O último período vem sendo palco de uma violência extrema por parte da polícia, com uma série de chacinas e dezenas de mortos pelo país, como pode ser observado na cobertura deste Diário. Ainda assim, talvez tão chocante quanto, ou até mais que o comportamento já esperado e reiterado das polícias, é a falta de denúncias por parte do conjunto da esquerda, seja nas redes ou nos jornais.
Quando se trata de atacar um negro pobre que enriqueceu através de seu trabalho, e representa o Brasil para o mundo, como Neymar, o melhor jogador e símbolo da luta contra o imperialismo para os povos do mundo. Vemos uma campanha generalizada contra o jogador, movida pela imprensa e seguida pela esquerda que entra numa verdadeira histeria. Agora, frente a uma verdadeira pilha de cadáveres, a indignação parece não estar presente. Denúncias tímidas, notícias chapa branca que mais parecem descrições, notas de pé de página, com raríssima exceção. No período de uma semana, entre 28 de julho e 4 de agosto, foram realizadas pela polícia ao menos seis chacinas no Brasil.
Nos sites próprios e no X (ex Twitter), rede social mais politizada, em geral, se vê pouquíssima ou nenhuma cobertura dos acontecimentos. Ao buscar pelos termos “chacina” e “policia” e “polícia” vemos a última publicação com um dos termos na seguinte ordem por data e conteúdo:
- Esquerda Online: no sítio, 4 de agosto, uma carta aberta republicada, denúncia das chacinas em SP, RJ e BA, no X, 3 de agosto, denúncia da chacina do Guarujá;
- CUT Brasil: 4 de agosto, denúncia da chacina do Guarujá;
- PSTU: 4 de agosto, denúncia da chacina do Guarujá, Rebeldia: janeiro;
- UNE: 3 (3 tweets) e 1 de agosto, entre denúncias da chacina do Guarujá e da violência da polícia como um todo;
- PSOL: 3 e 1 (matéria em seu sítio) de agosto, 31 de julho, todos denunciam a chacina do Guarujá;
- Esquerda Diário (MRT): no sítio, 2 de agosto, matéria destacada na capa do site denuncia a chacina do Guarujá, no X, 31 e 25 de julho, dois fios de tweets denunciando respectivamente a chacina do Guarujá e um assassinato, Faísca Revolucionária, 3 de agosto, fio de tweets sobre descriminalização das drogas, 2 de agosto, fio de tweets denuncia a chacina do Guarujá;
- PT: agosto, mas nenhuma publicação relacionada às chacinas, JPT: 2022;
- PCdoB: meio de julho, UJS: março;
- UP: meio de julho, A Verdade: 30 de julho, matéria do jornal contendo a denúncia de um assassinato, UJR: fevereiro, Correnteza: 2022;
- MST: 28 de julho, tweet sobre Lampião e Maria Bonita
- PCB: março, UJC: janeiro;
- Levante Popular da Juventude: 2022
Comparemos agora com a cobertura deste Diário no X, sendo a maior parte dos tweets, matérias inteiras:
- Diário Causa Operária: 5, 4 (2 tweets), 3 (2), 2 (6) e 1 (3) de agosto, 31 de julho, entre denúncias principalmente da chacina do Guarujá, mas também da chacina no Rio de Janeiro e das chacinas na Bahia, além de denúncias da polícia como instituição;
Vemos, com esta breve pesquisa, que a maior parte das organizações da esquerda fez menos tweets na última semana denunciando as chacinas, do que a polícia fez chacinas.
É preciso romper a paralisia da esquerda. Urge organizar, mais do que simplesmente uma cobertura (ou um ato burocrático sem convocação real, como foi feito), o movimento operário, em uma campanha pelo fim das polícias, pelo fim do aparato de repressão do Estado.