A guerra dos Estados Unidos contra a Rússia, utilizando a Ucrânia como território de um conflito por procuração, levou a diversas transformações econômicas muito rápidas, especialmente pelo fato dos países atrasados terem conseguido se reorganizar do ponto de vista geoestratégico, recalibrando suas orientações em face às sanções à Rússia, China, Irã, Coreia do Norte, Cuba, Nicarágua dentre outros países, inclusive o Brasil, no caso da negativa em enviar armas à Ucrânia para a parte da guerra do fantoche Scholz contra Putin.
O resultado de uma profunda guerra econômica de sanções, a fim de impulsionar o complexo militar dos Estados Unidos e a tomada da indústria de chips de Taiwan pelo imperialismo, segue-se uma crise econômica sem precedentes na Europa, que tem como resultado a fome e a miséria no velho continente. Com isso, diversas empresas europeias estão perdendo escala de produção por causa da crise energética. Um dos casos mais curiosos é a estatal Volkswagen, empresa que tem sofrido com escândalos tentando “driblar” a ditadura verde alemã.
A indústria automobilística é importante fator para desenvolvimento de cadeias de produção complexas, que vão da mineração à indústria de informática, empregando milhões de pessoas no mundo de forma direta e indireta, além de ser uma representação da industrialização, progresso e desenvolvimento dos países que as originam, muito embora processos de fusão e aquisição mudem momentaneamente a sede de país, o controle jurídico sempre fica em torno da tríade composta pelo condomínio imperialista, ou seja, Estados Unidos, parte da Europa Ocidental (especialmente Alemanha, França e Reino Unido) e Japão.
A indústria capitalista depende, em grande medida, do desenvolvimento da indústria automotiva, pois dela deriva questões de planejamento, política ambiental, política de petróleo e geopolítica, além de como a indústria mais avançada se combina com a indústria informática e mobilidade humana e de mercadorias e serviços. Em suma, os países que detêm essa tecnologia, detêm controle avançado nos setores financeiros, serviços e as diversas indústrias do mundo.
Nas últimas três décadas, a China tirou proveito da política intervencionista aprofundada com a queda da União Soviética, do Pacto de Varsóvia e da Queda do Muro de Berlim para alavancar uma estratégia de avanço no campo automotivo, e tem levado vantagens significativas principalmente nas cadeias dos microchips, nanotecnologia e até mesmo a exportação e fabricação de carros em território europeu.
A própria economia verde, vendida pelos Estados Unidos (que nunca cumpriram acordo nenhum sobre o ‘clima’) e endossada pela Europa, acabou produzindo um grande atraso no desenvolvimento das cadeias produtivas mais avançadas, mesmo que essa exploração ocorresse em territórios oprimidos, os custos de transação, de circulação, de mão de obra, inflação subiram a um ponto que greves e férias coletivas viraram rotina, sem contar veículos se deteriorando nos pátios.
A Volkswagen é um grande conglomerado industrial automobilístico da Europa, que já foi uma grande marca, há alguns anos tem se mostrado pouco competitiva comparado às outras marcas (600.000 trabalhadores da VW para produzir 10 milhões de carros, enquanto Hyundai com 70.000 trabalhadores produz 4 milhões), está atrasada nos carros elétricos e está perdendo mercado para o Elon Musk. Embora ela ainda tenha o maior mercado (10 milhões de carros), a Volkswagen enfrentará a forte concorrência chinesa sem a energia barata da Rússia. Isso indica a uma grave crise profunda na Volkswagen de curto a médio prazo.
Chery
A montadora chinesa Chery pode, em breve, iniciar produção em uma antiga fábrica da Volkswagen em Kaluga, a sudoeste de Moscou. De acordo com o Kommersant, há um acordo quase completo para vender os ativos russos da montadora sul-coreana Hyundai Motor. Ou seja, o abandono de capital fixo na Rússia está sendo confiscado.
