Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Uma posição golpista

Esquerda Diário: Bolsonaro será preso porque Lula é pior que ele

Ao negar todo e qualquer elemento de contradição entre o governo Lula e o imperialismo, o MRT se coloca no mesmo caminho que adotou no golpe de 2016

O jornal Esquerda Diário, do agrupamento pequeno-burguês Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), publicou no seu portal, na última sexta-feira (18), um artigo que procura analisar a atual situação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Intitulado Bolsonaro vai ser preso?, o MRT procura responder na matéria à seguinte pergunta que ele mesmo formula: “porque Bolsonaro, que passou a ser a melhor opção da grande mídia e o favorecido pelo STF em 2018 agora se torna um alvo?” [sic]

Bolsonaro vai ser mesmo preso?

O MRT parece ter embarcado no clima de euforia que dominou boa parte da esquerda, estimulada pelo clima propagandeado sobretudo pela imprensa capitalista, no sentido de que a prisão de Bolsonaro é iminente. A matéria afirma que “Por todos os movimentos feitos até o momento, existe a possibilidade de que a prisão de Bolsonaro ocorra”. Os “movimentos” mencionados seriam o depoimento de Walter Delgatti na CPMI do 8 de janeiro; a ameaça de delação premiada do ex- ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid; a quebra do sigilo bancário e fiscal do ex-capitão, decretada por Alexandre de Moraes e estendida a Michele Bolsonaro; a denúncia de que Alexandre de Moraes teria sido grampeado; a vitória de Milei nas prévias Argentina, que geraria a necessidade de pôr para fora da jogada um eventual aliado seu no Brasil. 

É certo que o MRT fala em “possibilidade”. Com efeito, não é possível cravar com certeza se Bolsonaro vai ser preso ou não. A possibilidade, sem dúvida, existe. O problema é o que fica fora da análise a respeito dessa possibilidade.

O MRT simplesmente deixa de fora da análise os militares. No mesmo dia em que o Esquerda Diário publicou sua matéria, o jornal burguês O Estado de S.Paulo publicou uma coluna afirmando, entre outras coisas, que “Figuras graduadas do Exército citam caso da prisão de integrantes da PM do DF e apontam que há limite a partir do qual seria difícil acalmar oficialato e militares abaixo da linha de comando”. Ainda que em tom de boato, o que o jornal dos Mesquita veicula é que os últimos acontecimentos estão causando uma verdadeira fervura dentro dos quartéis. Oficiais, segundo a matéria, falam que a Justiça “está esticando a corda” e que isso tem gerado “instabilidade” dentro das fileiras militares. Nem é preciso dizer que os militares constituem uma das bases fundamentais do bolsonarismo.

Coincidência ou não, nos dias seguintes já se pôde ver a mudança de entonação na própria imprensa burguesia. Matérias explicando que ainda não havia elementos para a prisão de Bolsonaro pipocaram aqui e ali nos veículos dos capitalistas. 

Como se disse acima, não se pode fugir do terreno das possibilidades. Mas, de acordo com o andar das coisas, a tendência é a que prisão de Bolsonaro seja algo um pouco mais difícil de se concretizar do que se esperava à primeira vista pela maioria das organizações de esquerda.

Lula e Bolsonaro: quem é melhor para a burguesia?

O ponto central da matéria, no entanto, é a explicação que o MRT dá acerca do porquê “hoje Bolsonaro pode ser preso por um relógio ou uma caneta”, isto, do porquê Bolsonaro está sendo descartado pela burguesia. Nesse ponto, fica escancarada a completa incompreensão da organização pequeno-burguesa a respeito das coordenadas políticas da situação. 

Para quem acompanha as formulações teóricas do MRT, não é incomum se deparar, nas suas análises, com as formulações abstratas e genéricas do “gramscismo” acadêmico. O conceito de “hegemonia” é queridinho da esquerda diletante e acadêmica. Tal conceito se presta a analisar tudo e todos, e serve a todos os gostos tamanho o seu nível de abstração. 

