Participando num fórum jurídico em Lisboa, num painel com o sugestivo nome de “Riscos para o Estado de Direito e Defesa da Democracia”, o ministro da Justiça, Flávio Dino, segundo informações do portal Poder 360, afirmou que há “uma mudança na ordem política global que disputa com a hegemonia exercida por Europa e Estados Unidos” e “há um deslocamento de poder para Ásia”.
Até aí, a afirmação de Dino é apenas uma constatação. O interessante é a conclusão tirada pelo ministro do governo Lula. Segundo ele, tal mudança é “um risco para a democracia mundial.”
Isso porque, ainda segundo Flávio Dino, os “países asiáticos não ‘vivenciam’ modelos ‘assentados na democracia ocidental’, como sistemas baseados em múltiplos partidos políticos e realização de eleições.”
Grosso modo, o ministro do governo Lula, no momento em que o presidente enfrenta talvez a maior oposição por parte do imperialismo, defende a “democracia do Ocidente”, contra as “ditaduras asiáticas”.
A declaração profundamente pró-imperialista esclarece também as posições de Dino no que diz respeito à regulação das redes sociais. Sua política é orientada pelo que defende o imperialismo. No mesmo evento, Dino reforçou sua posição de censura.
A declaração de um ministro do governo Lula repetindo exatamente o discurso do imperialismo norte-americano e europeu sobre a “ditadura asiática”, ou seja, China e Rússia seriam ditaduras, enquanto os verdadeiros democratas seriam os EUA e a Europa, está em sintonia com uma série de artigos que apareceram na imprensa internacional contra Lula.
O órgão francês, Libération, na semana passada, afirmou que Lula é uma “decepção” e um “falso amigo do Ocidente”. Na mesma semana, um artigo no sítio da Global Americans, organização ligada à CIA, dava o tom de como o imperialismo vê as ações internacionais do governo Lula:
“Assustadoramente, a aposta de Lula na Unasul é apenas a ponta do iceberg de sua orientação perigosamente radicalizada. Lula também está colaborando com a China e a Rússia para expandir o BRICS para incluir seus vizinhos, o governo iliberal peronista na Argentina, o governo anti-EUA ditatorial de Maduro, assim como o Irã e a Arábia Saudita. Este último estaria particularmente cheio de dinheiro do petróleo para financiar causas antiocidentais.”
Segundo a constatação de um órgão ligado ao imperialismo, Lula, para usar as palavras de Flávio Dino, está se aproximando da “hegemonia asiática”.
O tom da organização ligada à CIA é o de que EUA e Europa devem considerar Lula como um inimigo.
A declaração de Dino, dias depois desses fatos, está em sintonia perfeita com o que está dizendo o imperialismo. Dino nem se preocupou em disfarçar a sua posição. Ele age como um sabotador interno do governo, indo na contramão do que Lula vem fazendo e, mesmo que indiretamente, condenando a política externa do próprio governo do qual faz parte.