A população do Haiti cansada dos crimes, da violência e da polícia corrupta e oportunista, resolveu fazer justiça com as próprias mãos.
No Haiti diversas gangues flagelam a população e lutam entre si para dominar o país, a polícia apesar dos investimentos feitos pelos EUA desde 2010, de US$380 milhões, em treinamento, incluindo uma unidade SWAT especializada antigangues dentro da Policia Nacional do Haiti (PNH), não superam os armamentos modernos de guerra estadunidenses que as gangues possuem.
Em 23 de abril, após uma noite de tiroteios no segundo distrito e bairros vizinhos de Porto Príncipe, a Polícia Nacional do Haiti recebeu informações de que membros de gangues estavam viajando pela área. Na manhã seguinte, no bairro de Canapé-Vert, a polícia parou um micro-ônibus do transporte público e encontrou 14 homens portando armas pesadas, munições, celulares e outros contrabandos ilegais e os levou para a delegacia. A população então resolveu resolver o problema, arrastaram os homens para fora, deixando de fora o motorista e o cobrador do ônibus e passaram a linchá-los, depois queimaram os corpos. As cenas foram gravadas em vídeos que logo se espalharam pelas redes sociais.
A revolta nacional e espontânea e sem líderes está sendo chamada de “Bwa Kale”, cuja tradução significa “madeira descascada”, alusão a uma forma severa de punição corporal existente em lares haitianos. Nas ações ficou evidente que o objetivo das massas não é apenas identificar, capturar e matar os criminosos, e em especial os chefes de gangues, devolvendo na mesma moeda o que eles fazem com a população (sequestros, assassinatos, extorsões). O objetivo maior é aterrorizar seus algozes, mostrar que agora não vão mais massacrar a população sem represália.
O Bwa Kale está sendo um movimento cheio de repertório da Revolução Haitiana que aconteceu entre 1791 e 1804, quando os escravos de Saint Domingue venceram seus senhores coloniais, derrotando os franceses, os britânicos e os espanhóis, e fundaram a primeira república livre do hemisfério.
Vídeos na internet mostram um homem soprando uma concha para mobilizar a multidão, da mesma forma que foi feito na revolução; uma mulher batendo com a colher em uma panela enquanto grita Bwa Kale, haitianos afiando lâminas; o Bwa Kale também lembra a queda do ditador Jean Claude Duvalier, movimento que foi chamado Dechoukaj (desenraizamento), quando a população se vingou dos Tonton Macoutes.
Vídeos mostram as ações dos grupos de autodefesa que matam os membros das gangues apenas depois de verificarem se são mesmo de gangues, (procuram armas, conteúdo dos celulares). A imprensa chama o Bwa kale de “método grosseiro de justiça”, e que foi confirmado que duas pessoas já foram mortas por engano. Mas a verdade é que a ação do povo haitiano está dando resultados, desde que o movimento começou o número de sequestros no país caíram para zero.
O fenômeno sequestro zero resultante dos grupos de autodefesa mostram como a polícia é corrupta é ineficaz em qualquer lugar do mundo, no Haiti os bairros ricos como Pétionville, Thomassin e Laboule, policiais de folga trabalham como seguranças particulares para proteger os moradores de gangues, cobrando altos valores. Um exemplo aconteceu na semana anterior ao Bwa Kale, onde os policiais mataram o líder da gangue Maçom “Ti Makak” Silencieux e muitos de seus soldados, que haviam aterrorizado as zonas de classe média e burguesa de Laboule e Thomassin.
O jornalista Cyrus Sibert tuitou a fórmula para desbancar o movimento Bwa Kale: “A estratégia é simples”, aumente a pressão da multidão em sua base para obrigá-los a atirar, o que resultará no esgotamento de sua munição. E então ficarão à mercê das unidades de elite da Polícia Nacional do Haiti.”, isto é, nas mãos do imperialismo.
Os investimentos que o imperialismo faz na polícia haitiana demonstra a preocupação que estão tendo em manter a todo custo o controle no país, mas fica claro que as ações dos grupos de autodefesa da população é a forma correta de buscar a liberdade, o povo haitiano mais uma vez mostra como se faz.