Nesta quinta-feira (6) completam-se 106 anos da repressão feita pelo governo provisório russo aos manifestantes das Jornadas de Julho ocorrida em 1917. Iniciada em 3 de julho, quando o Primeiro Regimento de Metralhadoras iniciou uma rebelião com o apoio de outras unidades militares, a série de eventos, narrada no livro “A História da Revolução Russa – Volume II, Tentativa de Contrarrevolução”, de Leon Trótski, coincidiu com a realização da Segunda Conferência Bolchevique da Cidade de Petrogrado.
Esse motivo e a participação de bolcheviques no levante violento, conforme afirma o próprio revolucionário em seu livro, fez com que o governo provisório responsabilizasse o partido Bolchevique, culminando na prisão de Trótski e na fuga de Lênin para a Finlândia.
Decerto, o que se conhece nos diferentes relatos é que a iniciativa pelas jornadas teve seu início com os diversos regimentos, apoiados pelas massas de trabalhadores, além da base bolchevique. Somente depois da manifestação armada nas ruas é que o Comitê Central se juntou ao movimento e recomendou que as manifestações continuassem.
“Embora o Comitê Central soubesse que os protestantes estariam armados, a recomendação não disse nada sobre uma insurreição armada ou sobre a tomadas das instituições governamentais. Ao contrário, a resolução oficial reiterava a defesa dos bolcheviques pela ‘transferência do poder para o Soviete de Deputados Operários, Soldados e Camponeses'”. É o que relata o pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet), da Argentina, Daniel Gaido.
Mesmo assumindo a liderança, o movimento de rua já andava com as próprias pernas e causou instabilidade dentro do próprio partido. Enquanto o Comitê Central, nas figuras proeminentes de Lenin e Trótski, defendiam o adiamento da revolução (sobretudo para que não ocorresse uma derrota definitiva da revolução), membros da Organização Militar e o Comitê de São Petersburgo eram favoráveis à tomada do poder.
Vale destacar, que depois da Revolução de Fevereiro e da abdicação do Czar Nicolau II, os sovietes, liderados pelos Mencheviques e pelos Socialistas Revolucionários, cederam o poder ao governo provisório. Esse evento aliado à decisão deste mesmo governo em prosseguir seu envolvimento na Segunda Guerra Mundial e postergar a reforma agrária, teriam sido os motores para o sentimento da tomada do poder.
O esforço empregado pelos revolucionários das Jornadas de Julho foi repreendido pelo Comitê Executivo central dos Sovietes e o Distrito Militar de Petrogrado, que empreenderam uma operação militar para retomar o controle da capital.
“Pela manhã do dia 6 de julho, os operários voltaram ao trabalho. Nas ruas, como manifestantes, não havia senão as tropas chamadas do front. Os agentes da contraespionagem verificavam os passaportes e procediam a detenções aqui e ali. Voinov, jovem operário que distribuía os Listok Pravda (panfletos do Pravda) que saíam em substituição ao jornal bolchevique empastelado na véspera, foi assassinado em plena rua por certa malta, talvez pelos mesmos agentes da contraespionagem. Os cem-negros, elementos da reação, compraziam-se em esmagar o motim. Pilhagens, violências, aqui e ali fuzilarias, perduravam em diferentes pontos da cidade. No correr do dia chegaram, de escalão em escalão, uma divisão de cavalaria, o regimento dos cossacos do Don, uma divisão de ulanos, o regimento Izborsky, o regimento Malorossinky, um regimento de dragões, e ainda outros mais”, narra Trótski, no capítulo 2 do livro “A História da Revolução Russa – Volume II, Tentativa de Contrarrevolução”.
Importante dizer que, além da destruição das instalações do Pravda e das prisões, alguns dos principais líderes bolcheviques tiveram que ir para clandestinidade. Esses acontecimentos quase desmantelaram o partido, que não se abalou com o revés e poucos meses depois, em outubro, empreenderam a bem-sucedida tomada de poder bolchevique.