Bolsonaro pode ficar inelegível simplesmente por contestar a eleição, ou seja, emitiu uma opinião política sobre um processo político, que é a eleição. O julgamento, portanto, é totalmente político.
A burguesia nunca pode dizer quais são as suas reais intenções políticas. Por isso, ela não coloca seus tribunais para julgarem uma greve dizendo simplesmente que o direito de greve está proibido. Ela vai inventar outros motivos para proibir a greve, que pode ser desde a alegação de que “a população está sendo prejudicada” até a acusação de crime contra algum grevista.
Na política nacional, a burguesia, ou melhor dizendo, o setor mais poderosos dela, o imperialismo, está usando o mesmo método no que diz respeito à liberdade de expressão. Não é que ela quer acabar com esse direito e estabelecer uma censura, a burguesia nunca dirá isso abertamente. Ela estaria preocupada com uma suposta “ofensa” contra uma pessoa ou que aquela determinada opinião vai “gerar uma violência”.
Tanto no caso da greve, quanto no caso da liberdade de expressão a justificativa é puro cinismo que serve apenas para encobrir o real interesse político por detrás.
Incrível é que a esquerda de classe média, que se informa pela campanha da Globo, da Folha de S. Paulo e do Estado de S. Paulo, ou seja, pelo aparato de propaganda imperialista acredite em tudo isso.
Temos agora o caso do julgamento de Bolsonaro. Essencialmente, o ex-presidente da República, de extrema-direita, está sendo julgado no TSE por ter contestado as eleições e pode se tornar inelegível por causa disso.
Qualquer pessoa com no mínimo um neurônio na cabeça deveria ficar totalmente contra esse julgamento de Bolsonaro. Afinal, qual seria o problema de alguém contestar uma eleição? Por acaso, a eleição controlada pela burguesia é confiável, é plena de lisura? Devemos, então, acreditar que qualquer coisa controlada pela burguesia é confiável?
Claramente a esquerda está dando um tiro no próprio pé ao afirmar, sem refletir no problema, que sim. A esquerda não percebe que quem mais contesta a eleição – e com razão – é a esquerda, justamente porque o controle da burguesia visa em primeiro lugar tentar tirar a esquerda do páreo? Em nome de que a burguesia vai punir Bolsonaro, a esquerda fica a favor de um julgamento totalmente absurdo.
É preciso explicar o bê-a-bá da política para uma esquerda que está dominada pela ideologia imperialista. Contestar a eleição, não importa de que jeito seja, não pode ser um crime. A eleição, ou melhor, o modelo de eleição vigente é uma instituição política do Estado e como qualquer instituição pode e deve ser criticada.
Transformar em crime a contestação da eleição é abrir o precedente para tornar crime qualquer crítica ou contestação contra qualquer instituição. Criticar um deputado, deveria ser crime? Criticar o governo, deveria ser crime? Criticar o Congresso, deveria ser crime?
Criticar o Judiciário e um juiz, deveria ser crime?
A esquerda acredita que sim. Ela acha que o mundo é uma maravilha, então não precisamos criticar nem contestar nada.
É por isso que o julgamento de Bolsonaro é político. Ninguém pode ser acusado de cometer um crime por emitir uma opinião, seja ela qual for. Mais perigo ainda é que a opinião sobre a eleição é uma opinião política.
E quando for a esquerda contestando alguma ilibada instituição política? Aí, ela mesma já terá aberto o precedente para ser reprimida.