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Afonso Teixeira

Tradutor, formado em Letras pela USP e doutorado em Linguística com tese em tradução. Tem formação como músico, biólogo e cientista político.

De mãos atadas

Europa – berço e túmulo da civilização

A criação da União Europeia e a expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tiraram boa parte do poder que os governos de nações autônomas possuíam.

Civilização é um conceito europeu. Não significa, porém, que apenas a Europa, em seus primórdios, fosse civilizada. Outras civilizações houvera e desapareceram, eliminadas pelo andamento do tempo.

Egito, Suméria, Assíria, Cartago, todas sucumbiram. Apenas Roma, herdeira de gregos e etruscos, prevaleceu. E, como todas as outras, teve seu fim. Deixou de herança, para o futuro, um determinado conceito de civilização. E o temos até hoje.

A ascensão da burguesia reimplantou em grande parte do mundo a república, moldada por Roma. E, ainda que, em muitas partes da Europa, monarquias sobrevivam, servem apenas para fantasiar a estrutura republicana que é, de fato, o que predomina na Europa.

Toda monarquia europeia tem o seu parlamento e a divisão de poderes, que já existiam em Roma. Desde as revoluções burguesas de 1688 (Grã-Bretanha), 1776 (Estados Unidos) e 1789 (França), a república vem moldando o mundo. Transferiu-se para as colônias americanas e, aos poucos, foi-se estendendo ao resto do mundo. Onde houve reação, foi imposta pela força.

Hoje, no século XXI, essa forma de governo encontra-se desgastada. As nações europeias, mães dessa forma, estão perdendo a força e o poder. Os governos já não atendem mais a vontade do povo e encontram-se manietados.

A criação da União Europeia e a expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tiraram boa parte do poder que os governos de nações autônomas possuíam.

O poder está, de fato, em Bruxelas, sede do governo europeu e sede da OTAN. Mas não pertence à Bélgica e a nenhuma nação europeia. A OTAN é controlada pela burocracia militar norte-americana. A UE, pelos principais bancos europeus, sobretudo os alemães.

Para que um Estado europeu faça parte da União Europeia, deve abrir mão de parte de sua governabilidade e ater-se a uma série de exigências. A mais grave de todas é o país participante abrir mão de cunhar a própria moeda. O caso mais sintomático disso foi a falência da Grécia. Incapaz de pagar suas dívidas, foi sancionada com uma série de medidas que chegaram ao ponto de entregar a bancos parte de sua produção e privatizar sua indústria de turismo, principal fonte de arrecadação do país. Chegará o momento em que o país não terá mais como pagar nem como arrecadar.

Quanto à OTAN, vem expandindo suas fronteiras para Leste, incomodando um Estado soberano, como a Rússia. Todos os países que antes estavam sob a proteção da União Soviética, com exceção da Sérvia, filiaram-se à Organização. Entre os Estados que se desgarraram da União Soviética, três aderiram (os Estados do Báltico) e dois querem filiar-se (Ucrânia e Geórgia). A ideia é que todos os Estados europeus se unam à entidade para enfrentar a Rússia. Além disso, a ação da OTAN não se restringe à Europa, pois visa outro inimigo do outro lado do mundo, a China.

O grande problema disso tudo, é que a ação militar dos Estados Unidos – que é, de fato, quem controla e se beneficia da Organização – afeta a Europa mais do que a beneficia. E isso fica bem claro no cenário atual da ação militar russa na Ucrânia.

A OTAN objetivou, com sua política ambígua em relação à Ucrânia, criar uma guerra sob procuração contra a Rússia. Pretendia destruir o país em poucas semanas. Não deu certo. Agora, a guerra se tornou uma guerra não declarada entre a Rússia e a OTAN, pelo domínio da Ucrânia. Mas quem paga a conta dessa guerra é a própria Europa.

É certo que os Estados Unidos enviam armas e dinheiro para a Ucrânia (e para a OTAN), mas isso não lhes custa quase nada. Diferentemente de qualquer outro país no mundo, os Estados Unidos podem emitir dinheiro quando e quanto quiserem que isso não terá o mesmo efeito inflacionário sobre eles que tem em outros países.

Como o dólar, a moeda norte-americana, é a moeda de trocas internacional, todos os países do mundo possuem reservas dessa moeda e fazem suas trocas internacionais utilizando-a. Quando os Estados Unidos enviam dinheiro para a Ucrânia, o mundo inteiro paga.

E quanto ao Euro? O Euro tornou-se uma moeda de troca internacional que compete com o dólar. Afeta-lhe a hegemonia, mas não compromete o seu poder. As medidas econômicas que a Europa tomou contra a Rússia tiverem efeito diverso. Afetaram mais a estabilidade do Euro do que do Rublo, o qual, contrariamente ao que ocorreu com o Euro, valorizou-se.

Mas o maior problema é que o congelamento dos ativos russos pela Europa fez com que o mundo perdesse a confiança no Euro e, ainda mais, nos bancos europeus. Isso afetou também os bancos suíços, tidos historicamente, como um lugar seguro para qualquer pessoa, física ou jurídica, depositar o seu dinheiro.

O principal comércio da Europa com a Rússia é o comércio de gás e de petróleo, além de outros minérios de importância estratégica. Mas o gás é o principal ativo, pois envolve não apenas a empresa russa Gazprom, mas também empresas europeias.

Agora, aproxima-se o inverno. O corte de gás russo em alguns países vem afetando toda a economia e a vida das pessoas. Na Bélgica, por exemplo, o gás residencial teve aumento de 1.070 por cento (mil e setenta por cento), ou seja, subiu mais de dez vezes. Para se ter uma ideia (isso foi medido no contador), um banho de 5 minutos, está custando 10 euros. Para deixar a temperatura da casa em 18 graus (o que para nós é frio), custa 60 euros por noite.

Quem aguenta pagar uma conta dessas. Há pessoas que estão recebendo uma conta suplementar de 6500,00 Euros (a conta suplementar é a diferença entre o que a pessoa pagou no ano e o que gastou a mais).

O preço do petróleo também aumentou. No mesmo país, um litro de gasolina custava 1,40 euro e agora já custa 2,00 euros.

E para conter esses gastos, os governos planejam dar um auxílio combustível para as famílias, o que não resolve, apenas adia o problema. Mas, se resolve, resolve apenas em parte, pois tudo o que depende de transporte também aumenta.

Os governos, além de terem de arcar com o custo de vida das famílias, terá de lidar também com uma leva de sete milhões de imigrantes ucranianos. A guerra, de fato, está levando a Europa à falência. O Euro desvaloriza, os governos caem. Mas os governos que sobem, entram com a mesma política do anterior, apenas para cair novamente.

E, ao fim e ao cabo, quem está pagando pela guerra, com dinheiro, é o povo europeu, e o povo ucraniano com vidas. Quando terminar o conflito, teremos uma Ucrânia morta e uma Europa agonizando.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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