Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu, na última quarta-feira (6), anular os acordos de leniência firmados junto à empreiteira Odebrecht na Operação Lava Jato. Na prática, as delações por parte da empresa foram declaradas inválidas, o que implicou em mais um ataque às bases da força-tarefa.
O saldo político mais importante dos acordos impostos à Odebrecht havia sido a prisão ilegal do então ex-presidente Lula. O petista permanece 580 na prisão em um crime que, como disse o próprio ex-procurador Deltan Dallagnol, não havia “provas”, mas apenas “convicção”. À prisão de Lula, seguiram-se uma série de atentados contra os seus direitos democráticos, como a proibição de ir ao velório do próprio neto e de falar à imprensa, e um verdadeiro golpe de Estado, que foi o impedimento de concorrer às eleições de 2018.
Em sua decisão, Toffoli desferiu palavras duras contra a Lava Jato, que raramente são encontradas nas peças do STF. Disse ele sobre os métodos de delação: “tratou-se de uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado por meios aparentemente legais, mas com métodos e ações contra legem [contra a lei]”. Segundo o ministro, as autoridades públicas responsáveis pelos processos contra o atual presidente da República “desrespeitaram o devido processo legal, descumpriram decisões judiciais superiores, subverteram provas, agiram com parcialidade e fora de sua esfera de competência”. Toffoli chegou até a insinuar que a ex-mulher de Lula havia falecido em decorrência da Lava Jato, conforme fora denunciado por militantes da esquerda e do movimento popular, uma vez que Marisa Letícia teve um acidente vascular cerebral (AVC), possivelmente decorrente do estresse causado pela perseguição a Lula: “atingiram vidas, ceifadas por tumores adquiridos, acidentes vascular cerebral (sic) e ataques cardíacos, um deles em plena audiência, entre outras consequências físicas e mentais”.
O que chama a atenção da decisão proferida por Toffoli é que nada do que o ministro falou é uma novidade. Tudo já havia sido denunciado intensamente por este Diário, pelo próprio presidente Lula e até mesmo por parlamentares. Toffoli não só acompanhou de perto cada passo dos acontecimentos que levaram à prisão de Lula, incluindo o golpe militar virtual dado por Eduardo Villas-Bôas sobre o STF, como estava na presidência da Corte durante a maior parte do tempo em Lula esteve preso. Toffoli, inclusive, foi obrigado pelos militares a ter um general como “assessor” – isto é, como espião em seu próprio gabinete.
Independentemente do que tenha levado Toffoli a isso, o fato é que a denúncia da podridão da Operação Lava Jato veio, mais uma vez, à tona.
Essa denúncia, contudo, fica extremamente incompleta se for limitada ao que Toffoli disse: que seria “uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos”. Isto é, como se Deltan Dallagnol e Sergio Moro, sozinhos ou, no máximo, com a ajuda de meia dúzia de funcionários, tivessem armado a perseguição contra Lula. Não, senhor! A operação Lava Jato foi uma verdadeira conspiração envolvendo o alto comando de todas as instituições do Estado brasileiro: Judiciário, Congresso, Ministério Público, Polícia Federal etc. E tudo isso, por sua vez, arquitetado pelo imperialismo norte-americano.
É preciso dizer claramente quem é o responsável pelo golpe. São as mesmas pessoas que estão, neste exato momento, planejando a invasão de um país miserável como o Níger. São as mesmas pessoas que continuam comprando a grande imprensa brasileira, que pressionam a cúpula das Forças Armadas em torno de seus interesses e que controlam o STF. O imperialismo e seus representantes no Brasil são os maiores golpistas de todos.