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Propaganda para tolos

Só agora o imperialismo descobriu a ditadura na Arábia Saudita?

A imprensa dita “plural” só rompeu o silêncio sobre os crimes da ditadura saudita quando Riad demonstra disposição crescente para opor-se ao imperialismo

O colunista global de cabelos à Javier Milei, Guga Chacra, publicou um artigo no jornal O Globo criticando o craque Neymar Jr. por assinar um contrato com o time saudita al-Hilal. Segundo o colunista de O Globo, “jogar no al-Hilal equivale a jogar em um time de Assad na Síria, em um pertencente às Guardas Revolucionárias do Irã ou em um da liga norte-coreana. Bin Salman é tão ditador quanto Assad e Kim Jong-un. A diferença é que a ditadura da Arábia Saudita tem dinheiro” (“Imagine Neymar em um time da Síria”, 17/8/2023), razão pela qual o maior jogador da atualidade deveria ter recusado a proposta milionária recebida de um país que “persegue homossexuais, censura a imprensa, proíbe grupos opositores e uma Justiça independente, além de ordenar o esquartejamento do jornalista dissidente Jamal Khashoggi.”

Não entraremos aqui na loucura de alguém que trabalha para a Globo querer dizer onde Neymar e outros jogadores devem ou não jogar. Chama atenção, no entanto, o fato de o colunista global apresentar sua caracterização do regime saudita, tratado como uma ditadura.

De fato, a monarquia saudita é e sempre foi uma ditadura atroz, comandada pela Casa de Al Sauld e liderada, desde 2015, pelo príncipe Mohammed bin Salman. A questão reside em saber porque um regime que sempre foi opressivo, de repente ter o benefício do silêncio da imprensa quebrado. Por que os órgãos de propaganda do imperialismo passaram a falar mais da Arábia Saudita e repentinamente, a monarquia árabe passou a ser reconhecida como uma ditadura?

Sem surpresa, a imprensa chamada por Chacra de “plural” só rompeu esse silêncio sobre os crimes da ditadura saudita em um momento específico, quando Riad demonstra disposição crescente para se afastar da forca com que era submetida pelo imperialismo e aliar-se ao conjunto das nações rebeldes, movimento que explodiu no mundo após a vitória dos afegãos contra os americanos e a ofensiva russa contra a Otan na Ucrânia. Atento à fraqueza da ditadura global, o príncipe saudita procurou seu próprio movimento de libertação, aproximando-se cada vez mais dos russos e até mesmo do antigo rival, o Irã.

Eis a conjuntura em que o regime saudita deixa de ser ignorado, passando para ser amplamente reconhecido como uma ditadura, como na propaganda para tolos desinformados escrita por Chacra. Eis também, a “imprensa plural”, qualidade que reflete a quantidade de títulos, mas em uma verdadeira malandragem, esconde o fato de que a divergência política é mínima entre os distintos órgãos de imprensa, e praticamente nula ao se tratar da política externa da Casa Branca.

Quando um órgão verdadeiramente opositor aparece, como no caso recente do sítio WikiLeaks, o governo americano rapidamente demonstra o tamanho do seu apreço pela imprensa livre e plural. Julian Assange, o jornalista responsável pelo sítio, encontra-se preso desde 2012, primeiro na embaixada equatoriana em Londres e depois, em uma prisão britânica, sob o risco recorrente de ser extraditado para os EUA, onde é sabido que “a justiça independente” do país da “democracia” o condenará a prisão perpétua.

Também envolvida no caso WikiLeaks, a mulher trans e ex-militar Chelsea Manning, chegou a ser presa em um julgamento secreto por revelar crimes de guerra chocantes, incluindo registros em vídeo de um ataque de helicópteros americanos contra civis iraquianos em 2007. Tendo direitos como habeas corpus negado, sua condenação chocou a comunidade jurídica pela quantidade de aberrações cometidas pelo Estado americano para condená-la. Posteriormente, denúncias sobre as condições desumanas em que estava presa e as torturas sofridas em pleno território norte-americano foram amplamente divulgadas, fazendo com que só um cínico diga os EUA são qualquer coisa diferente de uma ditadura brutal.

Esta, no entanto, é exatamente a medida usada por Chacra para defender o imperialismo e atacar Riad. Impossibilitado de representar a principal potência imperialista do mundo como um oásis da civilidade, o jornalista até reconhece as loucuras perpetradas por Washington contra o resto da humanidade, mas defende o país em que vive dizendo que os EUA “são uma democracia.”

A base para sua afirmação reside no fato de que “George W. Bush recebia enormes críticas por suas guerras. O ex-presidente Donald Trump e o filho do atual presidente Joe Biden são alvos de processos na Justiça. Ninguém é morto por criticar o governo, que é eleito de forma democrática e não escolhido por ser filho de um rei absolutista. Há divisão de poderes entre Executivo, Judiciário e Legislativo, além de existir uma imprensa plural. Os times esportivos não pertencem ao Estado.”

Afirmações que revelam o cinismo do autor, a começar pelo fato de que os EUA não começaram a fazer guerras com George W. Bush, mas contam com um retrospecto que coloca as intervenções militares americanas facilmente na casa das centenas desde o século XX e nos dias atuais. Fica então o consolo da crítica, mas é de se perguntar: acaso as críticas ao lançamento das bombas nucleares sob as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki diminuíram a monstruosidade do crime? A morte de centenas de milhares de civis e nas condições em que morreram, torna-se mais humana por ter sido alvo de críticas?

Antes que digam que esses crimes foram cometidos nos anos 1940 e o mundo hoje é diferente, vejamos pelas barbaridades mais recentes, como as guerras do Afeganistão e do Iraque, se é verdade que o ímpeto sanguinário da ditadura norte-americana sobre o planeta diminuiu. Como lembrado acima, uma militar enojada com o terror da máquina de guerra americana contra o pobre Iraque, acabou sofrendo as piores consequências por provar que a disposição do regime americano para ser monstruoso longe de ter arrefecido, piorou.

O colunista lembra também que “o saudita Bin Salman cometeu atrocidades na Guerra no Iêmen”, o que é verdade, porém a mando de quem? Esquecera o autor de que armas norte-americanas e inglesas enviadas ao então governo amigo saudita é que possibilitaram a catástrofe humanitária no Iêmen, dirigidas para destruir regime simpático ao Irã? Claro que não.

Com este último fato em mente, torna-se interessante notar a diferenciação feita por Chacra entre crimes que seriam toleráveis (os cometidos pelas “democracias”, naturalmente) e os intoleráveis. Os últimos são (no mínimo) iguais no mérito da coisa em si, mas decididamente menos lesivos na quantidade de países atingidos e na quantidade de vítimas que deixam.

Reprimir direitos de homossexuais e mulheres é algo que uma pessoa evoluída culturalmente consideraria negativo. Perto, porém, dos crimes cometidos pela ditadura global liderada pelos EUA, que em todos os cantos do planeta expropria, explora e mata em escala industrial, a opressão de determinados grupos inevitavelmente será um fenômeno menor.

Tal qual no reconhecimento de apenas alguns dos inúmeros crimes contra a humanidade cometidos pelo governo americano, o propagandista do imperialismo simplesmente fez um recorte do que necessariamente teria de ser criticado, apenas para não entregar o que o artigo realmente é, um ataque a uma nação atrasada e uma defesa da principal fonte de opressão em escala global no planeta: o imperialismo norte-americano.

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