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Eduardo Vasco

“Cuba é o país mais livre do mundo”

Militante e jornalista do PCO que esteve na ilha relata suas impressões sobre a situação social, política e econômica do país

No último domingo (21), foi realizada uma reunião ordinária do Comitê Central Nacional do Partido da Causa Operária (PCO), em São Paulo. Compareceram os membros titulares e suplentes do CC, bem como militantes convidados.

O companheiro Eduardo Vasco, convidado para a reunião, apresentou um informe após ter passado três semanas em Cuba como parte da delegação do Partido que foi convidada pelo Partido Comunista de Cuba para participar do Encontro Internacional de Solidariedade a Cuba, ocorrido em Havana. Ele também realizou entrevistas e coletou material para escrever um livro-reportagem sobre os efeitos do bloqueio econômico do imperialismo contra a ilha.

A seguir, leia o informe do companheiro Vasco sobre a situação econômica, política e social de Cuba, vitimada pelo criminoso bloqueio que impede o país de fazer comércio com o resto do mundo, gerando a escassez de todos os tipos de produtos e serviços básicos para a população:

Primeiramente, se você conversa com os cubanos e fala da situação do campo, da violência no Brasil, o pessoal nem acredita. Não sabe o que acontece aqui. Eles pensam que em Cuba tem repressão. Falam que se você gritar ‘liberdade’, a polícia vai atrás. Imagina, o pessoal acha que aquilo lá é ostensivo. 

Também existe muita “fake news” contra Cuba, inclusive dentro de Cuba, e o governo não censura as redes sociais. Há pessoas que acham que deveria censurar. Como o imperialismo não tem o controle dos meios de comunicação de Cuba, a Internet é por onde ele consegue penetrar a sua propaganda. O máximo de censura que é o como no exemplo a seguir: houve um determinado dia que teve um pequeno protesto em uma cidade do interior de uns “gusanos” e, quando é assim, o governo corta a comunicação daquele local pelas redes sociais, para os manifestantes golpistas não terem visibilidade, que é o que eles mais buscam. Mas, fora isso, os detratores falam as maiores barbaridades contra Cuba e não tem repressão. Eu falei: ‘que interessante, no Brasil a esquerda quer censurar’. Os caras acharam uma aberração. 

Outra coisa, a questão do armamento. Os trabalhadores têm acesso às armas, que são guardadas em bairros, que estão sob controle das organizações populares. Para que, caso precise, por uma invasão dos EUA, por exemplo, eles ajam imediatamente. O armamento individual não é permitido, porém ele está controlado pelas organizações populares para ser utilizado quando for necessário. E todo o povo de Cuba tem treinamento militar. Além do serviço militar obrigatório, tem os exercícios cívicos militares, que depois Hugo Chávez introduziu na Venezuela. O pessoal sabe usar armas e sabe que terá o acesso quando for necessário. 

Eu falei da questão da polícia, e não vi nenhum sinal de repressão. A própria polícia é formada por cidadãos comuns, com um uniforme simples e um cassetete, que se dão bem com os pedestres nas ruas, não andam a cavalo, não apresentam nenhum tipo de hostilidade. Se você mostrar as imagens da Polícia Militar brasileira para eles, não vão acreditar. Cai por terra a ideia de que é uma ditadura policial, militar. É o país mais livre do mundo. O pessoal dentro do ônibus critica o governo, ouvi gente dizer que o presidente Díaz-Canel está cometendo muitos erros, que com o Fidel era melhor. Inclusive alguns acham que deveria trocar de governo etc. A impressão que tenho é que os próprios militantes e dirigentes do partido são muitos críticos. 

Mas o que a direita costuma falar, de que os cubanos estão cansados do comunismo, é um absurdo. É mais ou menos como a população aqui critica um governo, mas não está criticando o sistema capitalista. Se eles querem uma mudança, não é uma mudança de regime social. Até alguns que acham que deveria ter reformas de mercado, conversei com um cara bem pobretão, meio despolitizado, ele falou que Cuba era meio que uma ditadura militar. Eu falei do bloqueio a ele, mas respondeu que se o governo tivesse disposição ele resolveria isso. Mas dá para ver que a questão da saúde, as questões que a revolução resolveu, eles não acham que tem que mudar e que a mudança que eles querem não tinha que mexer nisso. 

Uma coisa é que o país está muito pior que há um ano, porque nos últimos trinta anos o país sofre muito por causa do bloqueio. Os EUA recolocaram Cuba na lista de países patrocinadores de terrorismo, com o Trump vieram mais medidas para recrudescer o bloqueio, veio a Covid e Cuba se fechou com a Covid, e a receita vem praticamente toda do turismo. Os gastos que vinham de vários setores tiveram de ir para a saúde. Passou a pandemia, o Estado está praticamente com os cofres zerados.

Por causa disso, o povo está precisando de tudo. Leite, por exemplo, que eles tinham antes, agora é só para crianças de até 7 anos no carnê do governo. Eles não tem remédio, é um desastre. A internet lá não funciona bem. Quase não há wi-fi, o usuário tem que comprar dados, e os dados móveis são muito lentos. Por isso que o pessoal assiste tanta novela e o acesso ao Youtube, por exemplo, é muito reduzido.

Faz mais de um mês que há uma crise enorme de combustíveis. Existe um racionamento para os motoristas. A guerra na Ucrânia atrapalhou muito, a Venezuela envia barcos mas os Estados Unidos não deixam entrar. E também a Venezuela está afetada. O principal parceiro é a Rússia. Até um taxista brincou, sabendo que até mesmo a Rússia teria dificuldades para comercializar com Cuba: “mas quem vai dizer não ao Putin?”

Os cubanos são muito agradecidos ao Lula pelo Porto de Mariel, pelo Mais Médicos. Nesse momento aqui, já não tem mais nada lá. O bloqueio se recrudesceu muito. Falta papel, falta papel higiênico, não tem guardanapo nos restaurantes. Às vezes, eles dão um guardanapo para cada pessoa, não tem água nos restaurantes, as casas todas estão muito deterioradas. Eu entrevistei bastante gente sobre tudo, não tem cimento, a inflação eles falaram que está alta, daria para ficar horas e horas falando do sofrimento que eles estão passando, por causa do bloqueio econômico.

Muitos jovens querem sair de Cuba para enviar dinheiro para seus parentes. Uma jovem com quem conversei disse: ‘a minha mãe mora em uma cidade a 2 horas de Havana, ela trabalha na confecção de charutos, não aguento mais ela falando que falta isso, falta aquilo’. 

Acho que risco de o governo cair, não há. Eles já passaram por tanta coisa, parece que há uma firmeza do regime bem grande. Mas é realmente asfixiante a situação que lhes foi imposta. Não dá para viver naquela situação. 

Por um lado, dá para contar nos dedos de uma mão as pessoas que poderiam estar morando na rua, embora seja mais gente que tenha problema de alcoolismo, não exatamente como ocorre no Brasil. A pretensa mendicância que existe é, menos uma situação real, e mais uma tentativa de tirar uma lasquinha dos turistas. Mendicância e morador de rua, não tem nada parecido. Só que o pessoal está na pobreza e é uma coisa impressionante. Se não fosse a revolução cubana, o pessoal estaria morto de fome. A revolução cubana é o que segura o povo para que não morra de fome.

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