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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Lei da Anistia

Identitários vão cair na real?

Negros de classe média vão continuar sofrendo os efeitos do racismo enquanto houver uma maioria de negros pobres. Qual é a luta a empreender?

As chacinas recentemente ocorridas nas favelas, que, na verdade, fazem parte de uma infeliz rotina no país, talvez sirvam para dar um choque de realidade nos identitários. Mais que comemorar nas redes sociais a prisão de um sujeito que cometeu uma “injúria racial” ou a censura de outro que tenha contado uma piada racista, é preciso enfrentar o racismo de maneira menos ingênua.

O ministro Silvio Almeida vai dar início a uma caravana pelos presídios do país. É provável que fique chocado com as condições de negros e também de brancos, que, dentro do sistema prisional, dificilmente poderão ser considerados membros privilegiados do “pacto da branquitude”. Se, no entanto, o ministro se contentar em fazer os policiais estudarem alguma cartilha de “letramento racial”, é bem provável que o resultado seja o mesmo alcançado no Carrefour, ou seja, nenhum. Não se trata de simplesmente chamar indivíduos à consciência para que o racismo acabe. Se assim fosse, as religiões já teriam resolvido o problema.

O identitarismo, no entanto, como se fosse uma religião, camufla a realidade material e dá aos seus adeptos a ilusão de estarem “fazendo alguma coisa” simplesmente por manifestarem simpatia pelas causas. Suas reivindicações concentram-se na busca de cotas para ocupação de “espaços de poder” – seja em concursos públicos, seja em governos, seja em cargos no sistema judiciário. Fato é que a mera concessão de cargos a alguns elementos não muda a situação dos que efetivamente enfrentam o racismo na sua crueza e, por ironia, faz parecer que o problema está sendo combatido.

A esquerda jamais deveria abandonar a perspectiva de classe, substituindo-a pelo recorte racial, que a ela se subordina. O preconceito contra o negro reflete uma realidade material – a de que há muitos negros nas classes mais baixas. É a transformação dessa realidade que vai acabar com o racismo. Não são só negros que vivem na pobreza – e há negros nas classes médias e altas, ainda que não representem a maioria. Estes, no entanto, vão continuar sofrendo os efeitos do racismo enquanto houver uma maioria de negros pobres. Qual é, portanto, a luta a ser feita?

É preciso que se mude radicalmente o desenho da sociedade. Somente em uma sociedade igualitária haverá essa diversidade com que parecem sonhar os identitários. No projeto da burguesia, que patrocina esse ideário, o termo só serve para enfatizar as diferenças e estimular o individualismo, que, afinal, é a melhor receita para enfraquecer a luta popular.

Em texto publicado na Folha de São Paulo, a colunista Cida Bento usa o tema das chacinas e da diferença de tratamento entre os “negros das favelas”, sempre suspeitos, e os “brancos dos palácios”, em geral impunes, como mote para discutir a Lei da Anistia, que propõe isentar de punição os partidos que não cumpriram as cotas de negros ou mulheres negras nas eleições. No raciocínio da autora, tudo pertence ao mesmo “pacote”.

Talvez o problema desse tipo de raciocínio seja um certo grau de simplismo. Se houver cotas de negros e mulheres nos partidos, a população acabará votando em negros e mulheres – e o fará em nome de “representatividade”, como se cargo eletivo fosse um prêmio (ou um emprego) concedido ao candidato. A solução para o racismo, segundo esse ponto de vista, é criar leis que obriguem a sociedade a colocar negros em algumas posições.

No caso particular da política, seria mais salutar organizar a sociedade para que surgissem lideranças realmente comprometidas com a solução dos problemas da população e de seus segmentos. Essas lideranças surgiriam genuinamente, de baixo para cima, não por uma imposição legal. Esta conduz inevitavelmente à fraude. Alguém já viu surgir um líder popular por previsão legal?

Os identitários, no entanto, gostam mesmo é de falar nas redes sociais, defender teses na universidade, ganhar patrocínio de ONGs e aprovar leis – sem ter de botar a mão na massa e o dedo nas feridas da sociedade.     

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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