A paralisia do conjunto da esquerda e sua excessiva confiança nas instituições “democráticas” para defender o governo de Lula é parte do que hoje constitui a crise pela qual o governo está passando. O problema é que o PT não se mexe, e a pergunta é se ele teria condições de colocar as bases em movimento. A resposta é que sim, ele tem condições. O PT está no governo, e a primeira coisa é que estar no governo automaticamente te dá uma série de recursos políticos. O PT comanda a Central Única dos Trabalhadores, milhares de sindicatos. Mas também não é como se num estalo de dedos o pessoal fosse se mobilizar, para que isso pudesse acontecer, seria necessário iniciar um processo que levasse a mobilização, e um crescimento constante da mobilização.
Por exemplo, fazer a realização de congressos das organizações populares convocando amplamente, congressos amplos e que fosse discutido com os trabalhadores afim de demonstrar como derrubaram o governo Dilma e podem derrubar o governo Lula. Explicar que a situação pode ficar 10 vezes pior do que ficou na época da derrubada da Dilma, e que é preciso mobilizar os trabalhadores com reivindicações que o governo deveria atender.
Esse amplo processo de discussão deve ser o mais amplo e democrático possível. Isso deveria ser feito imediatamente, e é possível de fazer, é possível de fazer uma efetiva mobilizar muita gente,e é necessário vontade política para fazer isso.
Essa é a questão chave, mas é importante acrescentar outras questões ao debate, para arredondar a análise. Quando o pessoal fala que o bolsonarismo é fraco, isso denuncia a não-observância do quadro eleitoral. Bolsonaro ganhou na maioria das capitais brasileiras, ele não ganhou em São Paulo, mas isso foi uma reviravolta na eleição.
Do ponto de vista eleitoral das cidades, o bolsonarismo é mais forte do que o PT na eleição. Se nós pegarmos o mapa eleitoral e tirarmos todo o interior, a vantagem do bolsonarismo é muito grande. Agora o que é que comanda a vida política, social e econômica do país? A cidade, as grandes capitais. Isso tem que ser considerado, levando em conta o bolsonarismo em sentido lato.
Esse bolsonarismo, descrito em sentido lato, tem uma base sólida nas polícias militares e nas Forças Armadas, e a esquerda não pode se apegar a toda essa gritaria de colocar terroristas na cadeia sem sequer ter em seu horizonte adotar a correta linha tática de mobilizar o povo para enfrentar os quartéis e mudar a correlação de força na política nacional.
Essa ilusão, difundida aos berros pela esquerda, só fará com que toda a sociedade seja pega de surpresa quando os inimigos continuarem avançando sem a mobilização popular necessária para manter Lula no poder.
Haddad já apareceu com aumento nos impostos, não é nada muito expressivo, mas efetivamente esse movimento aconteceu. Significa que os grandes cérebros do PT estão dizendo “vamos nos deslocar à direita para nos proteger do golpe”, que mostra realmente que o pessoal tem uma incapacidade muito grande de compreender os acontecimentos.
Dilma colocou o banqueiro Joaquim Levy em seu governo. Todos disseram que seria uma manobra ultra inteligente para conter o “mercado”, a direita e tudo mais. Em pouco tempo, Dilma caiu como se fosse um saco podre no chão. Se Lula for para a direita, ele vai estar acelerando a crise do governo dele, pois ele vai perder a única coisa que realmente tem: apoio popular.
Se o governo do PT no começo não conseguir tomar medidas decisivas para consolidar o apoio popular, e agora ele está se deslocando à direita, é um movimento ainda sútil, mas real. Nós vamos ter que esperar para ver se isso vai acontecer, mas se acontecer será um desastre. É um desastre total que agora preocupa também muita gente dentro do PT, se Lula sair do governo, quem entra na presidência é o vice, Geraldo Alckmin.
Geraldo Alckmin é um político burguês da pior espécie, ele não vai brigar com militar, ele não vai brigar com banqueiros, nada disso. Você teria um governo pior do que o governo Temer, um governo pior do que Bolsonaro. E ainda houveram setores da esquerda-pequeno burguesa que acreditaram que Alckmin teria mudado, seria uma nova pessoa.
É necessário entender que as eleições não foram ganhas com grande manobras políticas, e que o trono do governo vem com uma espiral de instabilidades.