O sindicato dos trabalhadores do setor automotivo americano, UAW (United Auto Workers), anunciou a expansão de suas greves contra as montadoras General Motors e Stellantis, controladora da Chrysler. No entanto, a entidade sindical informou progressos nas negociações com a Ford Motor, conforme declarado nesta sexta-feira (22).
Segundo o sindicato, mais 5.600 trabalhadores se juntaram à paralisação, elevando o total de grevistas para 13.200.
A greve será estendida para abranger os centros de distribuição de peças da GM e da Stellantis em todo os Estados Unidos, ampliando as greves simultâneas e sem precedentes que começaram em uma fábrica de montagem de cada uma das três montadoras de Detroit.
“Estaremos em todos os lugares, da Califórnia a Massachusetts, do Oregon à Flórida”, declarou Fain, porta-voz do sindicato. “A Stellantis e a GM, em particular, precisarão enfrentar uma grande pressão.” Fain também reconheceu que ainda há trabalho a ser feito nas negociações com a Ford.
O sindicato reivindica um aumento salarial de 40%, melhores benefícios, segurança no emprego, redução da jornada de trabalho para 32 horas por semana em quatro dias e melhorias nas aposentadorias. Nos últimos anos, os trabalhadores filiados ao UAW perderam benefícios, mesmo quando algumas empresas afirmaram estar à beira da falência. Durante a pandemia, houve redução salarial para os trabalhadores, enquanto os executivos receberam aumentos significativos.
Mesmo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, expressou seu “respeito” pela paralisação. Ele compartilhou: “Quando entrei em contato com as montadoras pela primeira vez, no primeiro dia de negociações, pedi a elas: ‘Por favor, coloquem na mesa o máximo que puderem para tentar resolver isso'”. Biden também reconheceu os lucros substanciais das montadoras e fez demagogia dizendo que acredita que elas deveriam ir além para garantir que esses lucros recordes se traduzam em acordos significativos para o United Auto Workers (UAW).
As ações da Ford subiram 3,7%, enquanto as ações da GM subiram 0,8%, embora esta última tenha reduzido seus ganhos anteriores após a notícia. A GM ainda não fez comentários sobre a situação, enquanto a Stellantis informou que continua a se reunir com o sindicato.
A Ford afirmou que as negociações ainda estão em andamento e que “ainda há muito trabalho a ser feito antes de chegarmos a um acordo.”
Vale ressaltar que a greve expandida não incluirá, por enquanto, as fábricas que produzem picapes altamente lucrativas, como a Chevy Silverado da GM e a Ram da Stellantis.
A greve teve início em 15 de setembro, com aproximadamente 12.700 trabalhadores abandonando as fábricas no Missouri, Michigan e Ohio. Essas fábricas são responsáveis pela produção de modelos como o Ford Bronco, o Jeep Wrangler e o Chevrolet Colorado, entre outros populares.
As montadoras GM, Ford e Stellantis afirmaram estar fazendo planos de contingência para lidar com possíveis novas paralisações de trabalho nos Estados Unidos.
Esta greve é notável porque marca a primeira vez na história do UAW que ocorre uma greve em várias fábricas simultaneamente, demonstrando a crescente união da classe trabalhadora. Essa mobilização tem um impacto significativo, já que a maioria dos trabalhadores filiados ao UAW não possui diploma universitário e depende dos acordos alcançados pelo sindicato para melhorar seu padrão de vida.
A migração para veículos elétricos (VE) também desempenha um papel importante nessa greve, devido a fatores econômicos e geopolíticos, incluindo a transição para tecnologias elétricas e redução de custos de produção. A mudança para VE pode resultar na perda de empregos na montagem e produção de peças automotivas, o que impactaria negativamente os trabalhadores se as condições de trabalho não forem mantidas. É importante notar que os patrões não pretendem arcar com os custos da transição energética e, em vez disso, planejam repassar essa carga para os ombros dos trabalhadores, tornando a greve ainda mais dramática em termos de suas implicações e desafios.
Estamos diante de uma greve operária de um tipo que não se via há muito tempo, com o potencial de desencadear uma onda de reivindicações trabalhistas em toda a nação.
Essa mobilização pode se tornar um confronto crucial para o governo de Joe Biden, independentemente do resultado. Se for bem-sucedida, poderá inspirar uma série de demandas operárias adicionais, colocando pressão sobre o governo. Mesmo que a greve seja derrotada, terá um custo significativo para o governo, pois a população e a opinião pública tende a se alinhar com os trabalhadores, o que pode prejudicar ainda mais a popularidade do Partido Democrata norte-americano.
A mobilização dos trabalhadores está desafiando o regime imperialista e mostra que a greve é uma manifestação significativa do poder da classe trabalhadora.