O jornal Folha de S. Paulo publicou uma entrevista esclarecedora no último domingo (03) com um ilustre desconhecido, o sociólogo e especialista em masculinidades negras (seja essa especialidade o que for) Henrique Restier. O sociólogo e professor do Cefet-RJ (Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca) despertou interesse do jornal, parte do monopólio da imprensa capitalista, para quem, via de regra, a voz do oprimido é absolutamente inaudível, pelas postagens criticas ao Ministério da Igualdade Racial (MIR).
Bem se sabe que os ministros identitários, como a ministra Anielle Franco, que dirige a pasta citada, são muito criticáveis pela completa inércia, quando não por posições ridículas, vexaminosas e estéreis, como a lição da ministra Anielle Franco para uma linguagem antirracista, condenando expressões ou palavras como “buraco negro” ou denegrir. No entanto, a crítica de Rostier não é a respeito da política implementada, ou da falta dela pelo MIR, mas a outro aspecto: para o sociólogo, no MIR existe “hostilidade ao homem negro” e um “protagonismo das mulheres negras meramente ideológico”.
O identitarismo de fato realiza enorme demagogia em relação à mulher negra, um enaltecimento demagógico, não da mulher negra real, mas da mulher negra idealizada, que somente existe na cabeça do identitário ou em círculos muito estritos da pequena-burguesia; de forma que o identitarismo ignora e despreza os problemas reais das massas da população negra feminina.
Contudo, a aparente crítica de Rostier não se realiza. Trata-se de mais uma posição identitária e pequeno-burguesa que despreza os interesses das massas. Com aparente crítica de que o MIR não está trabalhando em favor dos homens negros da mesma maneira que para as mulheres, aliás, para quem o MIR também não faz nada, diga-se de passagem, o centro de sua argumentação é pleitear um emprego, uma boquinha, como essa passagem da entrevista revela:
Minhas reflexões em torno do MIR se circunscrevem à falta de uma reflexão séria em torno do homem negro. O que se reflete na nossa pouca presença nas instâncias decisórias, na formação das equipes que estão pensando as políticas afirmativas e, portanto, na nossa ausência como foco dessas políticas.
Ou seja, a questão se resume a: o MIR não dá espaço para as pesquisas e especialistas em masculinidades negras, no que Rostier é, aliás, especialista. Eis o resumo do identitarismo, uma luta desesperada por um carguinho, que a burguesia com seus próprios interesses impulsiona.