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Fora de foco

Esquerda Online não entende quem é o alvo da extrema-direita

O Esquerda Online tenta colocar a luta pelos direitos das minorias como o debate central da sociedade desde 2010, um completo engano

Bandeira LGBT

Matéria no Esquerda Online “Inimigas públicas: a caça às travestis pós-Bolsonaro”, busca colocar a perseguição às minorias sexuais como o tema central do luta política ou principal alvo da extrema-direita, mas isso não corresponde à realidade.

O texto diz que Desde 2010 os temas de gênero e sexualidade são eixos fundamentais do debate público em um conflito entre a luta por direitos das mulheres e LGBTQIA+ e a perseguição opressora da extrema-direita. A própria realidade refuta essa tese.

A grande imprensa, a mando do imperialismo, fechou o cerco sobre as gestões petistas em função de sua política sobre o petróleo, notadamente o Pré-sal, e a diminuição dos juros. Em 2012, o New York Times reclamava de Dilma Rousseff, de sua política para a Petrobrás, e elogiava o período FHC, muito menos protecionista.

Após o golpe de 2016 (com Supremo, com tudo), todas forças da extrema-direita estavam centradas em desnacionalizar o petróleo, privatizações, restabelecer a rapinagem dos bancos por meio da elevação dos juros e aumento da dívida pública e, principalmente, eliminar os direitos trabalhistas e acabar com a Previdência.

Os temas de gênero e sexualidade sempre foram laterais. A extrema-direita os utilizou apenas para atacar o PT e conseguir adeptos dentre os evangélicos e porções mais conservadoras da sociedade e com isso impor derrotas à classe trabalhadora.

E o PT?

O texto critica, até com certa razão, a omissão do PT com relação ao direito ao aborto, por exemplo. Vejamos: A eleição de Dilma Rousseff com sua “Carta ao povo de Deus” em 2010 já dá o tom do que viriam a ser os anos subsequentes: a carta afirmava um compromisso do governo em não avançar com pautas como a legalização do aborto, a união estável LGBT, prometia manter o compromisso de fazer da família o foco principal de seu governo.

A não defesa do direito ao aborto nas campanhas eleitorais é muito anterior a 2010, podemos dizer que é desde sempre. O PT, temendo perder votos, nunca levou adiante essa reivindicação. A própria fundadora do PSOL, Heloísa Helena, era militante contra o aborto.

Lemos no mesmo parágrafo que Foi nesse espaço, deixado pela recusa do PT em disputar até o final pautas democráticas fundamentais dos setores oprimidos na sociedade, que a extrema-direita cresceu e se fortaleceu ainda sob os governos petistas. Essa afirmação é parcialmente verdadeira. O crescimento da extrema-direita não pode ser creditado ao PT, mas a uma política deliberada, internacional, da burguesia. Em todos os países houve crescimento da extrema-direita.

“Kit gay”

O problema do “kit gay”, o uso que a extrema-direita fez desse assunto, poderia ser facilmente debelado pela imprensa, que nunca se empenhou e desfazer essa mentira. O que mostra que os fascistas estavam sendo protegidos e impulsionados pela direita tradicional contra seu inimigo comum: a esquerda.

A questão da ideologia de gênero, ou que a esquerda estaria tentando doutrinar sexualmente as crianças nas escolas etc. Foi um flanco que a direita se aproveitou para atacar, pois sabe que setores minoritários da sociedade são mais frágeis.

A matéria não cita, mas o próprio identitarismo – uma ideologia direitista importada dos Estados Unidos, para dividir e enfraquecer a luta geral da classe trabalhadora – é utilizado para atacar a esquerda.

A classe média conservadora tem verdadeira aversão ao identitarismo, o que é fácil de se entender, uma vez que os indetitários promovem sua luta no campo moral, terreno fértil para a oposição de grupos religiosos e conservadores em geral.

Identitarismo como religião

Os identitários, por não fazerem uma leitura marxista, mas moral, da sociedade, apelam para a ‘reforma’ dos indivíduos. Acreditam que com sua pregação vão conseguir educar e convencer as pessoas a não discriminarem determinados grupos sociais.

