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Identitarismo

Deus não existe, mas é real

A reinterpretação da história pelos identitários

Newton

A filosofia idealista traça uma diferença inconciliável entre o real e o existente. O real não existe e o existente não é real.

Para entenderemos esse complicado tema da filosofia, será preciso explicar como se desenvolveu o idealismo.

O idealismo é uma escola da filosofia que entende que a ideia precedeu o mundo e que a realidade é mera representação de ideias.

Platão, por exemplo, pensava que existia um mundo das ideias, onde habitavam as almas antes de integrarem os corpos. Ali, naquele mundo, havia as coisas reais, universais.

Tomemos como exemplo uma cadeira. O que é uma cadeira? Se perguntarmos isso a uma pessoa, ela pensará numa determinada cadeira, ou em várias espécies de cadeira. Definirá cadeira pela experiência, por algo que viu. A ideia de cadeira, no entanto, não existe no mundo em que vivemos, existe apenas no mundo das ideias. É a cadeira ideal. É a cadeira que possibilita sua reprodução no mundo material. E assim são todas as coisas.

Tudo o que é real existe apenas no mundo das ideias. Quando as ideias são transportadas pelas almas ao mundo material, tomamos essas ideias para produzir a materialidade do mundo, ou seja, para produzir os objetos de que precisamos. Dessa forma, nada do que existe é real: é apenas aparência ou representação.

Ao dizer que as ideias precedem os objetos, dizemos que servem de modelo para o mundo material. Contrariamente a isso é o pensamento materialista que encontra os modelos no próprio mundo material. Para os materialistas, Deus seria criação do mundo, que projeta em Deus o medo que o homem tem da própria finitude.

Para os idealistas, no entanto, seria o predecessor do homem, pois o criou usando como modelo a própria figura. Mas Deus não tem figura, pois é imaterial. Contudo, ao servir de modelo, de ideia, é o ser real, enquanto o homem é mera sombra, mera representação. Dessa forma, existe o homem, mas Deus não existe: é um ser real.

Pensemos, então, na História, como ciência. A História não existe, é real. O que existe é o historiador, pois ele toma os modelos apresentados pela História para reproduzi-los no mundo material e explicar os fatos e acontecimentos do passado.

O historiador, todavia, pode valer-se de um modelo idealista ou materialista para explicar o mundo em que vive. Tomemos como exemplo a criação dos mitos.

Para os gregos antigos, não havia diferença entre fato e mito. A própria palavra mito, em grego, significa fato, narrativa, uma maneira de narrar aquilo que aconteceu. Não importava para esses povos saber se Aquiles e Ulisses existiram ou não. Eram lendas e, por isso, tinham existência real. Vejam que, aqui, o real e o existente se confundem. O que existe é real e o que é real existe… mesmo que não tenha existido. E é assim porque aquilo que chamamos hoje de mito habitavam o mundo dos antigos; os mitos estavam vivos ao lado dos antigos, assim como os deuses.

Tomemos, pois, um mito nacional: Tiradentes, o herói da pátria brasileira. Foi ele realmente um herói? Seu papel na conjuração de Vila Rica foi relevante? Ou teria sido ele uma simples criação dos republicanos positivistas, como procuram explicar os historiadores?

Mitos não se criam. Se não tiverem um pé na realidade do povo, não se firmam. O mito, enquanto ideia, é real, mas tem existência junto ao povo. A existência do mito é uma ambiguidade, pois o mito existe e não existe. Feliz foi Fernando Pessoa ao dizer que o mito é o nada que é tudo.

E infelizes são os historiadores que, em nome de uma pretensa verdade, procuram negar o mito. Tiradentes tem mais valor como mito do que como figura histórica e deve ser admirado por isso. Tirar o heroísmo de Tiradentes significa destruir o mito e desvalorizar o sentido heroico da pátria. Na verdade, pretende-se uma coisa, mas consegue-se outra. Pretende-se a verdade histórica, mas se enfraquece a pátria.

Hoje, a tendência predominante entre os historiadores é a reinterpretação a História. De fato, há certa importância nisso. O problema é o objetivo da interpretação, sobretudo quando se parte de uma ideia preconcebida. A importância reside no fato de que hoje se tem muito mais dados disponíveis para o pesquisador do que tínhamos há algumas décadas. Esse fato permite que se façam algumas correções importantes. No entanto, não se pode deixar de lado algo mais importante do que os novos fatos, que é a interpretação deles, a qual não pode deixar de ser materialista, ou seja, fundamentar-se na realidade do mundo, no fator social, na luta de classes e na produção da materialidade da vida.

Mas a grande maioria daqueles que se dedicam a reinterpretar a História o faz com fundamento num preconceito identitário. Tendo em mente a ideia de que a História é escrita pelos vencedores, seria hora de recontar a História do ponto de vista dos oprimidos. É possível, mas o problema é quem seriam os oprimidos: o negro, a mulher, as etnias desfavorecidas (seja lá o que isso signifique), os homossexuais, os índios. Qual seria o problema disso?

Vários. Primeiro: entre os oprimidos não estão os trabalhadores de hoje, o operário e o camponês. Segundo, quanto ao negro, a mulher, o índio, o homossexual, tudo isso são categorias abstratas. Não existem na realidade. Negro, mulher e índio só existem como categorias sociais, como entidades inseridas no mecanismo de produção da vida material.

Qual seria, por exemplo, a utilidade de se questionar a escravidão? De se dizer que o negro de hoje deriva de negras estupradas no passado. Que utilidade tem isso para o mundo material?

O papel da filosofia, segundo Marx, não é o de interpretar o mundo, mas o de mudá-lo. Assim também deve ser o papel da História. Dizer que o negro teve um passado ruim serve, apenas e tão-somente para justificar o presente ruim e perpetuar essa condição para o futuro.

A emancipação do negro, da mulher e de todos os oprimidos em geral não se dará por meio de uma luta contra a História. Dar-se-á por meio da luta contra o opressor, que é o burguês. E essa luta se chama revolução.

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*As opiniões dos autores não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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