A Volkswagen, juntamente com outros grandes fabricantes de automóveis estrangeiros, suspendeu as operações na Rússia no ano passado, quando os países ocidentais impuseram sanções sobre o conflito na Ucrânia. Sua principal fábrica em Kaluga, com capacidade para 225.000 veículos por ano, ficou ociosa enquanto a montadora alemã tentava vender seus ativos russos.
De acordo com a RT, atualmente, a Volkswagen está solicitando às autoridades russas aprovação para vender sua participação no Volkswagen Group Rus, que inclui a fábrica em Kaluga com mais de 4.000 funcionários, “a um investidor russo confiável”. A empresa não deu detalhes sobre o acordo, mas os meios de comunicação nomearam o revendedor de carros russo Avilon como um possível comprador.
O acordo não foi afetado por uma disputa legal entre a montadora russa GAZ e a Volkswagen, que resultou no congelamento de todos os ativos russos da montadora alemã, de acordo com o Kommersant. Em março, a GAZ alegou que a retirada da Volkswagen colocava suas operações em risco e entrou com uma ação judicial pedindo 15,6 bilhões de rublos (US$ 201,3 milhões) em danos sobre o contrato rescindido.
A Chery tem conversado com a Rússia sobre a localização da produção desde o verão passado, e agora está pronta para lançar a montagem de carros na fábrica de Kaluga. A Hyundai, que também suspendeu a produção na Rússia no ano passado, pode vender sua unidade de fabricação em São Petersburgo para uma empresa automobilística no Cazaquistão. O acordo está nos estágios finais e pode ser assinado já em junho, disse o veículo.
As empresas chinesas vêm ocupando o vácuo deixado na Rússia desde as sanções para se fixar com aporte tecnológico. Essa crise coincide com a política dos Estados Unidos em enfraquecer a Europa para promover uma “sirialização” e desorganizar o velho continente. No caso da Volkswagen, que oscilou durante a última década, chegou a aportar 75% de ações na compra da chinesa JAC em 2020, mas que acabou servindo somente para obter vantagens tecnológicas, pois a JAC entrou em profunda crise antes mesmo de sua holding, levando ao fechamento de diversas unidades no mundo, inclusive no Brasil.
O corte no fornecimento do gás russo e a crise
A questão do gás continuará impactando a economia europeia. Conforme o Banco Central Europeu, com o estancamento dos preços do petróleo e do gás (já comprados pouco a pouco por países europeus), a previsão do índice de preços ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês) da zona do euro subirá 5,6% em 2023, ante projeção anterior de 6,1%. Já a Rússia, alvo direto das sanções, de acordo com Banco Central, a inflação anual regressará a 4%. “Em abril, a taxa de inflação anual continuará a diminuir devido ao alto efeito de base da primavera passada. No segundo semestre, à medida que os baixos valores dos aumentos mensais no segundo semestre de 2022 saírem do cálculo da inflação anual, esse indicador aumentará ligeiramente”, diz o material do Banco Central “Dinâmica de Preços ao Consumidor: Fatos, Estimativas, Comentários (março de 2023)”. (Jornal Kommersant)
A produção de petróleo e gás, com o enfrentamento das sanções no comércio com países como China e Irã, dentre outros, também é fator para diminuição da inflação na Rússia frente aos atuais rivais europeus. A frieza com que a Rússia abordou a questão, assim como a criação de linhas de saída para a crise, num novo cenário com o fortalecimento dos BRICS com o retorno do Brasil ao grande jogo da geopolítica internacional, levará o imperialismo numa rota de colisão com a fome, o desemprego e a miséria para dentro de suas fronteiras. A reorganização das cadeias de produção de automóveis utilizando os grandes países retardatários, porém potencialmente importantes do ponto de vista produtivo, poderá aprofundar os problemas para a Volkswagen e outras corporações do imperialismo. O melhor momento para a desacoplamento dos circuitos produtivos do imperialismo poderá ser agora, mas não será fácil, há um longo caminho pela frente, mas sinais estão sendo emitidos com ecos em diversos países oprimidos.