Desde que o Haiti se afundou novamente em profunda crise econômica e social (ou melhor, foi afundado em crise pelo Imperialismo), e o controle político do país se fragmentou na disputa entre diversas gangues, centenas de milhares de haitianos buscam se refugiar em outros países, em especial na República Dominicana, país vizinho com o qual faz fronteira terrestre.
Esse grande fluxo migratório da população haitiana vem gerando uma crise social também na República Dominicana.
Em face dessa crise, o Presidente da República Dominicana, Luis Abinader se dirigiu à Assembleia Nacional no dia 27 de fevereiro de 2023, e tratou sobre o assunto em seu discurso de prestação de contas.
O presidente anunciou que no mês de maio deste ano ficará pronta a primeira fase da construção de um muro fronteiriço entre os dois países, com a extensão de 54 quilômetros, a fim de coibir a migração de haitianos para a República Dominicana.
Somada a essa medida, o presidente anunciou a deportação de 171.000 haitianos, em comparação às 85.000 deportações realizadas no ano de 2021, demonstrando o progressivo endurecimento da política migratória desde que chegou ao governo.
Conforme declarou o presidente “Nunca a situação de nosso país vizinho havia sido tão dramática. O Haiti é hoje um país devastado pela crise, com um Estado colapsado e uma comunidade internacional que se abstém de atuar”.
Intentando solucionar a questão migratória que vem provocando uma crise social na República Dominicana, o presidente fez um chamado para as forças políticas do país “apartarem o problema haitiano de nossa luta partidária para que cheguemos a um grande acordo nacional, a um pacto de país, que nos comprometa por nossas posições e que nos dê uma resposta unânime na defesa e proteção de nossa soberania”.
Luis Abinader diz ser necessária a “formulação e execução de políticas de Estado […] para enfrentar o processo de desnacionalização e sobrecaga de serviços pública essenciais, assim como o atraso na modernização e avanço tecnológico de áreas de produção estratégicas que comprometem seriamente aspectos da seguridade nacional”.
O que ocorre é que centenas de milhares de imigrantes haitianos vêm ocupando postos de trabalho por toda a República Dominicana, deixando os próprios dominicanos desempregados, forçando-os a emigrarem para o exterior. Assim, o país acaba sofrendo um processo de desnacionalização. Ademais, por mais que a República Dominicana seja um país atrasado, o Haiti se encontra em uma situação de maior atraso, dada sua grave crise econômica, política e social.
Assim, a imigração de haitianos e a consequente emigração de dominicanos promove o referido atraso na modernização e avanço tecnológico de áreas de produção estratégicas, tais como a agropecuária, a construção civil e outras atividades, pois a força de trabalho dos trabalhadores haitianos é menos qualificada.
Sendo menos qualificada, as empresas capitalistas privadas na República Dominica preferem a sua contratação, em especial realizando-a de maneira informal, o que também contribui para o desemprego de dominicanos, e para sua consequente emigração. Além de condições trabalhistas desumanas para os haitianos, que são obrigados a se submeterem a um trabalho extremamente precário.
Não bastando, o grande fluxo migratório de haitianos acaba por aumentar a população da República Dominicana. Afinal, por mais que haja fluxo emigratório de dominicanos, a grande maioria ainda continua a viver em seu país. Então, a migração de haitianos aumenta a população. Com o aumento da população, ocorre uma sobrecarga sobre serviços públicos essenciais, tais como hospitais e maternidades.
Em suma, este é o cerne da crise entre a República Dominica e o Haiti.
A profunda crise política, social e econômica na qual o Imperialismo jogou o Haiti (novamente) vem provocando um crescente fluxo migratório, em especial para a República Dominicana, país vizinho.
E agora, com o fluxo migratório, a própria República Dominicana, outro país atrasado, oprimido pelo imperialismo, passa a se afundar em crise.
Por sua vez, a solução adotada pelo presidente da República Dominica possui um caráter de um nacionalismo chauvinista, se voltando contra outro povo oprimido, através da construção de muro fronteiriço de contenção e de deportações, em vez de se voltar contra o Imperialismo, o real responsável por toda a desgraça que assola os dois países.
Eis aqui mais um exemplo de como o Imperialismo (inimigo de todos os trabalhadores, dos povos oprimidos de todo o mundo) joga um povo de um país oprimido contra o povo de outro país oprimido. Não é primeira vez que isso acontece, e certamente não será a última.