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Guerra eleitoral

Eleições no Paraguai seguem o roteiro do imperialismo

Imperialismo impulsiona candidatura dos Liberais com identitarismo, ONGs etc., e o candidato que bate em polícia avança

O Paraguai terá eleições presidenciais no próximo domingo (30) e reflete a tendência histórica, a do confronto entre o Partido Colorado e os liberais (azuis), seguido por umas nanicas “listas” de setores à esquerda e direita. Com o favoritismo do Partido Colorado, que governou o Paraguai em praticamente toda a história dessa república, inclusive quando tinha membros na frente ampla com Fernando Lugo (candidato pela Frente Gussu), reflete a crise de um território mediterrâneo que possui duas bases militares dos Estados Unidos.

A importância do Paraguai dentro do regime político imperialista é sua posição geográfica central, amplamente aberto à entrada de empresas estrangeiras pela “Lei de Maquilas”, acordo facilitado à Taiwan para entradas nos aeroportos, facilidades quanto à obtenção de latifúndio, alta militarização em relação ao tamanho da população e água abundante, que faz do Paraguai, um dos países com a energia mais barata do mundo. O controle do Paraguai via Partido Colorado (o mais à direita de todos os partidos) é facilitado pelas ações do imperialismo e da repressão brutal das forças do Departamento de Narcóticos e da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, que tem o passe mais livre na região, superado somente pela Colômbia e Chile. A repressão aos movimentos sociais ocorre com intensidade gravíssima.

A tentativa de privatização da Itaipu binacional durante o governo Bolsonaro no Brasil, num escândalo protagonizado por Mario Abdo, o “Marito”, foi estopim para a radicalização no país. Além disso, a concentração de renda nas mãos das empresas brasileiras, especialmente do agronegócio dos chamados “brasiguaios”, coloca tensão no interior do país, fazendo com que o candidato Paraguayo Cubas atingisse 23% das intenções de votos, alcançando a terceira colocação, conforme a pesquisa do instituto Atlas/Intel. A plataforma de Cubas é matar 100 mil brasileiros que controlam a economia paraguaia. Cubas se apropria do ressentimento histórico do Paraguai frente ao Brasil, durante a Grande Guerra (nome que é dado pelos paraguaios à Guerra do Paraguai).

Como o Paraguai vive um drama no processamento de dados públicos, desde o Censo até informações sobre a Receita, isso também ocorre nas pesquisas de intenção de votos, ainda mais caótico que no viciado sistema brasileiro. Mas, pode-se afirmar que o Paraguai vive uma grande polarização. Apesar de 13 candidaturas (Listas), pesquisas apontam polarização entre os candidatos Santi Peña, do Partido Colorado, e Efraín Alegre, cuja Concertação Nacional reúne o tradicional Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) e movimentos de centro e de esquerda. Aí o grande golpe do imperialismo, que impõe a mesma fórmula que nas últimas eleições na América Latina, criar frentes amplas e/ou terceiras vias.

“Atmosfera de democracia”

A tendência histórica bicolor, Colorados (vermelho) e Liberais (azul) mantém a polarização, mas carrega no combo candidaturas polêmicas. Vão do crescimento de Cubas (Payo Cubas, ex-senador da república, advogado), cassado por quebra de decoro, em 2019, após vídeo em que aparecia chutando uma viatura e dando um tapa em um policial, até o golpeado ex-presidente Fernando Lugo. Entre as candidaturas mais polêmicas está do ex-goleiro José Luis Chilavert, Partido da Juventude.

Os liberais com Efraín Alegre a frente da Lista reflete tendências do imperialismo, mas sob demanda de um país que depende majoritariamente da água e energia. Na Lista, o imperialismo recauchutou uma candidatura da direita moderada com movimentos onguistas, de modo que a promessa de manter a Itaipu intacta passa por polarizar em torno do maior bem do país. Alegre promete política de “gestão energética voltada para o desenvolvimento” , prometendo que Itaipu e Yacyretá reduza o preço ao setor industrial, especialmente as maquiladoras brasileiras, alemãs e taiuanesas.

Como liberal, Alegre também faz a demagogia da geração de emprego com as indústrias maquiladoras brasileiras. Alegre promete energia barata utilizando o empobrecimento da população frente à usurpação realizados pelas corporações frente à Itaipu e Yacyretá, que reduz preços à indústria e eleva aos pobres, mas, segundo a Concertacion (frente ampla), vão reduzir 90% na tarifa da empresa ANDE, de distribuição, para as casas do país.

Apesar das promessas, o tom do identitarismo é dado por Soledad Nuñez (Sole Nuñez), que despontou na política durante o governo Lugo, mas atuou por outros governos colorados. Sole Nuñez é onguista, foi diretora da ONG Techo no Paragua e tem carreira profissional ligada aos Estados Unidos, com ligações com Universidade de Harvard, a Universidade de Chicago, a Universidade de Georgetown, dentre outras. É fundadora da ONG pró-imperialista, ligada ao NED, Alma Cívica “que busca contribuir para a renovação da liderança pública no país”.

