Desde as ações do Hamas do dia 7 de outubro, uma polêmica se instaurou dentro da esquerda que defende os palestinos. O fato de se defender ou não abertamente o Hamas e outras organizações palestinas que estão na luta contra o estado sionista de Israel.
Mesmo nas manifestações brasileiras em defesa da Palestina é fácil perceber que boa parte das lideranças, de partidos ou não, ficam na defensiva em defender o Hamas. Essa defensiva é obra da campanha da imprensa capitalista, em grande medida controlada por sionistas. Não haveria polêmica se não fosse essa campanha. Os palestinos lutam, e lutam por meio do Hamas, logo é preciso defender o Hamas. Esse raciocínio comum e histórico da esquerda foi pro vinagre.
Agora, chegando a quase dois meses de genocício cometido por Israel na faixa de Gaza, está um pouco mais fácil compreender que o Hamas é um partido político, como milhares que existem no mundo inteiro. E que é o Hamas, por seu braço armado, quem lidera a resistência armada da Palestina, e por isso deve ser defendido, mais, exaltado.
Ora, não é possível defender a Palestina sem defender o Hamas. Defender os palestinos genericamente é, na realidade, uma forma de defender as ações de Israel. Finalmente, os sionistas falam que querem acabar com o Hamas, com os ditos “terroristas”, nesse sentido, eles também defendem genericamente os palestinos.
Todas as outras forças que estão contra Israel, estão em uma frente única com o Hamas, e também por isso devem ser defendidas. Atacar o Hamas, é atacar a resistência Palestina, que conseguiu uma vitória impondo uma trégua pela força.
A imprensa apresenta o partido como sendo terrorista, ou composto por terroristas. Simplesmente do nada apareceu um grupo de loucos armados que vão matar pessoas. Isso é completamente falso. Na realidade, o Hamas, ao longo de sua história, conseguiu um amplo apoio popular especialmente em razão dos programas sociais colocados em prática pela organização.
Em 2006, quando da sua vitória eleitoral na região, um jornal imperialista foi obrigado a reconhecer o trabalho social do Hamas, tendo publicado uma matéria, que tinha o título “A vitória do Hamas se baseia no trabalho social”, com os seguintes dizeres sobre a organização:
“A recente vitória do grupo militante nas eleições parlamentares é um testemunho, em parte, do seu longo historial nas ruas”.
Nesta matéria, Mouin Rabbani do Grupo de Crise Internacional, afirma que “o Hamas tem sido muito bom a compartimentar as suas atividades – onde tem uma cozinha comunitária, por exemplo, eles simplesmente dão sopa, nada mais (…) mas tudo isso se enquadra em um padrão mais amplo de mobilização popular e se torna mais uma forma de buscar apoio para a organização.”
“O Hamas não tem muitos recursos, mas tem uma grande rede de caridade que trabalha para reduzir o sofrimento do povo palestino”, afirmou Sami abu Zuhri, porta-voz do grupo em Gaza. “As pessoas sentem a credibilidade do Hamas e a sua capacidade de promover mudanças através das organizações de caridade que dirige”, completa.
Além de lutar pelo alívio do sofrimento do martírio do povo palestino, o Hamas também ajudou financeiramente várias famílias necessitadas. “Estaríamos completamente desamparados sem esta ajuda”, disse, àquela altura, Ataf Ostaz, que tem nove filhos e cujo marido morreu de acidente vascular cerebral há dois anos. “Naturalmente, demos os nossos votos ao Hamas, porque são eles que atendem às nossas necessidades.”
Issam Younis, quando da matéria do Los Angeles Times, diretor do Centro Al Mezan para Direitos Humanos na Cidade de Gaza, afirmou que “o Hamas fez o seu trabalho de casa. Ao longo dos anos, eles estabeleceram serviços sociais muito bons, aproveitam ao máximo a mesquita”.
Vários partidos e organizações já fizeram algo muito parecido. Os Panteras Negras, nos Estados Unidos, por exemplo, tinham um amplo serviço social destinado aos negros. Programas de Café da manhã grátis para crianças, escolas e clínicas de saúde comunitárias foram colocadas em prática pelo partido. Também foi assim que conseguiram o apoio popular à seu programa, até sua destruição total promovida pelas forças de repressão do governo norte-americano.
O Hamas, como qualquer outro partido político popular, tem uma vasta história na região, e, na realidade, esse apoio popular é que ajudou a organização a tomar as medidas espetaculares do dia 07 de outubro. Para se ter uma ideia, os famosos Panteras Negras, no seu auge, tinham cerca de 10 mil pessoas em suas fileiras. O Hamas atualmente possui mais de 25 mil combatentes.
Os feitos heróicos do Hamas e seus militantes se equivalem aos dos vietnamitas, de Ho Chi Minh e da Frente Nacional para a Libertação do Vietnã (mais conhecida como Vietcong). Ninguém, hoje em dia, é capaz de colocar “poréns” ou considerações menores para o apoio à luta vietnamita, a mesma política deveria se aplicar ao caso palestino.