A saúde da gestante faz parte do pacote de medidas dirigidas à saúde materno infantil. A preocupação com esse tema é mundial e apareceu como meta dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis finalizados em 2015, que, por sinal, não foi atingida pelo Brasil, que ficou abaixo da meta pactuada. Atualmente, configura como meta na Agenda internacional 2030 do Objetivo 3 – Saúde e bem-estar – dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Em 2011, o Ministério da Saúde implantou a Rede Cegonha com o objetivo de organizar e regular ações e serviços para a gestante, desde o pré-natal até o parto, com vinculação prévia da unidade de saúde (maternidade) de referência para evitar que a gestante em trabalho de parto, ou com complicações, vague pela cidade ou vá para outros municípios em busca de atendimento. Para ofertar suporte a estes encaminhamentos existe um setor de regulação que encaminha a gestante para a maternidade que possui leitos e consequente atendimento.
Todo o aparato da Rede Cegonha não foi suficiente para evitar a negligência cometida pela equipe de plantão na maternidade Albert Sabin, em Salvador, quando, no dia 18 de julho, duas gestantes perderam os bebês ainda na barriga por falta de atendimento correto e oportuno.
A primeira vítima foi uma gestante de 26 anos, grávida do primeiro filho, que precisou ir três vezes à maternidade para ser internada. Nas duas primeiras, não teve o atendimento correto porque a ‘dilatação’ ainda era pouca. Foi orientada a caminhar para reduzir as dores e, após horas fazendo seu próprio cuidado, recebeu alta da maternidade. Quando retornou à terceira vez, já com fortes dores, também não foi atendida como deveria. O bebê, já em sofrimento na barriga, reduziu os batimentos cardíacos e nem assim os médicos procederam com a cesariana. O bebê, que era uma menina, faleceu na barriga da mãe e só foi tirado 9h depois pelos médicos porque estava sendo aguardada a mudança de plantão da equipe.
O segundo caso aconteceu no mesmo dia e no mesmo lugar. A gestante de 41 anos teve que ir duas vezes à maternidade para ser atendida. Na primeira vez, no dia 12, já sentia contrações, mas não foi internada porque, segundo a médica que a atendeu, ela não tinha dilatação suficiente. Quando retornou seis dias depois, a barriga já estava dura e a bebê, morta.
Diante do sucesso de vários partos realizados pela instituição, estas duas mortes, contatas em números, não significam muito. Foi isso que a Secretaria de Saúde de Salvador quis dizer quando lançou uma nota sobre o caso ressaltando os mais de 9 mil partos realizados pela maternidade desde janeiro deste ano. Porém, as famílias viverão com o “se” para o resto de suas vidas pelo mau atendimento de pessoas especializadas, contratadas para prestarem o serviço.
Estes dois casos abalam discursos demagógicos e políticos de valorização da mulher e proteção das crianças proferidos por vários políticos no Brasil, um golpe contra a política identitária que, nos casos que realmente importam, não mexem um dedo. Os casos dos dois bebês é concreto e retrata falhas na rede de cuidados para as mulheres gestantes, representam a destruição do sistema público de saúde.