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BRICS

É preciso acabar com a ditadura dos bancos privados, diz Lula

Durante a posse de Dilma no Banco dos BRICS, Lula defendeu de maneira enérgica a aliança dos países atrasados contra o imperialismo

Nessa quinta-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da cerimônia de posse da ex-presidenta Dilma Rousseff no Banco dos BRICS na China. Na ocasião, Lula fez um discurso explicando a importância do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e destacando quais são as pretensões dos países que compõem o bloco com o NBD. 

“O Novo Banco de Desenvolvimento surge como ferramenta de redução das desigualdades entre países ricos e países emergentes, que se traduzem em forma de exclusão social, fome, extrema pobreza e imigrações forçadas.”

A decisão de criar este banco foi um marco na atuação conjunta dos países emergentes. Por suas dimensões, tamanho de suas populações, peso de suas economia, influências que exercem em suas regiões e no mundo, o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul não poderiam ter ficado alheios às grandes questões internacionais”, afirmou o presidente.

Então, Lula continuou desenvolvendo a sua política em relação ao desenvolvimento econômico dos países atrasados – os quais ele chama de “países emergentes”, um eufemismo da diplomacia. No geral, o tom de seu discurso mostra que o presidente, no que diz respeito à política internacional, está entrando em um confronto cada vez maior com o imperialismo. O discurso em questão representou um ponto importantíssimo quanto ao posicionamento do Brasil, lhe colocando decididamente ao lado da Rússia, da China e de demais inimigos dos EUA.

Vejamos:

“A necessidade de financiamento não atendida dos países em desenvolvimento eram e continuam sendo ainda enormes. A falta de reformas efetivas das instituições financeiras tradicionais limitam o volume e as modalidades de créditos dos bancos já existentes.

Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras e condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moedas locais”, continua Lula.

Aqui, Lula, seguindo a linha da decisão do governo de definir que o comércio entre o Brasil e a China seja feito exclusivamente nas moedas de ambos os países, ressalta a sua negação ao dólar e, com isso, defende uma independência cada vez maior dos países atrasados frente ao imperialismo. Algo que fica ainda mais claro no seguinte trecho:

O Novo Banco de desenvolvimento tem um grande potencial transformador na medida em que liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais que pretendem nos governar sem que tenham mandato para isso.

[…] Em conjunto, os membros dos BRICS ampliam sua capacidade de atuar positivamente no cenário internacional, contribuindo para evitar ou mitigar crises e beneficiando as perspectivas de crescimento e desenvolvimento de nossas economias. Por tudo isso, o Novo Banco de Desenvolvimento reúne todas as condições para se tornar o grande banco do Sul global.”

Até então, Lula já demonstrava muita radicalização, defendendo de maneira clara uma política de desenvolvimento econômico dos países atrasados. Algo que o imperialismo quer impedir com todas as forças disponíveis. Pouco depois do trecho anterior, porém, o chefe do Executivo brasileiro acabou de ler o discurso pronto por sua assessoria, expondo, agora, as suas opiniões muito mais livremente.

Ao leitor, publicamos, logo abaixo, trechos destacados de suas declarações a partir desse momento, importantes para se ter uma caracterização lúcida do novo governo de Lula – ao final do artigo, também disponibilizaremos o vídeo do discurso na íntegra, transmitido pela TV Brasil em parceria com outros jornais. Confira:

“Durante 8 anos que eu estive na presidência do Brasil, nós tentamos criar o Banco do Sul na perspectiva de unificar toda a América do Sul em torno de um projeto que nos permitisse financiamento para investimento nas coisas necessárias do nosso País sem que precisássemos nos submeter às regras colocadas pelo Fundo Monetário Internacional [FMI] quando empresta dinheiro para um país de terceiro mundo.

Ou qualquer outro banco, quando empresta para um país de terceiro mundo, as pessoas se sentem no direito de mandar, de administrar a conta do país, de visitar o país para ver o balanço do país. Ou seja, era como se os países virassem reféns daquele que emprestou dinheiro e que o país vai pagar, mas que as pessoas fazem questão de mandar.

Vocês se lembrar quando todo ano descia um homem ou uma mulher do FMI no aeroporto do RJ, ou em Brasília para fiscalizar as contas do nosso País. Nós mudamos a regra.

O Banco dos BRICS representa muito para quem sonha com o novo mundo. O banco dos BRICS representa muito para quem tem consciência da necessidade do desenvolvimento dos países e que, portanto, precisam de dinheiro para fazer de investimento.

Nenhum governante pode trabalhar com uma faca na garganta porque está devendo. Os bancos têm que ter paciência de, se for preciso, renovar os acordo e colocar a palavra tolerância em cada renovação porque não cabe a um banco ficar asfixiando a economia dos países como estão [o FMI] fazendo agora com a Argentina. E como fizeram com o Brasil durante outros tempos e com todos os países do terceiro mundo que precisavam de dinheiro.

