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Argentina

“Frente ampla” foi o que elegeu Milei

Se os esquerdistas não querem repetir a reviravolta na Argentina, é preciso colocar a cabeça no lugar, olhar as lições da história e afastar-se dos setores falidos da direita

No X (antigo Twitter), Ricardo Cappelli, ex-filiado ao PCdoB e atual Secretário-Executivo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, e Alberto Cantalice, membro da direção do Partido dos Trabalhadores, usaram o resultado de diversas eleições ao redor do continente para defender a política de “frente ampla”, cuja premissa principal é unir setores da esquerda com direitistas falidos no momento de crise dos segundos. “Centro-direita vence no Uruguai. Extrema-direita vence as eleições constitucionais no Chile. :Peru vive grave instabilidade institucional. Centro-direita vence no Equador.  Extrema direita vence na Argentina. Trump volta a liderar nos EUA. Frente Ampla é necessidade histórica”, escreveu Cappelli.

Cantalice, por sua vez, defendeu a proposta, comentando que o oposto a isso seria “flertar com o caos”:

“É a pura verdade. Não apostar na Frente Ampla é flertar com o caos. Estamos em um limiar de construção de um compromisso histórico das forças democráticas no mundo. Fora disso é abrir espaços para o extremismo de direita.”

Basicamente, o que ambos consideram de maneira um tanto esquemática é que se, em 2014, Aécio Neves teve 51 milhões de votos nas eleições presidenciais daquele ano e a então candidata petista reeleita, Dilma Rousseff, teve 54 milhões, bastava à Rousseff ter se unido ao tucano, por exemplo, para impedir o golpe, já que PT e PSDB unidos representam 105 milhões de votos.

Tal união, contudo, só seria possível mediante o abandono de um programa consequente na defesa dos trabalhadores. Um raciocínio tortuoso cuja ineficácia em relação aos fins que propõe pode ser atestada por diversos episódios históricos, desde os mais antigos aos mais recentes.

Em 1936, após derrotar a insurreição franquista nas principais cidades espanholas, a adesão às frentes populares propostas pelo stalinismo aos comunistas espanhóis levou ao sufocamento da Revolução Espanhola e a uma das mais longevas ditaduras fascistas da Europa: a do general Francisco Franco, durando de 1938 (quando a revolução é definitivamente derrotada) a 1975. Se em uma das primeiras experiências com a “solução” defendida por Cappelli e Cantalice, o saldo político foi esse, as posteriores não são nada melhores.

No Brasil, a campanha pelas “Diretas Já”, ocorrida no fim da Ditadura Militar, colocou a classe trabalhadora a reboque da ala esquerda do regime militar, levando a uma sobrevida da ditadura e a elaboração de uma Constituição meramente protocolar. Nos dois primeiros dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, a união entre os setores mais conservadores da esquerda com os setores mais frágeis da direita, longe de garantir a capacidade do governo atuar (a chamada “governabilidade”), tornou o governo petista um governo de crise constante.

Em sua volta ao Planalto Central, Lula encontra-se em uma armadilha, incapaz de implementar a política pela qual foi eleito por um veto daqueles que se diziam democratas e que hoje o impedem de governar. Mais um caso diretamente relacionado à ideia da governabilidade, que parece funcionar como um atalho quando, se considera os campos, mas que é, na realidade, uma armadilha que termina por impedir a verdadeira capacidade de governar, na medida em que o governo é submetido a diversas pressões.

Esse aspecto, finalmente, deve ser bem lembrado porque ainda que os dirigentes petistas tenham sido acometidos por um lapso de memória, o próprio presidente eleito da Argentina, Javier Milei, é resultado do fracasso da “frente ampla”. Na época em que se deu a aliança entre o direitista Alberto Fernández e a ex-presidente Cristina Kirchner, não faltou quem elogiasse o acordo, apontando-o como o caminho a ser seguido pela esquerda brasileira. Um contumaz crítico do kirchnerismo, Fernández não apenas recebeu o apoio da esquerda argentina, como foi alçado à condição de líder da coalisão, o que permitiu, durante as eleições, unir a grande base social de Kirchner com uma campanha menos ferrenha da imprensa pró-imperialista.

Na prática, o governo passou os últimos quatro anos mergulhados em crise, sem conseguir atender a burguesia e menos ainda atender às massas trabalhadoras, resultando em uma máquina ingovernável. Da crise constante em que viveu a Argentina no período, surgiram as desgraças que levaram uma parte da população a realmente ver em Milei uma possibilidade de mudança.

Nas eleições brasileiras de 2022, tomando-se como verdade o que dizem as pesquisas de intenção de votos, a aproximação do PT com a direita, longe de levar a um crescimento, levou a uma debilidade eleitoral que quase o levou a ser derrotado por Bolsonaro.  Na Argentina, a continuação da “tática genial” de unir Fernández e Kirchner terminou em Milei. É o que desejam para o Brasil, Cappelli e Cantalice?

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