A área econômica do governo está finalizando uma proposta relativa ao controle dos gastos públicos, uma nova regra fiscal que substituiria o teto de gastos. Os detalhes relativos à medida, entretanto, não foram divulgados até o fechamento desta edição.
Durante a sua campanha, Lula deixou claro que, uma vez no poder, lutaria para acabar com o teto de gastos, uma herança do golpe de Estado que derrubou Dilma e colocou Temer, o pai da medida, no poder. Agora, o anúncio da nova proposta mostra que existe uma luta política entre as alas direitistas e as alas esquerdistas de dentro do Executivo, com as primeiras tentando pressionar Lula e Haddad a salvar a política de controle fiscal contra a revogação do teto.
O artigo Lula teme acusação de estelionato eleitoral em debate sobre nova regra fiscal, da Folha de S. Paulo, mostra de onde vem essa pressão. Segundo o jornal, “os princípios do projeto foram apresentados, em reuniões também restritas, ao Banco Central, à ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), e ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços”.
Em outras palavras, a política de manutenção do controle fiscal não é de Haddad, muito menos de Lula. É nitidamente uma política de Tebet, de Alckmin e de Campos Neto, ou seja, dos agentes da direita golpista que estão pressionando o governo. Finalmente, todos os citados estão a serviço dos banqueiros, os principais interessados em uma política direitista em relação ao teto de gastos.
Isso fica claro com o caso da ministra do Planejamento. Latifundiária e membro do MDB, Tebet quer que o presidente faça a política dela, a política da terceira via que foi derrotada nas eleições de 2022 com cerca de 4% dos votos no primeiro turno. Algo ínfimo quando comparado aos mais de 60 milhões de votos que Lula recebeu, um sinal de que o povo aprova a sua política e, consequentemente, o fim do teto de gastos.
A nova regra fiscal também é consequência de uma pressão dos bandidos e golpistas do Congresso. Vera Magalhães, em coluna ao Globo intitulada Marco fiscal já nasce refém, participa da campanha reacionária em prol do teto de gastos e mostra que Lula não é refém apenas da turma da Tebet, mas também, dos interesses próprios de Lira e do Centrão da Câmara dos Deputados.
A direita ligada à terceira via deixa claro que, para diminuir os juros criminosos do Banco Central, Lula precisa aprovar a regra fiscal que está sendo imposta por Tebet sobre Haddad. Entretanto, para fazer isso, também precisa atender os interesses de Lira, que pode barrar a regra no Congresso. Para tal, o presidente da Câmara exige a manutenção de seu controle sobre a tramitação das Medidas Provisórias (MPs) no Congresso, algo que começou a valer no começo da pandemia após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em linhas gerais, a situação é extremamente complicada para Lula. Refém dos bancos, torna-se também refém dos interesses do Centrão e, portanto, teria duas derrotas com a aprovação do marco fiscal: a primeira seria o projeto em si, já que se trata de uma reforma econômica direitista proveniente da terceira via que procura impedir o fim do teto de gastos; já a segunda, seria o controle cada vez maior de Lira sobre as medidas provisórias que o governo que aprovar no Congresso, como a volta do programa “Minha Casa, Minha Vida” e as alterações no Bolsa Família.
Ou seja, fica claro que há uma sabotagem sistemática contra Lula. A direita golpista, inclusive parte dela que estaria oficialmente apoiando o governo e a que está dentro do governo, está totalmente contra ele, defendendo com unhas e dentes os interesses da burguesia contra os interesses do povo. E são os banqueiros que estão por trás disso.
Nos últimos dias, foi publicada uma pesquisa por parte da Quaest que afirma que 98% dos maiores especuladores brasileiros estão contra a política de Lula. Logo, estão usando os seus agentes, como Tebet, para aplicar a sua própria política e mudar os rumos que Lula quer para o seu próprio governo. Em outras palavras, querem cometer um estelionato eleitoral, passando por cima da política que o presidente quer executar e, assim, emparedando o governo, transformando-o em refém.
Como visto anteriormente, Campos Neto tem um papel importante nisso, uma vez que ele não quer reduzir a taxa de juros justamente para atender à sede de lucro dos banqueiros parasitas. Apontado por Bolsonaro, o presidente do BC promove uma sabotagem total ao governo, mais uma justificativa para que a imprensa burguesa e a direita, no geral, possam pressioná-lo ainda mais.
Em suma, Lula está em uma verdadeira sinuca de bico. O que resta ao governo é o povo e, por isso, os maiores sindicatos do País e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) estão convocando, em conjunto com o Partido da Causa Operária (PCO) e os Comitês de Luta, um dia nacional de mobilização em 21 de março pelo Fora Campos Neto, contra a “autonomia” do BC e pela redução dos juros.
Trata-se de uma etapa fundamental na luta pela defesa dos interesses dos trabalhadores, pois Lula só conseguirá governar à esquerda com o apoio da mobilização da classe operária contra a pressão da burguesia. Caso contrário, a crise em seu governo poder aprofundar-se ainda mais, algo que, caso não seja combatido, pode resultar em sua queda por meio de ainda mais um golpe.