O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) iniciou acertadamente em abril a Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária, garantida pela Constituição de 88, com a ocupação de ao menos nove fazendas, incluindo uma área que pertence à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além de sedes do Incra em ao menos sete unidades da federação que se encontravam ociosas.
Estas reações dos trabalhadores que há anos sofrem ataques contra os seus meios de produção provocaram ações ofensivas do agronegócio, que domina a maior parte do Congresso brasileiro, e que levou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a ler em 26/04 o requerimento para a criação de uma CPI para investigar a atuação do MST.
Um militar e bolsonarista, o Tenente-Coronel Zucco (Republicanos – RS) vai ser o presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que vai investigar o próprio MST, a quem Zucco declara que são terroristas. Isso demonstra que o agronegócio domina o Congresso e não respeita a Constituição Federal, e usa a legislação para atacar a classe trabalhadora, ignorando o item da Constituição que defende a Reforma Agrária como um princípio democrático, direito dos trabalhadores.
A criação da CPI do MST foi proposta por Zucco e pelos também deputados federais Kim Kataguiri (UB-SP) e Ricardo Salles (PL-SP) com o objetivo de criminalizar ocupações de terra feitas pelo movimento. Na quarta-feira (15), alcançou o número mínimo de assinaturas para ser instalada, em uma ação coordenada pela bancada ruralista.
O empresário do Rio Grande do Sul, Celso Rigo, dono da indústria de beneficiamento de arroz Pirahy Alimentos, conhecida como Prato Fino, foi o empresário que doou a maior quantia para a campanha de Zucco (Republicanos) nas eleições de 2022. Foram R$ 60 milhões para o deputado que é o autor da criação da CPI do MST.
Segundo o portal Brasil de Fato “a doação de Rigo chama a atenção, já que o MST ganhou destaque nos últimos anos por ser o maior produtor de arroz orgânico da América Latina”. A empresa de Rigo, Prato Fino, é a terceira maior beneficiadora de arroz no RS.
Além de Rigo, o CEO da Gerdau, doou R$ 25 mil à campanha de Zucco. O MST e a Gerdau já se enfrentaram algumas vezes, como quando, por exemplo, em 2019 trinta famílias dos sem terra foram ameaçadas em uma ocupação, na qual estavam desde 2017, e tiveram suas casas queimadas. Os agressores foram homens de moto que atearam fogo em seus barracos, quando invadiram o acampamento gritando “vamos matar todo mundo”
A cena se passou na fazenda Santa Bárbara, uma terra pública registrada no nome do Estado de Minas Gerais, que estava sendo explorada irregularmente pela Gerdau, a maior empresa brasileira produtora de aço que vende o metal a preços altíssimos no mercado interno e a preço baixíssimo para o mercado externo.
Outro episódio da relação do MST com a Gerdau foi em 2016, em uma fábrica da Gerdau/Açonorte, em Recife (PE), que amanheceu fechada por cerca de 200 militantes sem-terra.
À luz desses acontecimentos fica clara a intenção de Zucco e o porque o seu financiamento de campanha. Tivemos, em 2016, um amplo setor da esquerda dizendo que não ia ter golpe. Vemos hoje, em pleno retorno do governo Lula e com um Estado ainda dominado pela mesma burguesia que deu o golpe de 2016, novamente, o mesmo tipo de discurso por parte dos mesmos setores da esquerda.
Em visita à 4ª Feira da Reforma Agrária, realizada pelo MST, o ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Paulo Pimenta, disse que a CPI mostrará que o MST é um dos maiores produtores de alimentos do país, a questão da premiação como produtores de arroz orgânico, que foi usado como mote da campanha do presidente Lula.
Pimenta disse ainda que não tem preocupação de que a oposição possa utilizar a CPI da Câmara para atacar o governo. Com essa atitude o político desmobiliza os setores combativos do próprio partido contra um ataque político direto de empresários ao governo Lula, que financiaram seus políticos da direita e da extrema-direita contra o governo Lula e acaba por se colocar em defesa da burguesia, não se posicionando em prol do governo; minimiza a ofensiva da burguesia. É um erro político grande não denunciar as ações da burguesia contra o governo e não convocar a população, a protagonista do governo, em sua defesa.