“Eu acho que o julgamento é político. Não tem uma base jurídica séria”. Foi assim que Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, iniciou sua participação no programa “Leonardo Attuch entrevista”, na TV 247. Pimenta foi entrevistado poucos minutos após o julgamento que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível.
“O grande fato que estaria sendo julgado é uma reunião que Bolsonaro fez com embaixadores de outros países. Uma prerrogativa de um presidente da República, de chamar uma reunião, de chamar pessoas para fazer uma reunião. Ele teria dito que as urnas brasileiras, que são urnas eletrônicas, são vulneráveis.Eu não vejo como isso pode configurar nenhum tipo de crime, nem mesmo eleitoral”.
Após criticar duramente a arbitrariedade do processo, Rui Pimenta dirigiu sua atenção ao comportamento da esquerda brasileira, que, em sua maioria, aplaudiu a decisão.
“Por que levantamos isso daí? “Na política brasileira, o normal é assim: se o que está acontecendo favorece você pessoalmente, você bate palma. Se não favorece, na pior das hipóteses, você fica quieto. É uma política de interesses privados”.
E continuou:
“A política correta não deve ser feita em função de interesses privados. Ela deve ser feita em função dos interesses públicos. Quer dizer, você colocar em primeiro lugar a defesa dos interesses populares, os interesses do povo brasileiro. A violação dos direitos democráticos de alguém, mesmo do Bolsonaro, não serve aos interesses do povo brasileiro.”
Rui Pimenta se mostrou bastante preocupado com o que virá após a condenação de Bolsonaro. “A esquerda que está apoiando, que está aplaudindo, vai pagar o preço do que está acontecendo. Já pagou, pois ficaram quietos em várias loucuras do Judiciário e o Lula foi condenado, na eleição de 2018, ele foi retirado da eleição, Bolsonaro ganhou, tivemos quatro anos de Bolsonaro etc.”.
Em determinado momento da entrevista, Attuch questionou se a tentativa de subverter o regime não seria considerado crime. Pimenta, então, respondeu:
“Do ponto de vista político, eu repudio o governo dele inteiro, de cabo a rabo. Mas do ponto de vista legal, qual seria o abuso? Ele se pronunciar contra o sistema eleitoral brasileiro? É um direito de todo cidadão brasileiro falar o que quiser sobre o sistema eleitoral brasileiro. Falar que as urnas são vulneráveis? É a opinião de muita gente no Brasil”.
O entrevistador ainda questionou ao presidente do PCO se as manifestações de 8 de janeiro não seriam suficientes para comprovar que Bolsonaro teria ido além de apenas criticar o sistema eleitoral. “O 8 de janeiro é muito depois da eleição”, disse Rui Pimenta. “E o 8 de janeiro precisaria estabelecer do ponto de vista legal a responsabilidade direta do Bolsonaro do ponto de vista individual, não como responsabilidade genérica, política, sobre os acontecimentos. Ele teria que estar organizando isso, ele teria que ter participado diretamente”.
Apesar de se colocar contra a cassação dos direitos de Bolsonaro neste processo, Rui Pimenta disse que seria favorável à abertura de uma investigação por outras atitudes de Bolsonaro, que verdadeiramente lesaram o País. “Eu, por exemplo, acho que um processo em torno da venda da Eletrobrás, que foi vendida abaixo do preço, o que indica uma atividade suspeita, merece uma investigação”. Eletrobrás, o que aconteceu na Petrobrás durante o governo FHC, a venda da Vale do Rio Doce, tudo isso aí é indicativo de ação ilegal por parte dos governantes. Bolsonaro, na minha opinião, deveria ser investigado pela privatização da Eletrobrás”.
Para o presidente do PCO, a decisão causará dois grandes efeitos. O primeiro será o fortalecimento da extrema-direita, que se dirá perseguida. O segundo será a recomposição do chamado “centro político”, isto é, dos setores diretamente vinculados ao imperialismo.