameaça imperialista
A subida ao poder da junta militar foi recebida com péssimos olhos pelo imperialismo mundial, principalmente a França. Mobilizando os governos fantoches do imperialismo na África, o bloco da CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental; ECOWAS em inglês) anunciou um ultimato contra o novo governo: entregar o poder ou ser invadido, o ultimato venceu neste domingo (6).
O bloco é liderado por Bola Tinubu, presidente da Nigéria, um dos países mais importantes da região. Tinubu é um político africano com formação universitária na conhecida e neoliberal Universidade de Chicago, antes de ser presidente foi governador e senador, mas também foi funcionário da Mobil (Petroleira norte-americana, hoje parte da ExxonMobil, herdeira do império do Petróleo dos Rockefeller) e da empresa britânica-americana de auditoria corporativa Deloitte, mostrando ser uma pessoa de confiança do imperialismo internacional. O governo de Tinubu é um governo de capachos do imperialismo norte-americano.
As ameaças de Tinubu e da CEDEAO foram muito mal recebidas pelos líderes insurgentes do Mali e de Burkina Faso, que emitiram um comunicado conjunto dizendo que: “Qualquer intervenção militar contra o Níger seria equiparada a uma declaração de guerra contra o Mali e Burkina Faso”. O comunicado também alerta sobre os riscos dessa empreitada: “Consequências desastrosas da intervenção militar contra o Níger… poderiam desestabilizar toda a região”. A posição do governo da Guiné foi análoga.
A ameaça feita contra o Níger não é a primeira do bloco imperialista da CEDEAO. Uma ameaça similar foi feita contra a Gambia quando o presidente recusou-se a reconhecer a derrota na eleição presidencial em 2017. Analistas militares e da região comentam que o sucesso se deu, em grande medida, pelo fato da Gambia ser o menor país dentro da África continental com apenas dois milhões de habitantes.
A situação seria radicalmente diferente numa invasão do Níger. O país tem uma área maior que a da Nigéria, ainda que uma larga porção desta área seja desértica, e tem mais de 20 milhões de pessoas vivendo em sua região. Aliada ao Mali e a Burkina Faso, cada uma das nações com mais de 20 milhões de pessoas, e a Guiné, com 14 milhões, seria um confronto de características catastróficas.
A Nigéria, que lidera as ações agressivas, tem 22 vezes mais tropas que o Níger, e quatro vezes mais que Burkina Faso, Guiné, Mali e Niger juntos. Ocorre que o país não parece deter unidade política ou condições militares de dispor de todo o seu efetivo para uma guerra contra os quatro países. O senado da Nigéria acaba de pedir cautela ao presidente, dizendo que deve-se exaurir todas as possibilidades diplomáticas antes de qualquer coisa. Analistas também comentam as dificuldades de dispor as tropas todas para uma operação militar. A Nigéria, nesse momento, enfrenta grupos jihadistas no norte do país, gangues na região central, e separatistas ao sul.
Independente das condições para executar a operação, os países da CEDEAO anunciaram que já preparam um plano para a invasão do Níger, mas se recusam a divulgá-lo alegando problemas de caráter militar. É provável que uma operação desta natureza tenha um apoio tático vindo dos EUA e da França através de bombardeios e de outras medidas. Por problemas de estabilidade interna, nenhuma das duas potências imperialistas tem condições, neste momento, de liderar uma invasão, tendo que delegar a países controlados por eles na região.