Todas as listas constam abaixo, poucas ligadas à esquerda.

Lista 1: ANR (Partido Colorado)
Santi Peña (presidente), Pedro Alliana (vice).

Lista 3: Concertação Nacional para um Novo Paraguai (CN2023)
Efraín Alegre (presidente), Sole Núñez (vice).

Lista 7: Partido União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace)
Jorge Humberto Gómez Otaño (presidente), Noelia Núñez (vice).

Lista 10: Movimento Político Nova República (MPNR)
Euclides Acevedo (presidente), Jorge Querey (vice).

Lista 14: Movimento Humanista e Solidário (MHS)
Juan Felix Romero Lovera (presidente), Catalina Ramírez Alvarenga (vice).

Lista 15: Partido Nacional Unamos-nos (PNU)
Luis Talavera Alegre (presidente), Celso Alvarez Amarilla (vice).

Lista 21: Partido da Juventude Força Jovem (PJFJ)
Jose Luis Chilavert (presidente), Sofía Clara Scheid Vázquez (vice).

Lista 23: Partido Verde Paraguai (PVP)
Oscar Cañete (presidente), Luis Wilfrido Arce (vice).

Lista 30: Partido Nacional da Gente 30A (PNG30A)
Prudencio Burgos (presidente), Leona Guaraní (vice).

Lista 33: Movimento Independente Coordenadoria Patriótica Cidadã (CPC)
Alfredo Machuca (presidente), Justina Noguera (vice).

Lista 45: Partido Socialista Democrático Herdeiros (PSDH)
Rosa Bogarín (presidente), Herminio Lesme (vice).

Lista 777: Une-te Paraguai (UP)
Aurelio Martínez Cabral (presidente), David Sánchez (vice).

Lista 911: Partido Cruzada Nacional (PCN)
Payo Cubas (presidente), Stilber Valdes (vice).

Partido Colorado: a única força

A esquerda onguista vem apoiando os liberais, não crê nas próprias forças, muito embora precisamos considerar o acirramento da luta armada no interior, na região do Chaco paraguaio. Do ponto de vista puramente eleitoral, não há nada que faça apelo e não há liderança de massas à esquerda, daí o apelo à Payo Cubas, que bate em policial e enfrenta o domínio econômico dos brasileiros no Paraguai, sem enfrentar, evidentemente os Estados Unidos.

Já o Partido Colorado, governa desde sempre, perdeu uma única eleições e segue governando o país e os Departamentos (equivalente à Estados, no Brasil). Na pesquisa com menor intenção de votos, da Grau e Associados, o Partido Colorado vence os demais com relativa folga.

Desde 1947, os colorados governam o país – sob governos civis e militares – e também foram o apoio político da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). O atual presidente Abdo Benítez é, de fato, filho do secretário particular de Stroessner e foi criado sob a ditadura. O poder dos colorados só diminuiu em 2008, quando houve um breve período de alternância após o triunfo do bispo progressista Fernando Lugo, mas essa experiência foi abruptamente interrompida em 2012 por meio de um procedimento parlamentar de demissão expressa que foi atormentado por irregularidades. Na eleição do ano seguinte (2013), os colorados voltaram ao poder e mais uma vez exibiram sua sólida estrutura política, baseada em uma lógica de poder baseada quase que exclusivamente no aparato estatal e no clientelismo eleitoral. Este tem sido um dos fatores que muito tem contribuído para o seu sucesso nas diferentes disputas eleitorais, além de outros elementos de ordem histórica e cultural.

O atual presidente Abdo Benítez e o ex-presidente Horacio Cartes. As acusações entre as duas principais figuras do Colorado foram explícitas e se concentraram em várias alegações de corrupção. Abdo Benítez insistiu que Cartes é contrabandista, o que todo o mundo sabe. O maior contrabandista de cigarro importa sobras de fumo brasileiro, e reexporta para o Brasil via lei brasileira de importações e exportações. Cartes, a principal liderança colorada, colocou Penã pra concorrer afirmando que Marito é responsável pelas sanções dos Estados Unidos, que na realidade deseja a vitória dos liberais.

A situação segue indefinida, a população não quer o governo artificial dos Liberais e isso explica o crescimento de Cubas, que está em terceiro colocado. A candidatura do imperialismo, pela boca do povo, na fronteira entre Brasil e Paraguai, não é mencionada, ninguém se entusiasma. O velho Colorado vai transitando na campanha entre a compra de votos, o poder do agronegócio e a enorme força entre os militares do Paraguai, que controla as eleições à força. O pleito, apesar de não ter ninguém de esquerda com chances de vencer, será interessante nessa reta final. Contudo, o cenário mostra, numa escala territorial menor que o Brasil, que a esquerda está desorganizada na América Latina.

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