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Falsificações da história

Fernão Dias ou Paulo Freire? Uma oposição que só favorece a direita

Concepções anti-nacionais da esquerda pequeno-burguesa alimentam as provocações da direita como a que fez Tarcísio Freitas

Ganhou destaque na imprensa a decisão de Tarcísio Freitas, governador bolsonarista de São Paulo, de trocar o nome de uma futura estação de metrô da linha 2 de Paulo Freira para Fernão Dias. Tal ação é nitidamente uma provocação típica da direita que espera, com isso, fazer propaganda ideológica contra a esquerda.

O problema é que esse debate é muito mais complexo do que parece à primeira vista e, em grande medida, foi gerado pela própria incompreensão da esquerda pequeno-burguesa da história do Brasil. Essa incompreensão fica bem explícita em artigo publicado no último dia 15 de março no sítio Esquerda Diário, chamado: “Nenhuma homenagem aos reacionários bandeirantes! Viva Paulo Freire!”.

Opinião parecida à contida no artigo foi expressa por várias pessoas de esquerda diante da notícia sobre a provocação de Tarcísio. Conforme mencionamos acima, é uma clara provocação bolsonarista, mas a esquerda responde de maneira errada, dando mais munição para a direita.

Em vez de explicar que não há nenhuma necessidade de trocar o nome de um pelo outro, que existem coisas suficientes para serem nomeadas, o artigo entra no mérito de qual homenageado é melhor: Paulo Freire ou Fernão Dias?, alimentando a política reacionária de Tarcísio.

Haveria vários ângulos possíveis para se fazer a crítica, um deles seria mostrar justamente que não há essa contradição, e que é possível homenagear tanto um quanto o outro. Tarcísio, um inimigo do povo e da educação, criou essa dicotomia para atacar a população.

No entanto, o que a esquerda faz não é isso. O artigo envereda para uma visão unilateral, distorcida e anti-marxista do fenômeno do bandeirantismo.

O artigo diz o seguinte: “o novo governo já se adiantou em mudar o nome da estação, removendo o nome do patrono da educação brasileira, um dos intelectuais mais reconhecidos mundialmente, e substituindo pelo nome de uma figura execrável da história brasileira, Fernão Dias, o latifundiário bandeirante assassino responsável pelas expedições que expropriaram as riquezas do território dos nativos, que capturou milhares de indígenas para comercializá-los ou escravizá-los nas suas fazendas. Isso poucos dias depois de inúmeras denúncias de trabalho escravo no país.”

O artigo chama Fernão Dias de “figura execrável” e descreve características do bandeirante que são ou falsas, ou distorcidas. Somos obrigados, com isso, a retomar o debate sobre o fenômeno do bandeirantismo, tão atacado por uma esquerda que está afundada até o pescoço numa concepção reacionária da história.

Atribuir a Fernão Dias Paes Leme, que viveu no século XVII, como única característica uma espécie de instinto assassino é desconhecer factualmente a história do Brasil e, mais ainda, é uma tentativa anti-marxista, portanto anti-dialética e anti-materialista, de analisar a história.

Do ponto de vista dos fatos, atribuir aos bandeirantes, Fernão Dias incluído, a função primordial de escravizar e dizimar os índios é não conhecer a história. Esse aspecto, embora seja verdadeiro, não é o mais importante. Como homens do século XVII, os bandeirantes estavam atrás de pedras preciosas e outras riquezas e se aventuraram pelas terras desconhecidas do que depois virá a ser o Brasil. Com isso, acabaram cumprindo um papel histórico fundamental para a formação do nosso país, tanto do ponto de vista social quanto territorial.

A ideia unilateral de que os bandeirantes seriam apenas e tão somente escravizadores e assassinos de índios é tão falsa quanto atribuir à burguesia em ascensão apenas e tão somente sua característica de exploração econômica.

Para entender melhor, vejamos o que Marx diz sobre o desenvolvimento do capitalismo:

“O descobrimento da América, a circum-navegação de África, criaram um novo terreno para a burguesia ascendente. O mercado das Índias orientais e da China, a colonização da América, o intercâmbio [Austausch] com as colónias, a multiplicação dos meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à indústria, um surto nunca até então conhecido, e, com ele, um rápido desenvolvimento ao elemento revolucionário na sociedade feudal em desmoronamento.
(…)
“A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário.” (Manifesto do Partido Comunista, 1848)

Para Marx e Engels, não apenas a burguesia, não apenas o capitalismo, mas a própria colonização da América cumpriram um papel revolucionário. A concepção da história para os marxistas não é moral. A história é como é. A moral de hoje não pode modificar a história.

O artigo do Esquerda Diário faz o oposto. Primeiro, atribuiu aos bandeirantes, pessoas que viveram quatro séculos atrás, a moral atual. Segundo, ao fazer isso, ocultam a importância histórica do fenômeno, independente das considerações morais que se possa fazer dele. Os bandeirantes foram os principais construtores do Brasil como conhecemos hoje, negar importância disso não é apenas uma opinião.

Se negamos a importância do território nacional e da própria formação do povo brasileiro, estamos abrindo a porta para uma política que justifica a divisão do país e a dominação por potências estrangeiras. Quem serão elas? Se o Esquerda Diário se considera marxista, deve saber muito bem que as potências imperialistas estão de olho no Brasil, como sempre estiveram.

Essa posição demostrada pelo Esquerda Diário é repetida por setores da esquerda pequeno-burguesa influenciados justamente pelo identitarismo, uma ideologia reacionária, criada nos escritórios e universidades imperialistas. Essa ideia transforma a história do Brasil num amontoado de crimes, como se toda a história nacional fosse um grande campo de concentração nazista. Como dissemos, essa ideia não é apenas falsa, mas perigosa, pois abre espaço para uma política anti-nacional e pró-imperialista.

É essa concepção que está alimentando provocações como a que fez Tarcísio Freitas, assim como ações como a queima da estátua de Borba Gato. A esquerda, em vez de se colocar ao lado do povo brasileiro, e de defender, mesmo que de maneira crítica, as conquistas históricas do Brasil, se presta a avacalhar o próprio País e enfraquecer sua unidade.

Paulo Freire pode e deve ser homenageado. A tentativa de retirar seu nome a história e apagar essa homenagem é um sinal de barbárie da extrema-direita. Mas a esquerda não pode cair no mesmo erro.

A ignorância, imperando tanto na direita, como na esquerda pequeno-burguesa, nos faz pensar que estamos em falta de professores competentes para ensinar a história do Brasil.

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