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Equador: mais uma posição ultra-imperialista da UP

Não podendo criticar as realizações do nacionalismo equatoriano, apelam para o mesmo tipo de moralismo besta usado pelo imperialismo para manter o Equador pobre e atrasado

O jornal A Verdade, órgão do partido esquerdista Unidade Popular (UP), tirou uma matéria no mínimo curiosa sobre as eleições equatorianas, cuja votação para definir a chefia de Estado foi para o segundo turno e está marcada para o dia 15 de novembro. Segundo os “socialistas” brasileiros, o índio golpista do imperialismo, Yaku Pérez, “representa uma alternativa que desafia a corrupção e a repressão do correísmo” (“Yaku Pérez, alternativa à corrupção e à repressão no Equador”, Queops Damasceno, 18/8/2023, uma ideia tão fora da realidade que até parece cinismo.

Segundo A Verdade, o ex-Vice-Presidente de Lenin Moreno, Otto Sonnenholzner, seria “o principal candidato da grande burguesia”, uma afirmação estranha, uma vez que Daniel Noboa foi para o segundo turno e não Sonnenholzner, contudo, é preciso registrar que as críticas do órgão da UP ao ex-Vice de Moreno residem no fato deste “representar a continuação da política de Guillermo Lasso”. Está correto dizer que Otto Sonnenholzner manteria o desastre da política de Lasso, mas A Verdade deveria se esforçar mais para mostrar como alguém que diz ser melhor um banqueiro a um ditador seria diferente.

Sob tal formulação, “a alternativa” dos “socialistas” apoiou Lasso, de maneira aberta em 2017. A contraposição entre banqueiros e ditadores, embora fuleira, permitiu a Pérez colocar-se ao lado do imperialismo contra o representante do nacionalismo equatoriano, cuja principal expressão política é o ex-presidente Rafael Correa. Pelo teor da matéria da UP, fica claro que o correísmo continua sendo o verdadeiro inimigo político dos “socialistas”.

“A candidatura de Luisa González, apoiada por Rafael Correa, representa a corrupção e a repressão do correísmo durante seus 10 anos de governo. Seu histórico evidencia a corrupção associada ao governo de Correa, com casos como o Subornos, que resultou na condenação de Correa e outros por corrupção, e o Caso Odebrecht, que também envolveu membros do governo em atividades criminosas. Essa candidatura representa a repressão que marcou o uso do sistema judiciário para perseguir aqueles que discordavam do governo, incluindo a criminalização de protestos sociais e o uso da comunicação estatal para influenciar as decisões judiciais.” (Idem).

É preciso um parágrafo especial para falar da completa loucura desta colocação, finalmente, o supracitado presidente Correa encontra-se foragido do país. Tomado a sério o que diz A Verdade, Correa seria um dos ditadores mais caricatos e inofensivos do mundo, tão doido que acabou ele próprio perseguido pela máquina infernal posta em ação para garantir sua “ditadura” e da qual fora a principal vítima.

Curiosamente, a matéria lembra dos casos de corrupção criados pelo imperialismo e que foram exatamente iguais à operação desenvolvida no Brasil, onde “Lava Jato” demonstrava claramente estar sendo orientada pelo governo norte-americano, o que depois comprovou-se com o vazamento de mensagens de seus operadores. O órgão da UP, no entanto, demonstra muita dificuldade em ligar os fatos por eles mesmos elencados, evidenciando um desejo de atacar o correísmo maior do que o cuidado com a forma de fazê-lo.

Ainda, o jornal até faz um esforço de lembrar o drama dos trabalhadores ao destacar que “o desemprego afeta atualmente 7 em cada 10 equatorianos”, tendo, no entanto, o cuidado de ser tomado por outro surto de amnésia seletiva ao esquecer que no último ano de Correia na presidência do país, 2017, o desemprego estava em 4,6% (segundo o banco de dados CIA World Factbook). O Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riqueza produzidas pelo país) saiu de US$ 51 bilhões em 2007 para US$104,3 bilhões (Banco Mundial), um crescimento superior a 104%; a inflação, embora elevada, ficou em 49,19% (segundo o banco de dados World Data Info), muito abaixo do crescimento do PIB, o que explica a expressiva queda na proporção de equatorianos na pobreza extrema (menos de US$5,50 por dia), que caiu de 44,9% em 2007 (ano em que Rafael Correa assumiu) para 27,10% em 2017.

Eis o governo que Yaku Pérez – o candidato apoiado pela UP – ajudou a destruir. Poderia ter feito mais? É discutível e muitos podem concordar que sim, mas daí a caracterizar o correísmo como um regime de “repressão e corrupção” é um exagero que rompe completamente as fronteiras da verdade.

Não podendo criticar as realizações do nacionalismo equatoriano, A Verdade apela para o mesmo tipo de moralismo besta impulsionado pelo imperialismo para manter o país pobre e atrasado. Em outra latente exibição de que a retórica pseudo-revolucionária não passa de um engodo, um verniz esquerdista a uma política profundamente reacionária, o órgão ataca frontalmente o desenvolvimento do país pela via da demagogia ambiental, como tem sido característico da esquerda filo-imperialista:

“A reserva do Parque Nacional Yasuní tem riqueza natural e biodiversidade inestimável à humanidade. Inclusive lá vivem atualmente muitas etnias indígenas das quais pelo menos duas não conectadas. E onde várias empresas operam, mostrando pouco ou nenhum respeito pelo fato de o parque ser considerado um pulmão vital para o planeta. Sendo crucial pôr fim de maneira definitiva à exploração petrolífera e mineira.”

Ocorre que tanto a extração mineral quanto a petrolífera são realizadas por estatais. A matéria acaba se traindo ao lembrar que “a estatal Empresa Nacional Minera (ENAMI) [e a chilena Codelco] avançaram nas atividades de exploração”. O que A Verdade esconde, entretanto, é que a exploração petrolífera não é desempenhada por “petrolíferas dos países imperialistas”, mas pela Petroecuador, uma estatal também.

É vergonhoso que uma organização política dita de esquerda defenda o imperialismo com tanto ardor, inclusive fazendo uso dos métodos de propaganda tipicamente imperialistas para romantizar a pobreza e o atraso. Poderia ser alvo de debate questionar se os nacionalistas equatorianos conseguem levar a luta contra a ditadura global até o fim, o que tem se revelado uma tarefa muito difícil para o correísmo, que mesmo sendo muito popular, não conseguiu se recuperar da sequência de golpes sofridos desde 2017.

Por outro lado, prestar-se a dar um viés esquerdista à mesma política de Washington revela um capachismo desmedido à Casa Branca. Torna claro, porém, quem os orienta e para que tipo de política também no Brasil.

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