O autor da matéria nos explica que, entre as definições que Gramsci confere ao conceito (há mais de uma!), “podemos encontrar a capacidade de organização do consenso exercida no âmbito da sociedade civil […] O que, convenhamos, nunca foi o forte de Bolsonaro”, arremata o autor. Trocando em miúdos: Bolsonaro não conseguiu garantir o consenso dentro da sociedade, algo essencial para a continuidade da dominação burguesa. 

“Bolsonaro pôde oferecer um projeto econômico ultraneoliberal, e por isso conquistou apoio de poderosas frações da classe dominante. Uma vez cumprido esse programa, era preciso aparar as arestas dos efeitos indesejados. Isto é, tornou-se indesejável a permanente desestabilização que seu modo de governo provocava”, explica o MRT. 

Mas se Bolsonaro não conseguiu garantir o “consenso”, uma vez que seu “modo de governo” provocava “permanente desestabilização”, quem então foi escolhido pela burguesia para a tarefa? O MRT responde: “a Frente Ampla de Lula e Alckmin”. Para o MRT, a “Frente Ampla de Lula e Alckmin” se propôs a tarefa de resolver o problema que Bolsonaro não conseguiu ― o problema do “consenso”, da estabilização do regime ― e, por isso, ela “conquistou o apoio antes perdido entre estratos da classe dominante” e, por isso, “hoje Bolsonaro pode ser preso por um relógio ou uma caneta”. Dito de outra forma: o governo Lula é uma arma mais eficiente do que Bolsonaro na aplicação da política neoliberal. É por isso que o governo Lula, na visão do MRT, foi o escolhido da classe dominante.

O MRT defende aqui a tese de que Lula é a continuação melhorada (para a burguesia) de Bolsonaro. A incompreensão a respeito da natureza nacionalista do governo Lula é flagrante e conduz, em última análise, a organização pseudotrotskista a adotar uma posição golpista. Lula e Bolsonaro seriam duas ferramentas da burguesia para aplicar a política neoliberal. A única diferença é que o Bolsonaro se mostrou incapaz de garantir o “consenso”, ao passo que Lula “se propôs a resolver” a questão. Na prática, o MRT quer dizer que o imperialismo estaria recorrendo ao governo Lula no momento para levar adiante a política antipopular, antioperária, antidemocrática do neoliberalismo.

A análise, contudo, é falsa. O governo Lula, é verdade, não rompeu com nenhum dos pilares da política neoliberal. O conteúdo nacionalista de sua política encontra-se permanentemente represado pelos limites de seus métodos políticos, baseados na institucionalidade de um regime político com claras tendências antidemocráticas e em franca desagregação. O governo Lula e o PT, porém, se apoiam em verdadeiras organizações de massas (CUT, MST etc.), o que os tornam uma ferramenta “problemática” para a aplicação da política de terra arrasada. Se o governo Lula, por um lado, não reverte as privatizações já feitas pelos governos neoliberais anteriores, por outro, ele não também não avança nas privatizações que o imperialismo exige. A política externa de seu governo, como é visível, tem uma forte tendência a contrariar os interesses fundamentais do imperialismo. Basta ver o fortalecimento dos laços com os países dos BRICS, sua posição sobre a Guerra na Ucrânia e sua posição sobre países como Venezuela, Nicarágua e Cuba.

E mais: ao que tudo indica, o governo só não reverte a maior parte da destruição que o golpe causou no País porque está absolutamente cercado pela burguesia que nem mesmo o deixa reformular seus ministérios. Lula, por sua vez, mostra-se ainda mais à esquerda que seu governo atual e seus governos anteriores no sentido de que está cercado de figuras que, em última instância, servem para sabotar as suas iniciativas mais progressistas.

Ao negar todo e qualquer elemento de contradição entre o governo Lula e o imperialismo, o MRT se coloca no mesmo caminho que adotou no golpe de 2016: o caminho para constituir a ala esquerda de um eventual golpe imperialista contra o governo Lula.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.