O sonho de criar os BRICS era de criar um instrumento de desenvolvimento que fosse forte – e certamente será forte -, que empreste dinheiro na perspectiva de ajudar os países, e não na perspectiva de asfixiar os países. Porque senão, nós nunca iremos ter os países em desenvolvimento, os países mais pobres, conseguindo se desenvolver. E eu acho que não é justo terminarmos o século XXI como começamos o século XX: quem era rico ficou mais rico, e quem era pobre ficou mais pobre.

Não é possível admitir a ideia de que um país não pode dever. Todos os países podem dever, desde que o país tenha feito a dívida para contrair a construção de um empréstimo para fazer uma obra que crie um ativo novo para aquele país, uma obra que vai trazer mais futuro para aquele país, mais capacidade de investimento, mais capacidade de produção, mais capacidade de exportação.

Esse é o mundo que nós temos que enxergar. Não esse mundo obscuro de pessoas que parecem gênios e, quando quebra, como quebrou o Lehman Brothers em 2008, quem tem que arcar com as contas é o Estado. Não é o próprio banco que se salva, é o Estado.

Agora, com a quebra do Credit Suisse, que dava lição de sabedoria em todos os países do mundo, quem teve que salvar o banco foi o governo suíço, colocando 8% do PIB do país para salvar os bancos.

[…] Eu toda noite me pergunto por que todos os países são obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que nós não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade? Por que não foi o iene? Por que não foi o real? Por que não foi o peso? Porque as nossas moedas eram fracas, as nossas moedas não têm valor em outros países. Então se escolheu uma moeda sem levar em conta a necessidade que nós precisamos ter uma moeda que transforme os países em uma situação um pouco mais tranquila. Porque, hoje, um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar, enquanto que ele poderia exportar em sua própria moeda, e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso.

Porque que um banco como os BRICS não pode ter uma moeda que possa financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e os outros países dos BRICS?

Lula está absolutamente correto em suas colocações. Primeiramente, destaca de maneira acertada o papel do Fundo Monetário Internacional. De maneira mais clara, é uma organização imperialista que serve para impor a política econômica neoliberal sobre os países atrasados por meio de dívidas e juros exorbitantes. Nesse sentido, um instrumento de dominação do imperialismo ao redor do mundo.

O Banco dos Brics, portanto, é um projeto de extrema importância não só para os membros e agregados do bloco, mas para todos os países oprimidos pelo imperialismo. Já que representa, como destacou Lula, a possibilidade de uma colaboração que busca de fato desenvolver os países atrasados.

E países maiores, como a China e a Rússia, possuem interesse e necessidade em ajudar países menores, pois isso representa um enfraquecimento do imperialismo que, por sua vez, terá menos forças para estrangular financeira e politicamente os países maiores. Uma colaboração que beneficia todos.

Em segundo lugar, a caracterização de Lula da verdadeira ditadura que é o sistema bancário é precisa. As instituições financeiras privadas tem como único propósito enriquecer os seus donos e acionistas. Então, quando estão na beira da falência, jogam todo o peso da crise nas costas do povo, utilizando o Estado como boia salva-vidas.

Acabar com esse sistema parasita é essencial para exterminar as amarras que o imperialismo coloca sobre os países atrasados, e o Banco dos BRICS é um passo nessa direção. Todavia, não é o suficiente, pois chegará um momento em que, para desenvolver o país, será necessário enfrentar de uma vez por todas os bancos e confiscar as suas riquezas. Devolvendo ao povo o que sempre lhe pertenceu.

A situação do governo Lula

Sua postura internacional é exatamente a que deveria ter – considerando as limitações do caráter nacionalista de seu governo – internamente. O problema é que, neste momento, encontra-se cercado por todos os lados: pela imprensa burguesa, pelos militares, pelo Congresso Nacional, por parte dos ministros de seu próprio governo, pelo Banco Central. Enfim, não consegue levar adiante verdadeiras mudanças sociais e políticas, é um refém da burguesia.

Nessa linha, a medida em que suas posições tornarem-se cada vez mais radicais e entrem cada vez mais em confronto com o que quer o imperialismo, as grandes potências podem e, sem sombra de dúvida, irão se tornar mais agressivas com o Brasil. Seja por meio de sanções econômicas, boicotes diplomáticos ou, até mesmo, um novo golpe de Estado. Golpe que pode, inclusive, utilizar as Forças Armadas.

É imprescindível, por fim, que Lula se apoie no único setor capaz de lhe fornecer a força política necessária para enfrentar a burguesia: a classe operária. Nesse sentido, deve convocar o povo às ruas para pôr ordem na casa, revogando, em primeiro lugar, todas as medidas do golpe, que jogaram o povo em uma miséria sem precedentes. Assim, terá as condições necessárias para lutar contra o imperialismo e seus agentes em território nacional.

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