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Zoológicos humanos

 Identitários defendem que índios permaneçam na extrema pobreza

Os índios não podem explorar os seus minérios pois em última instância são brasileiros e não empresários norte americanos. O decolonialismo encobre o ataque imperialista ao Brasil

Após a imprensa divulgar a situação de calamidade dos ianomâmis, mas não a de outras centenas de milhares de índios no Brasil, o assunto se tornou um dos mais comentados nas redes sociais. A página oficial do PCO expôs a política tradicional do Partido: os índios precisam de terras demarcadas e ajuda do governo para desenvolver economicamente as suas terras, até mesmo com a mineração de ouro se desejarem, como no caso dos ianomâmis. Essa política, tradicional do marxismo, foi tomada pelos identitários como algo absurdo, eles então passaram a atacar o PCO de “colonialista”. O caso demonstra muito bem como a ideia do “decolonialismo” serve justamente aos interesses de quem a financia, o imperialismo.

A postagem em questão no Twitter do PCO foi a seguinte: “Os ianomâmis têm um território do tamanho do Sergipe com uma enorme reserva de ouro e mesmo assim vivem na miséria absoluta. Esse é o resultado da política imperialista de que os índios não devem explorar economicamente suas terras para sustentar a si e ao seu país.” É um caso muito explicativo, 27 mil pessoas em um território gigantesco com uma riqueza imensurável não conseguem nem se alimentar. Isso só é possível pois apesar do tamanho do território e da riqueza os índios não conseguem explorá-los economicamente, nem mesmo conseguem produzir alimentos.

É fato que o garimpo feito de forma irregular polui os rios o que dificulta a alimentação dos índios, contudo com uma economia mais desenvolvida seria possível explorar o território que não é afetado, dado que o garimpo destrói menos de 1% das terras ianomâmis. Além disso, caso os índios realizassem o garimpo eles não destruiriam seus rios e assim teriam acesso aos alimentos e também a recursos valiosos. Assim eles poderiam ficar com uma parte do ouro para comprar o que necessitam e uma parte ficar com o governo como imposto, que em troca levaria eletricidade, saúde pública, escolas, estradas, máquinas agrícolas e o que mais os indígenas desejassem.

Essa é a realidade que os identitários abominam, eles acreditam que os índios não podem ter acesso a tecnologia moderna e acham que eles vivem sem essa tecnologia por opção própria. Um internauta comentou: “a cosmovisão e forma de sociedade dos povos indígenas é diretamente conectada com o ambiente e o território. A não ‘exploração econômica’ da terra em que vivem (o que não é do todo verdadeiro, mas as atividades empreendidas são feitas em equilíbrio com a terra) não é fruto de uma política imperialista. O problema enfrentado por diversos povos, é a invasão e a exploração de seus territórios, o próprio conceito de ‘exploração econômica do território’ na forma citada é fruto de uma mentalidade ocidental.”

De acordo com essa tese os índios são incapazes de manterem a sua religião e preservarem o meio ambiente enquanto usam tratores e fazem mineração, uma contradição totalmente falsa. Na Bolívia, o país mais indígena da América do Sul há uma gigantesca indústria de mineração e a agricultura usa todo tipo de tecnologia. Não só isso, como parte dos ianomâmis já defende e pratica o garimpo e os índios que vivem de agricultura, como os guarani do Mato Grosso do Sul, já deixaram claro que desejam tecnologia agrícola para não ter que viver de trabalho braçal. Essa ideia é tão ridícula que infere que os índios não devem ter atendimento de saúde pública pois ele é baseado na medicina ocidental. Eles também não devem desenvolver escrita de sua língua com o alfabeto latino mas criar o próprio alfabeto ou nem mesmo escrever pois é ocidental. É um absurdo.

Os argumentos em geral são menos civilizados que o acima como: “ou pode ser uma outra ideiazinha, vindo da antropologia não sei se vocês conhecem, uma ideia de talvez NÃO QUERER VIVER O ESTILO DE VIDA ECONOMICAMENTE DOMINANTE! Ou seja, foda-se o ouro da terra, eu não quero tirar ouro da terra, de-me esse direito”. O fato de explorar os recursos da terra não quer dizer que os índios precisam se comportar como moradores de Nova Iorque. Assim como os brasileiros em geral não adotam o estilo de vida norte americano mesmo usando tecnologias vindas dos EUA. O que impõe uma cultura externa no Brasil são os monopólios imperialistas, mas é preciso discernir. Ter a tecnologia do cinema em uma aldeia ou uma cidade não é equivalente a assistir apenas filmes de Hollywood. Caso os índios não desejem explorar o ouro também é seu direito, mas isso não é um consenso, é a visão dos identitários que inventaram um índio idealizado.

Outros argumentos também foram usados como comparações históricas: “Sim, mineração de ouro sempre foi uma fonte imensa de prosperidade e riqueza. Veja o que aconteceu em Minas Gerais por dois séculos.” O garimpo em Minas Gerais durante a era colonial é semelhante ao que acontece com os ianomâmis hoje, um povo externo às terras indígenas garimpava ouro e mandava para fora do Brasil. No século XVIII seria difícil fazer um modelo que beneficiasse a todos, mas no atual estágio de civilização é possível que os próprios índios realizem a mineração mantendo sua terra, sua cultura e ainda tenham uma fonte de renda para o que desejarem de fora da sua aldeia.

Uma parte dos revoltados também simplesmente não compreendeu a diferença de uma política de esquerda do bolsonarismo: “É exatamente ESTE discurso que os garimpeiros ligados à extrema direita vendem aos índios para convencê-lo a aceitar a presença deles na área. Significa?” A diferença é que os índios devem ter o controle de suas terras, inclusive da exploração econômica, seja agricultura, seja mineração, seja turismo etc. O fato dos identitários não conseguirem imaginar uma sociedade indígena tendo relações econômicas com outra sociedade capitalista não só é uma diminuição dos próprios índios como uma negação da realidade pois a esmagadora maioria dos índios quer relações de maior ou menor grau com a sociedade brasileira. 

Todo argumento fica ridículo quando se coloca outro grupo em questão, peguemos a população árabe por exemplo. De acordo com a tese decolonial, as tecnologias de extração de petróleo são ocidentais e portanto devem ser expulsas do Oriente Médio. O petróleo é motivo de muitos golpes e guerras, gera muitos problemas, como o garimpo. Mas ninguém considera que os árabes devem viver como no século XVIII antes da chegada dos europeus. Todos sabem que a política correta é que a riqueza do petróleo seja apropriada pelos árabes para que eles desenvolvam sua nação como desejarem. Por que a tese decolonial vale para os índios da Amazônia mas não para os árabes com seu petróleo, os bolivianos com o gás, os angolanos que tem diamantes etc?

A verdade é que a tese decolonial considera um ser que não existe, o índio do século XV vivendo no século XXI. Nem mesmo este é levado a sério pois com a chegada dos portugueses muitas tecnologias foram adotadas imediatamente como os machados de ferro por exemplo. E para além disso ela tem uma localização especifica, os povos que não podem ser “colonizados” são os índios da Amazônia, o motivo? Quem controla os recursos de lá não é o imperialismo, mas sim os países atrasados da América do Sul. Os índios não podem explorar os seus minérios pois em última instância são brasileiros e não empresários norte americanos. Todo embasamento ideológico decolonial esconde a realidade econômica do ataque imperialista ao Brasil.

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