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Rebelião na África

Golpe no Gabão é progressista e segue caminho do Níger

Junta militar acabou com dinastia que perdurava 56 anos

“Um clima de festas nas ruas”. Foi assim que Santiago Neltoh Mangomo, analista da Puerta de África, descreveu a situação no Gabão. O país localizado na África Central acabou de sofrer um golpe militar que pôs fim à dinastia dos Bongos, um governo de mais de meio século comandado exclusivamente por Omar Bongo e seu filho, Ali Bongo.

Pouco após o golpe, o povo saiu às ruas em celebração. As cenas de entusiasmo logo foram comparadas às comemorações após o golpe militar ocorrido há cerca de um mês no Níger. Assim como o Gabão, o Níger é uma semicolônia francesa e tinha, em seu comando, um funcionário do imperialismo francês. Não há como falar em Gabão e não recordar, portanto, da situação análoga no país localizado na região do Sahel.

As semelhanças entre o golpe no Gabão e o golpe no Níger levam qualquer analista a uma conclusão óbvia: a dominação francesa na África está desmoronando rapidamente. Quando levado em conta que países como Burquina Fasso e Mali também se rebelaram recentemente contra os seus colonizadores, o quadro se torna ainda mais definido.

Curiosamente, nas últimas 24 horas, têm surgido várias “especialistas” tentando demonstrar que, na verdade, um golpe não teria nada a ver com o outro. Obviamente, essas “teorias” vêm do próprio imperialismo, que se encontra cada vez mais desesperado diante da rebelião dos países africanos. Com as sucessivas derrotas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Ucrânia, com a onda explícita de golpes militares nacionalistas na África e com o deslocamento acelerado dos países do Oriente Médio em direção à Rússia e à China, não sobra outra alternativa ao grande capital que não a intriga e a mentira para tentar descredibilizar os seus adversários.

É o que a imprensa imperialista tem feito após a 15ª Cúpula dos BRICS. Diante do importante passo dado pelos países oprimidos rumo à constituição de um bloco político e potencialmente militar para resistir à ditadura dos países ricos, periódicos como o The Economist passaram a difundir as teses de que apenas a China foi beneficiada com o encontro e de que a expansão do bloco aumentaria as divergências entre os países. Pura intriga, repleta de sofismas, sem qualquer tentativa de séria de estabelecer uma análise sobre os acontecimentos.

No caso do Gabão, a situação é a mesma. Uns argumentam que a tomada do poder pelas Forças Armadas teria sido apenas um “golpe palaciano”. Afinal, o presidente de transição, Brice Clotaire Oligui Nguema, era membro da guarda privada de Ali Bongo e é primo do presidente deposto. Ora, mas o que a junta militar falou assim que o golpe foi anunciado? “Decidimos por um fim no regime atual”. Sendo que o tal “regime” não é um governo de quatro anos, estabelecido de maneira improvisada por Ali Bongo: é uma dinastia de mais de meio século de existência! Brice Clotaire Oligui Nguema e seus pares puseram fim a uma das dinastias mais longevas da África, de tal modo que até mesmo a imprensa internacional reconhece que a era de Ali Bongo chegou ao fim.

A junta militar também determinou a prisão do filho e conselheiro próximo de Ali Bongo, Noureddin Bongo Valentin, o seu chefe de gabinete Ian Ghislain Ngoulou, bem como o seu vice, dois outros conselheiros presidenciais e os dois altos funcionários do Partido Democrático Gabonense (PDG), sob as acusações de traição às instituições, enriquecimento ilícito, fraude e tráfico de drogas. E de onde viria a traição e o enriquecimento de Ali Bongo? Do próprio imperialismo francês. Assim como todos os chefes de Estado comprados pelo imperialismo, Ali Bongo era paparicado com dezenas de propriedades na França. Segundo reportagem do jornal francês Libération, Ali Bongo e sua família teriam 28 imóveis entre hotéis, apartamentos luxuosos e uma mansão de mais de 5,4 mil metros quadrados na França.

Qual seria o sentido de a junta militar denunciar a corrupção de Ali Bongo perante as autoridades francesas, se o objetivo seria manter “tudo como está”?

Outra intriga contra Nguema é a de que ele seria um homem do Departamento de Estado norte-americano. O que há de mais concreta nessa acusação é o fato de que ele foi citado numa investigação de 2020 do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), que alegava que alguns membros da família Bongo e o seu círculo íntimo compraram propriedades caras nos Estados Unidos com dinheiro do Estado gabonense. Se de fato for verdade, a única coisa que isso provaria é que Nguema teria participado de algum esquema de corrupção enquanto Ali Bongo era presidente – mas um esquema em que o elemento principal era o próprio presidente deposto. Por que, então, em um esquema que teria beneficiado toda a família Bongo, apenas Nguema teria sido cooptado com o objetivo de destituir Ali Bongo? Não faz absolutamente sentido algum.

De um ponto de vista geopolítico, a explicação de que Nguema seria um homem dos Estados Unidos serviria para levantar a seguinte hipótese: o golpe militar serviu para retirar a dominação da França e estabelecer o domínio norte-americano sobre o país centro-africano. Os defensores dessa tese alegam que os Estados Unidos teriam, portanto, dado uma espécie de “golpe preventivo” para impedir que a França provocasse mais uma rebelião com inclinações fortemente pró-Rússia e pró-China.

Não há nada que comprove essa tese. Todas as declarações das organizações imperialistas norte-americanas foram no mesmo sentido de condenar o golpe no Gabão. A Casa Branca publicou uma nota oficial à imprensa sobre o assunto, alegando que “os Estados Unidos estão profundamente preocupados com a evolução dos acontecimentos no Gabão” e que o país é “fortemente contrário às apreensões militares ou as transferências inconstitucionais de poder”.

Um golpe norte-americano no Gabão, a essa altura dos acontecimentos, não faria sentido algum. À exceção dos ideólogos que tentam desqualificar o golpe militar recente, praticamente todos que falam na situação do país centro-americano citam o Níger. Ou seja, o efeito causado por um golpe militar claramente anti-França logo após os golpes da região do Sahel é o de que há uma onda cada vez mais descontrolada de insurreições contra a dominação imperialista na África. O golpe no Gabão estimula os países que querem romper com o imperialismo a tomar uma iniciativa e, portanto, é um fator muito negativo para os Estados Unidos e para todos os países imperialistas.

Poucas horas depois do golpe no Gabão, Camarões e Ruanda realizaram verdadeiros expurgos em suas Forças Armadas. Muito mais que “análises” estapafúrdias dos “analistas” que querem diminuir o valor do golpe no Gabão, esses acontecimentos revelam que está se espalhando um pavor por todo o continente africano de que as Forças Armadas tomem o poder onde os governantes são prepostos do imperialismo.

Até o momento, a junta militar ainda não tomou nenhuma medida mais drástica contra a França, como fez o Mali, quando proibiu a língua francesa. No entanto, já é notável que o clima no país está ficando cada vez mais hostil ao país de Emmanuel Macron. Empresas importantes para a economia local, como a francesa Eramat, de mineração e metalurgia, já anunciaram o fim de suas atividades.

A União Africana, por sua vez, já decidiu suspender o Gabão da entidade.

Pela franca rejeição do imperialismo aos acontecimentos no Gabão e pelas reações em países como Camarões e Ruanda, não pode restar dúvidas de que o golpe militar tem um caráter progressista: é mais um ataque à já moribunda dominação imperialista na África.

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