Apesar de que a educação apenas deteriora sob o capitalismo, os identitários creem que é possível educar a sociedade. Não entendem as bases materiais que levam à discriminação. Por isso, partem para táticas religiosas, como a culpa, ou nosso ‘pecado original’.

Um exemplo claro desse ‘pecado original’ é como tratam o bandeirantismo no período colonial. Os identitários não conseguem enxergar a importância dos bandeirantes para o desenvolvimento do Brasil. Tudo o que eles conseguem é ver um bando de ‘genocidas’, ‘estupradores’ e ‘escravistas’. O Brasil seria um erro desde sua origem, e nós, os herdeiros desse pecado praticado por nossos antepassados, somos culpados; portanto, devedores que precisam reparar as injustiças históricas. Um verdadeiro absurdo que só pode encontrar oposição em quem tenha um pingo de discernimento.

Do ponto de vista jurídico, um delito não pode transitar de um corpo para outro. Ou seja, uma pessoa não pode pagar pelo crime que outra cometeu. Se nossos antepassados fossem esses criminosos, o que também não é verdade, não temos nada a ver como isso. Não devemos nada a ninguém.

Os identitários não conseguem ver um Borba Gato dentro de seu tempo, querem julgá-lo moralmente com preceitos de hoje. Da mesma maneira, não entendem que o negro, as mulheres, os LGBTs sofrem discriminação pelo modo como estão inseridos dentro do modo de produção, e que é a aí que está o problema.

Conservadorismo

Em vez de combater o capitalismo, o modo de produção, os identitários pregam que seria preciso incluir as pessoas nesse sistema para que os oprimidos passem a ser respeitados. Em vez, por exemplo, de atacar a terceirização no Magazine Luiza, aplaudem que a empresa em determinada ocasião tenha aberto vaga para 19 gerentes negros. A terceirização, que afeta a vida inclusive dos negros, mulheres e LGBTs, continua intacta.

O mesmo acontece na política. No lugar de contestarem a existência do STF, seus desmandos, sua participação no golpe de 2016, fazem frente com a direita e ficam pleiteando que seria a hora de se colocar uma mulher negra como ministra na corte. A despeito de as duas atuais ministras não fazerem nada em prol da democracia e de o ministro negro, Joaquim Barbosa, indicado por Lula, ter feito as piores barbaridades no julgamento do Mensalão.

O governador do Rio Grande do Sul, que se declarou gay, Eduardo Leite (PSDB) não faz nada em benefício das minorias. Na verdade, age contra, pois privatiza todos os serviços públicos e está devastando a educação, o que só pode piorar a vida das LGBTs.

Basicamente, a luta identitária pelos direitos das minorias tem servido para a criação de novas modalidades de crimes e aumento de penas. É uma “luta por direitos” que retira direitos e que reprime. Se o deputado X entrou de peruca no plenário e fez tal discurso, pronto, isso é considerado transfobia e é preciso multar, mandar prender, cassar o mandato, cancelar etc.

Fora de foco

O Esquerda Online tem a ilusão de que “parte essencial da luta para impor uma derrota definitiva à extrema-direita é vencer o debate de ideias sobre gênero e sexualidade, [que] é indispensável impor a conquista dos direitos básicos das pessoas trans. [E] se esse é um tema central para nossos inimigos, não podemos deixá-los à vontade com sua política transfóbica”.

Não é verdade, o essencial é fortalecer a classe trabalhadora para derrotar a burguesia, pois é a divisão de classes que impõe as discriminações. É bonito dizer que ‘é indispensável impor a conquista dos direitos básicos das pessoas trans’, mas esse é um setor ultraminoritário da sociedade que só pode encontrar apoio dentro da classe trabalhadora, sem a qual não conseguirá atingir seus objetivos.

As ideias de gênero não são centrais para a extrema-direita, o que eles estão fazendo é aniquilar com as conquistas sociais. Portanto, apenas uma classe trabalhadora forte, que imponha uma derrota à burguesia, posto que é a única força capaz de fazê-lo, será capaz de garantir os direitos democráticos de todos os setores oprimidos da sociedade.

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