É pública e notória a intensa campanha que pode já ter selado o destino da presidenta da Caixa Econômica Federal (CEF), Rita Serrano, com a sua destituição em benefício de um apadrinhado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A campanha é tamanha que o reacionário jornal O Estado de S. Paulo, em editorial publicado na última sexta-feira (29), intitulado “Os insaciáveis glutões da República“, denunciou a extorsão contra o presidente Lula (de quem é ferrenho opositor) afirmando – dentre outras coisas – que “o governo é chantageado à luz do dia, sem qualquer constrangimento e com um grau de agressividade típico das máfias “. Expressando a preocupação de setores importantes da burguesia paulista que o jornal representa, com o aumento de poder – dentro do governo – da ala da direita liderada pelo ex-aliado de Bolsonaro que comanda o Centrão.
A campanha é tamanha que – segundo a imprensa capitalista e até setores ‘alternativos” – até mesmo setores do PT (de sua ala mais direitista) estariam cobrando do presidente a troca na presidência da Caixa, que teria sido acertada com o Centrão na reforma ministerial, por conta das chantagens que vem sendo feitas por parte desses “nobres senhores” de não votarem pontos de interesse do governo, principalmente na questão fiscal e orçamentária. Em outros termos, fala-se abertamente que sem ceder ainda mais ao Centrão – que já levou dois ministérios e centenas de outros cargos do segundo e terceiro escalões – o grupo de Lira não vai destravar a pauta econômica no Congresso.
“Dá ou desce”?
Na última semana, mesmo em meio aos preparativos de Lula para ser operado, a campanha recrudesceu.
No cerco contra o presidente, destacou-se publicamente a deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), que acabou sendo gravada ameaçando abertamente o governo federal, na figura do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT):
“Se a gente dançar, a Nísia (Trindade, ministra da Saúde) vai dançar também”
O próprio Padilha, sempre complacente e que chega mesmo a exaltar as investidas da direita sobre o governo, chegou a comparar a abordagem de parte da bancada do PSD a uma batida policial e se dirigiu aos repórteres afirmando:“Vocês viram o verdadeiro ‘baculejo’ que a Delegada Katarina deu em mim, vocês viram, né?”, disse o ministro, referindo-se à deputada Delegada Katarina (PSD-SE). Aos que se chocaram com a cena, Padilha ainda fez graça: “Vocês não têm ideia do que eles fazem comigo a portas fechadas”.
Abutres golpistas
Como prováveis candidatos para assumir a presidência da Caixa, surgem o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Bezerra Rodrigues Costa, e o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, ex-presidente do fundo de pensão dos funcionários do banco público, o Funcef, que também já foi secretário-executivo no Ministério do Desenvolvimento Regional na gestão Dilma Rousseff, e entregou o cargo após o PP votar a favor do processo de impeachment, em 2016. Vieira, o mais cotado como futuro presidente da Caixa, também foi diretor-presidente da BRB Financeira por indicação do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
O que se vê são “especialistas” ligados a setores da direita golpista, acostumados a servirem aos interesses da direita que não sai do governo, seja quem for o presidente, evidenciando que ganhar as eleições não significa – nem de longe – ter o controle das rédeas do poder.
É público também que Lira e o Centrão querem a Caixa de “porteira” fechada. Isto significa que, além da presidência do banco responsável por alguns dos mais importantes programas sociais do governo, como o Minha Casa, Minha vida, exigem todas as 12 vice-presidências do banco e controle sobre verbas bilionárias.
Aceitas as exigências, o governo não terá garantia de nada, a não ser de que novas exigências virão, porque nada aplaca a sede da direita por cargos e o interesse da burguesia golpista de cercar o governo Lula por todos os lados.
E a defesa da mulher?
Em um momento de intensa campanha identitária contra o governo Lula em torno da suposta defesa da indicação de uma mulher negra para o STF, com o claro apoio do imperialismo e da imprensa golpista, chama atenção que a campanha pela destituição da segunda mulher a ocupar a presidência da Caixa em seus 162 anos de existência (a primeira foi a também petista Maria Fernanda Ramos Coelho, em 2006, no segundo governo Lula), não tenha como contrapartida uma campanha efetiva em defesa da ex-dirigente cutista dos bancários da Caixa que atualmente preside o banco.
A ausência dessa campanha por parte de setores da esquerda, até mesmo dos que integram o governo Lula, deixa evidente uma vez mais que a “campanha em defesa da mulher” por parte de setores da esquerda só vale quando estão em disputa cargos que possam lhe interessar e quando isso serve também aos interesses da burguesia que comanda – por exemplo – o Partido da Imprensa Golpista (PIG), que cede espaço a essa mesma esquerda para usar a questão da mulher para defender seus próprios interesses contra o governo Lula.
Não é uma novidade. A maioria dessa esquerda, ou não moveu uma palha para defender a presidenta Dilma Rousseff diante do golpe de Estado ou até mesmo apoiou os golpistas.
Fica evidente também a paralisia das direções sindicais, de muitos setores que limitam sua ação a apoiar as poucas e ralas iniciativas do governo Lula e não tem uma posição independente nem mesmo quando se trata de defender uma companheira que, dentre outros cargos ,foi presidenta do Sindicato dos Bancários do ABC e representante eleita pelos trabalhadores na diretoria da Caixa, antes de assumir a presidência da CEF.