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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Lula vs. Identitários

Identitários podem minar o governo Lula

Identitários querem camuflar a dinâmica da luta de classes, mas a realidade não deixa

A última dos identitários (até o momento em que estas palavras caem sobre a página) foi condenar o elogio da miscigenação feito por Lula em um discurso na Reserva Indígena Raposa Terra do Sol. O presidente da República teria “romantizado” a mistura racial brasileira ao dizer isto: “Ora, toda a desgraça que isso causou ao país, causou uma coisa boa: que foi a mistura, a miscigenação, a mistura entre indígenas, negros e europeus que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui, que gosta de música, de dança, de festa, que gosta de respeito, mas que gosta de trabalhar para sustentar a sua família e não viver de favor, de quem quer que seja”.

Lula cometeu um pecado mortal do identitarismo ao preterir o passado em prol do presente e do futuro. Os adeptos dessa teoria têm os olhos voltados para o passado, que é a fonte da compensação que se veem no direito de receber no presente. É preciso martelar todos os dias que os brancos são privilegiados e cúmplices das “desgraças” do passado, sendo esse o motivo para alocarem mulheres negras em “espaços de poder”, como o STF, por exemplo, ou homens negros gays em ministérios.

A crítica à declaração de Lula apoia-se na ideia de que a miscigenação teria ocorrido desde o início da colonização porque os homens brancos europeus, que não traziam mulheres nas caravelas, estupravam as indígenas. Depois, estupraram também as mulheres negras que vieram como mão de obra escrava. De estupro em estupro, chegamos a uma população que é hoje majoritariamente mestiça.

Um certo Luã Andrade, que escreve no Portal Terra, indaga de Lula: “Coisa boa? Será mesmo?” – e põe-se a contar a “verdadeira história”. Antes, porém, cabe enfatizar que a “coisa boa” a que se referiu Lula e que o articulista contesta é a miscigenação atual. O passado foi tratado pelo presidente como “desgraça”. Segundo esse ativista: “Para quem não sabe, quando os portugueses começam a saquear o Brasil, eles chegam de forma cordial. Diferente [sic] do que aprendemos no colégio, os povos originários dessa terra não eram fracos e não tinham medo dos brancos. Era o contrário. Os brancos não conheciam as tecnologias dos tamoios, guaranis, tupiniquins, tabajaras e etc. [sic] e morriam de medo dos seus saberes. Foi por isso que eles chegaram bem cordiais e oferecendo presentes”. Mesmo assim, segundo ele, foi o Lula quem romantizou a história.  

Embora possam parecer ninharia, essas críticas ao Lula revelam uma grande incompatibilidade entre a política dele e os anseios dos identitários. Lula quer unir as pessoas, e o próprio elogio da miscigenação é um elogio da união. Os identitários, por sua vez, afirmam sua política pela segmentação, seja pela divisão racial, seja pela extrema fragmentação nas chamadas identidades de gênero.

Gostem ou não, a maioria da população brasileira é miscigenada, e nem o mais recalcitrante dos identitários poderia afirmar que os mestiços de hoje são frutos de estupro. O problema é que a mistura racial desmente a tese do racismo estrutural, embora seus apologistas digam que até mesmo uma mulher branca que se casa com um homem negro e tem filhos com ele é racista.

As uniões inter-raciais são extremamente comuns no Brasil, sobretudo nas classes menos abastadas ou médias. O provável motivo é muito simples: os casamentos, com raras exceções, dão-se entre pessoas da mesma camada social. É muito mais a condição socioeconômica que define a posição da pessoa na sociedade do que a sua cor de pele.

Identitários querem camuflar a dinâmica da luta de classes, mas a realidade não deixa. Vamos torcer para que o Lula não permita que seu governo seja minado por essa política conservadora, que se apoia no neopedantismo universitário.

Artigo publicado, originalmente, em 16 de março de 2023.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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