Ao que tudo indica, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se tornará, hoje, inelegível. No momento, três ministros já se colocaram a favor da cassação de seus direitos políticos, enquanto apenas um deu voto contrário ao do relator. Restam mais três votos, sendo que basta um ministro votar com o relator que Bolsonaro não poderá concorrer às próximas eleições.
Segundo as expectativas da imprensa burguesa, já é quase certo que o placar será de 6×1 ou, na melhor das hipóteses para o ex-presidente, de 5×2. Carmen Lúcia, que deverá selar o destino de Bolsonaro, já indicou que votaria com o relator.
O Partido da Imprensa Golpista (PIG) não esconde o seu ânimo. Dos seus articulistas até mesmo seus editoriais, a opinião é a mesma: a condenação de Bolsonaro seria um “exemplo” contra a impunidade. Seria a mais extremada defesa da “democracia”. Não passa, obviamente, de puro cinismo. A comemoração se dá pelo fato de que Bolsonaro é uma figura muito independente, difícil de ser controlada, por mais direitista que seja. Bolsonaro é uma pedra no sapato dos grandes capitalistas, que querem um presidente como Fernando Henrique Cardoso ou como Michel Temer, que não titubeie em meio às contradições da burguesia nacional com o imperialismo e, assim, sirva como um capacho completo dos capitalistas estrangeiros. Alguém que tenha condições de passar por cima do “centrão” e que não venda apenas a Eletrobrás, mas todas as empresas brasileiras. Alguém que despreze tanto o seu país como Vladimir Zelensky despreza o povo ucraniano, jogando-o para servir de bucha de canhão.
A cassação dos direitos de Bolsonaro dificilmente servirá para impedir a influência do bolsonarismo no regime político. Afinal, o bolsonarismo é uma força social, ancorada em dezenas de milhões de pessoas. Bolsonaro elegeu parlamentares, governadores e é a expressão do deslocamento de todo um setor da sociedade para posições de extrema-direita, como consequência da crise política instaurada com o golpe de 2016.
Ainda que não seja eficiente – pelo contrário, tornará Bolsonaro uma vítima, radicalizando ainda mais sua base -, a comemoração do PIG tem algum sentido. Afinal, a burguesia traçou um plano e está tendo resultado. Pressionou juízes, a imprensa e a “opinião pública” para torná-lo inelegível e está conseguindo fazer isso. Em um primeiro momento, isso aparece como uma vitória política.
O espantoso, no entanto, é que há vários setores da esquerda nacional comemorando essa vitória da burguesia. Segundo eles, como Bolsonaro é um inimigo político, qualquer coisa contra ele seria positivo.
O que esquecem, contudo, é que Bolsonaro está tendo seus direitos cassados por pessoas que também são inimigos da esquerda. E que são, na verdade, inimigos muito mais poderosos. São as mesmas pessoas que deram o golpe de 2016: a burguesia imperialista e as suas “instituições”. Isto é, o Poder Judiciário, o Ministério Público e o PIG. A vitória não é da esquerda. Não foram os trabalhadores mobilizados que conquistaram a cassação dos direitos políticos de Bolsonaro, nem tampouco Bolsonaro está sendo condenado por crimes políticos, como a venda da Eletrobrás. É uma vitória da burguesia com os métodos antidemocráticos e golpistas da burguesia.
Isto significa, na prática, que o Estado criou ainda mais condições para perseguir aqueles que pretende eliminar do regime político. Se hoje Bolsonaro é cassado por suas opiniões, amanhã Lula também poderá o ser. Basta, por exemplo, que se comece uma campanha de que Lula “ataca a democracia” ao defender Nicolás Maduro, que o presidente poderá ser derrubado.
A essa hipótese, deve-se ainda ser levado em conta um aspecto essencial da situação política. Com Bolsonaro inelegível, Lula ficaria sem nenhum concorrente à altura nas eleições de 2026. Lula venceu o segundo candidato mais popular do País – caso enfrentasse algum direitista tradicional, ainda mais disputando uma reeleição, não teria páreo. Provavelmente venceria no segundo turno. Será que a burguesia não pensou nisso?
É claro que pensou. E é claro também que o seu objetivo não é permitir a reeleição de Lula. Já está evidente, ainda mais pela imprensa internacional, que o governo Lula é indesejado pela burguesia. O governo está sabotado de todas as formas de dentro do País, como mostram os casos do Banco Central e do Congresso. Dó há, portanto, uma conclusão possível: agora, tornaram Bolsonaro inelegível. Na próxima etapa, utilizarão os mesmos métodos antidemocráticos contra Lula.