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Como destruir um bairro

Cracolândia: não se resolve problema social com repressão

Ganância fez com que uma região inteira sofresse degradação, de forma proposital. Agora querem tomar à força. Gentrificação corre solta

Situada no centro antigo de cidade de São Paulo, a região ocupada por dependentes químicos, mais conhecida como Cracolândia, vira e mexe aparece na imprensa. São geralmente notícias de caráter catastrófico, imagens de pessoas com dependência química, abandonas pela sociedade, vagando como zumbis, são essas as imagens que a imprensa golpista gosta de propagar. Para combinar, cenas de moradores e comerciantes locais protestando, exigindo das autoridades mais policiamento, pois desejam ardentemente paz no local de convívio. E quem não quer? E por que isso acontece nessa região? Vamos ver um pouco a sobre a Cracolândia.

A Cracolândia abrange a região que engloba as avenidas Duque de Caxias, Ipiranga, Rio Branco e Cásper Líbero. Também a rua Mauá, Estação Júlio Prestes, Alameda Dino Bueno, Praça Princesa Isabel, Rua Helvetia, Alameda Cleveland e adjacências. Engloba os bairros de Santa Cecília, Luz, República, Santa Ifigênia e Campos Elíseos.

As localidades citadas fazem parte daquilo que deveria ser o cartão postal da cidade de São Paulo. Como a Estação Júlio Prestes, fundada originalmente em 1872 pela companhia Estrada de Ferro Sorocabana (FEPASA) próxima à atual Estação da Luz, sendo uma das ferrovias mais importantes do Brasil, conectando interior paulista com o porto de Santos. A atual estação foi fundada em 1938 no bairro de Campos Elíseos. Abandonada com a falência da FEPASA, foi restaurada para virar uma sala de concertos na década de 90. As avenidas Ipiranga, Rio Branco e Duque de Caxias, são frequentemente são citadas nos textos turísticos. São endereços com registros históricos que remontam ao século XVIII. Como o bairro dos Campos Elíseos, que foi o primeiro bairro planejado da cidade, abrigando mansões dos barões do café.

A região muito visada, a degradação atual é o resultado de abandono do poder público. Esse processo se iniciou com a instalação de uma rodoviária interestadual, o Terminal Rodoviário da Luz, um projeto desastroso, pois a região não comportava o intenso fluxo de meio de transporte urbano, que foi posteriormente transferido para Zona Norte em 1982. O transtorno causou a debanda de escritórios para outras regiões, como entorno da Avenida Paulista. Os moradores com recursos fugiram para outros bairros planejados, como Higienópolis, Jardins, Morumbi, Pacaembu, Alto da Lapa, Alto de Pinheiros etc.

As mansões ou foram demolidas, ou tornaram-se cortiços. Com isso a degradação foi aumentando, o que fez surgir até mesmo uma favela no terreno desocupado de CPTM. A região, porém, com a decadência financeira, atraiu também artistas em busca de espaço amplo e barato. Formou-se o polo cinematográfico – desde década de 1920, na década de 60 e 70 – a região tornou-se reduto de cinema independente. Essa área era mais conhecida como Boca do Lixo.

A Cracolândia

É nos anos de 1990 que a região conhece a verdadeira decadência, tornando-se o que se conhece atualmente como Cracolândia. Ao mesmo tempo que tentam reerguer a região com a construção de Sala São Paulo na Estação Júlio Prestes, as ruas são tomadas por pessoas doentes.

Desde 2005, a prefeitura de São Paulo tenta controlar a região com o aumento do policiamento. Em 2007 começa o projeto Nova Luz, tentando estimular o comércio local. Em 2012 começa a Operação Centro Legal, também conhecida como Operação Sufoco, uma parceira do Estado com a prefeitura, mais especificamente do governo Alckmin com Gilberto Kassab. Operação de repressão policial, essa operação recebeu várias denúncias de profissionais que atuam no setor de direitos humanos. Como resultado dessa violência contra dependentes, as pessoas foram espalhando pela toda cidade de São Paulo, principalmente nos bairros vizinhos, como Barra Funda, Higienópolis, Santa Cecília e Luz.

As pequenas Cracolândias foram espalhando por toda cidade, principalmente embaixo de viadutos. As denúncias de abuso de poder policial não são apenas de profissionais do terceiro setor, mas de várias testemunhas. As violações contra os dependentes químicos da Cracolândia ferem os direitos humanos e são relatados são cenas de barbárie. Uso de spray pimenta, tiros com balas de borracha são comuns nas operações policiais contra dependentes químicos.

De 2012 para cá, 11 anos já se passaram. A Operação Centro Legal, que iniciou tentando internar de forma forçada os dependentes químicos, não surtiu efeito como o governo tinha prometido, apenas piorou com o tratamento digno de campo de concentração. Tratam os dependentes como criminosos, e não como doentes que precisam de tratamentos médicos. O projeto de 2012 tem uma única razão para ter surgido neste ano. Pois foi neste ano que o Estado começou a divulgar estudos de expansão de linhas de metrô, apesar de que muitas delas nem saíram de papel, e alguns foram ressuscitadas após a pandemia.

A notícia de nova linha metroviária animou a burguesia, que finalmente encontrou um meio de lucrar com terrenos tanto tempo largados, abandonados e desvalorizados. Do nada pipocaram inúmeros lançamentos imobiliários na região. Prédios novos com conceitos modernos para atrair a juventude endinheirada.

Para que esse empreendimento tivesse sucesso, tinha uma pedra no meio do caminho. Seria necessário expulsar os dependentes químicos que ocupavam o lugar. A burguesia utiliza a força do Estado, e manda a polícia militar e guarda civil metropolitana para resolver o “problema”. Não conseguiram ter sucesso em 2012, mas eles não ligam para isso. Pois com a degradação a região desvaloriza cada vez mais, facilitando para a burguesia negociar o preço cada vez mais baixo. O apelo dos pequenos comerciantes prejudicados não aflige os realmente endinheirados. A força bruta policial aqui é utilizada somente como tentáculo do Estado e da burguesia para provocar os dependentes e atiçar os comerciantes a repelir para repeli-los.

Já vimos este filme. É igual à Revolução de Fevereiro, na França do século XVIII, onde o Estado usou a força militar para atacar o próprio povo. Atualmente as coisas são mais sofisticadas e dissimuladas. Mas a permanência da existência da Cracolândia só tem uma causa: ganância da burguesia.

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