O colunista de Brasil 247, Aquiles Lins, publicou uma matéria no portal intitulado “Raquel Lyra quer minar sectarismo do PSDB contra Lula” (9/12/2023), no qual o autor enaltece a iniciativa da governadora pernambucana Raquel Lyra (PSDB), após esta defender “que o PSDB se posicione pela independência, porque é um momento em que a gente precisa de muita cautela no Brasil”, acrescentando esperar que Lula “consiga alcançar a estabilidade necessária.” Segundo Lins, esta seria a “declaração é de alguém que não tem apenas relação institucional com o governo, mas que age em sintonia com os interesses do país”, revelando, no mínimo, uma ingenuidade incompatível com quem lida com as lutas políticas.
O próprio autor menciona o “histórico do PSDB na política brasileira nos últimos anos”, ao que acrescenta: “o PSDB foi praticamente dizimado, fagocitado pela extrema direita nas últimas eleições, numa decadência política que se intensificou quando o então candidato presidencial derrotado Aécio Neves não aceitou a derrota nas urnas para Dilma Rousseff em 2014, e engendrou, juntamente com Eduardo Cunha e o lado mais podre da política brasileira, um impeachment sem crime de responsabilidade, o que aqui chamamos de golpe.”
Ora, e qual seria a proposta de Lins? Ressuscitar o defunto para que o partido ache um novo Aécio Neves (nomes não faltam) e engendre outro golpe? A própria Lyra ganha pontos para desempenhar essa tarefa com a simpática matéria escrita pelo colunista de Brasil 247.
Lins pode não ter percebido, mas sua nota expõe o perigo que envolve a tentativa de reciclar o lixo político. Como destaca, foi o PSDB que articulou o golpe responsável por derrubar a presidenta Dilma Rousseff, colocar Lula atrás das grades e impor ao País – à revelia da vontade popular, diga-se de passagem – o programa do imperialismo para o Brasil, resultando em dois anos de governo Michel Temer (MDB) e quatro de Jair Bolsonaro (PL). Acaso estaria o autor com saudades do período a ponto de querer reviver tudo?
Bolsonaro e seus correligionários não foram mais do que espertalhões que souberam aproveitar a oportunidade aberta com o golpe. Quem organizou tudo foi o mesmo grupo político que Lins agora enaltece. O PSDB e os partidos da direita tradicional criaram o bolsonarismo para atingir o objetivo político do setor que representam: o imperialismo.
É incorreto, portanto, o autor falar em “sectarismo” do PSDB. O combate à esquerda e aos interesses contrários aos do imperialismo é a própria política dos tucanos. O autor menciona o fato de o partido imperialista ter governado o País durante oito anos, mas aparenta uma amnésia quanto ao que foi o período.
A “sintonia” do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) “com os interesses do País” foi tamanha que FHC, praticamente, colocou a nação em liquidação, escancarando a economia nacional à mais selvagem pirataria que o Brasil já sofreu, talvez em toda a sua história. Patrimônios nacionais como a Vale do Rio Doce, Petrobrás, Banco do Brasil e muitas outras empresas estatais foram entregues aos tubarões da agiotagem financeira internacional, em um verdadeiro crime contra o povo brasileiro.
O “sucesso” do neoliberalismo radical implementado por FHC empobreceu o povo em uma magnitude que, em 2001, cerca de 300 crianças morriam de fome. Por dia. A devastação generalizada da economia nacional colocou o País nas trevas do apagão, com mais de um ano de racionamento de energia. Teria o autor saudade desse período sombrio da história da nação?
Com um governo emparedado, a pior política para a esquerda é seguir a linha de Lins e, desprezando as próprias forças políticas, beijar as mãos de inimigos notórios do povo pobre e trabalhador. Tudo o que os tucanos querem, nesse momento, é usar a autoridade da esquerda sobre o povo para se reerguer, recuperar o espaço perdido pela ascensão do bolsonarismo e tudo isso para, no fim, fazer exatamente tudo o que já fizeram: organizar golpes, atacar os trabalhadores e entregar o País para os banqueiros, e demais monopólios internacionais.
Aliar-se com os tucanos, tão odiados pela população que acabaram renegados pelas massas da direita também, é o caminho certo para um desastre. Longe de imiscuir-se com os representantes do imperialismo puro-sangue, a esquerda deve denunciá-los, opor-se aos tucanos e destacar como suas diferenças com o bolsonarismo são mínimas. Ambos servem às potências imperialistas em primeiro lugar.
Após todas as turbulências e derrotas de 2016 até hoje, esquecer tudo o que aconteceu no País e “virar a página do golpe”, como propuseram alguns esquerdistas, sujará a esquerda com a lama desses direitistas fracassados. Em oposição, a verdadeira tática a ser adotada para fortalecer o governo é denunciar a tentativa torpe de Lyra para se reciclar sob a autoridade política de Lula. E manter a máxima distância de todo esse lixo radioativo, odiado por quase 100% da população brasileira.