Boa parte da esquerda acredita que Alexandre de Moraes está trabalhando para deter o fascismo, crença que enquanto vigorar só vai servir para que não sintam a necessidade premente de colocar as massas em movimento.
Nós conhecemos o PT, e sabemos que é um partido que não se mexe. Deixaram com que se derrubasse a presidenta Dilma, deixaram com que o mensalão ocorresse (e não só deixaram, como determinados dirigentes petistas apoiaram que todos os perseguidos políticos fossem para a cadeia sob o pretexto de desmoralização do partido), deixaram com que Lula fosse para a cadeia e não tiveram a capacidade de convocar um único ato público em defesa do Lula. Durante os quase dois anos em que ele ficou preso, não convocaram um ato público sequer.
Nós, do PCO, convocamos três atos públicos. A cúpula do PT impulsionou os atos? De maneira alguma. Não queriam nem saber. Para eles, a grande força deles é Alexandre de Moraes, ministro do STF de Temer, junto com a confiança cega nas instituições. A confiança na democracia.
Essa mesma confiança na democracia que é uma coisa abstrata. Aqueles que tem mais tino político dentro do PT vão concordar com o essencial de nossa avaliação, há uma política de desestabilização do PT em marcha, que significa que ou nós quebramos esse muro de paralisia política do PT ou a esquerda vai acabar mal. Vão acabar mal porque quando o governo do PT começar a ser bombardeado pela direita, toda essa gritaria que estamos vendo contra os bolsonaristas vai ser 100 vezes maior e todas as forças políticas do país, o próprio regime político, vai agir de maneira eficaz contra o governo do PT e quem tentar defender esse governo.
Logicamente, existem aqueles que vão falar que isso é impossível. Aqueles que falam isso só podem estar com problemas mentais, tendo em vista que isso já aconteceu. Estamos no país em que Dilma foi derrubada e Lula foi preso.
Quem negar essa possibilidade teria de explicar o que de tão extraordinário aconteceu aqui. Afirmar que Lula ganhou a eleição não significa nada, pois Dilma também havia ganho a eleição, e no dia em que os votos estavam sendo contados, Merval Pereira falou com desânimo que “Dilma ganhou a eleição, mas ela não vai ficar muito tempo no governo. Existe um escândalo na Petrobrás.”
O governo do PT está tentando fazer alguma coisa contra o tal mercado, o tal mercado junto com a dona democracia, vão se juntar contra ele. E isso é um fato óbvio. Estamos diante de um problema muito sério, e o pessoal continua insistindo em que o Alexandre de Moraes está salvando o governo Lula. Basta notarmos que, quando o Alexandre de Moraes se pronuncia, ele sequer se refere ao governo Lula. É um problema de linguagem muito significativo, já que ele não fala em defesa do governo, mas sim das instituições democráticas e da democracia.
Defender a democracia nesse momento não pode ser nada além de defender o governo do Presidente Lula.
Nas falas de Alexandre de Moraes, fica implícito que o governo Lula não deve ser defendido, mas defender a democracia é exatamente defender aquele que foi eleito.
Com essa série de recentes bloqueios e censura a meios de comunicação e contas nas redes sociais, a situação fica ainda mais confusa. Ninguém sabe de fato o que é democracia, já que todos podem ser calados e censurados.
O que aconteceu no domingo, dia 8 de janeiro, não foi uma tentativa de golpe de Estado, mas também não foi um ato isolado. Quem está envolvido no meio desses acontecimentos, ficou claro no domingo, que é gente graúda das Forças Armadas, da própria burguesia, do empresariado.
E ainda existem aqueles que ousam dizer que os bolsonaristas estão isolados. Mourão, por exemplo, falou que o governo é incompetente e depois disse que o governo Lula age como se fosse uma ditadura, que é típico de governo de esquerda. Por acaso essa é uma declaração de quem está na defensiva? Muito pelo contrário, é uma declaração de quem está na ofensiva.
A direita tem poder para continuar atacando o governo Lula, e é o que a direita vai fazer. Uma importante consideração é quando falamos sobre o bolsonarismo, na realidade usamos uma palavra que não escreve exatamente o problema que nós estamos enfrentando. O que está envolvido aí não são apenas pessoas que admiram o Bolsonaro. É uma coisa muito mais ampla do que isso, que conta com o conjunto de comandantes militares.
Quando lemos notícias na imprensa burguesa, temos a impressão de que existem alguns militares bolsonaristas, mas não é assim. A cúpula militar é parte desse movimento, com Bolsonaro ou sem Bolsonaro, eles são esse movimento. Esses militares são muito influentes, a maioria das polícias militares estão dominadas por esse movimento, o maior aparato repressivo do Brasil está dominado por esse movimento.
Colocar algumas pessoas na cadeia só vai nos mostrar que, verdadeiramente, nada que está acontecendo vai mudar. É preciso uma compreensão justa dos acontecimentos para não cair em fantasias. O perigo dessas avaliações delirantes é que elas não conseguem estabelecer qual a verdadeira correlação de forças no Brasil nesse momento. Quando falamos que a eleição acabou, falamos que o país está dividido, o governo Lula nesse sentido diante da divisão do país é um governo relativamente fraco. O que aconteceu no domingo prova a fraqueza do governo Lula. Não existe respeito pela autoridade, e não é Alexandre de Moraes que vai impor esse respeito.
O apoio no STF só piora a situação, ele dá munição para os bolsonaristas ao mesmo tempo em que ele não pega ninguém que tenha nenhuma importância. Não faz sentido ficar vibrando pela prisão de blogueiros, blogueiros não são generais. Blogueiros que são uma ralé mobilizada pelos militares que podem ser facilmente substituídos.
O que existe é uma necessidade real da classe trabalhadora de cortar a cabeça dos militares, porém o problema que se coloca é quem tem o poder para cortar essa cabeça. Flávio Dino? De maneira alguma. Alexandre de Moraes? Muito menos.
Tomemos de exemplo, para iluminar a situação, o caso da Bolívia. Na Bolívia houve um golpe de Estado, um golpe de Estado que foi derrotado e ninguém foi punido. Temos que levar isso em consideração. O exemplo que temos de como a situação pode ser resolvida, e é a única maneira pela qual a questão pode ser resolvida, é a Venezuela. O único país da América do Sul que efetivamente cortou, em toda a América Latina, o poder político dos militares. E quem fez isso? Foi a Suprema Corte da Venezuela? Foi o Executivo da Venezuela? Não. Foi o povo da Venezuela. Os trabalhadores da Venezuela.
A mando dos Estados Unidos, tentaram dar um golpe militar para derrubar Chávez. O próprio Chávez ficou imobilizado. Foi preso. E aí o povo saiu às ruas e passou por cima das Forças Armadas. Havia também uma ala minoritária do exército que era chavista, e essa ala aproveitou a oportunidade para derrubar os militares direitistas, porque se não Chávez teria morrido na cadeia.
Hoje, a única força existente na sociedade capaz de enfrentar os militares são os trabalhadores e o povo pobre, humilde. O povo que não aparece na diversidade, não aparece nem no governo do PT. Governo composto por pequeno-burgueses, burocratas e políticos burgueses. Esse é o povo que não vale nada. Para defender a democracia, é necessário defender Lula e armar o povo.
