Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Direito ou privilégio?

“Cotas trans” ou como não lutar por uma universidade popular

A esquerda pequeno-burguesa faz demagogia identitária, mas não levanta a luta pelo fim do vestibular e o livre ingresso na universidade

Um artigo do sítio Esquerda Online, ligado ao grupo Resistência, corrente interna do PSOL, sobre a greve das universidades estaduais de São Paulo, aproveita para defender as cotas trans para as universidades públicas.

Na matéria, chamada “Unicamp: unificar as lutas em São Paulo, guerra ao governador! Cotas trans, já!”, após dizer algumas palavras sobre a greve estudantil, afirma o seguinte:

“A luta pelas cotas para pessoas trans vem na esteira das conquistas recentes das cotas étnico-raciais a partir de 2017 nas universidades estaduais paulistas (USP, UNESP e Unicamp).”

Tal frase é o cerne de toda a questão. A esquerda pequeno-burguesa se confundiu com a reivindicação de cotas para negros nas universidades, uma luta de anos do movimento negro. A falta de parâmetro político e social, faz o autor do texto achar legítima a comparação entre cotas trans e cotas raciais. Mas uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.

Antes de continuar, é preciso dizer claramente que não há nenhum problema de uma pessoa trans entrar na universidade. A questão é se é legítima, do ponto de vista de uma política popular, ou seja, para as massas, a reivindicação de cotas para trans.

Em primeiro lugar, é preciso dizer que a política de cotas nas universidades é totalmente insuficiente e não resolver, nem de longe, os problemas. A única política correta para as universidade é o fim do vestibular e o livre ingresso, o que garantiria a toda a população o acesso.

A política de cotas raciais, embora muito limitada, foi uma reivindicação legítima do movimento negro porque leva em consideração que a maioria da população está fora das universidades. Garantindo que mais negros ingressem na universidade, se está dando uma oportunidade maior para a maioria da população que acaba sendo excluída por enfrentar maiores dificuldades sociais.

O importante aqui é frisar bem: 1) estamos falando da maioria da população brasileira; 2) essa politica é muito limitada. A proposta teve um conteúdo positiva na medida em que fazia parte das reivindicações do movimento negra e fazia avançar a política de acesso às universidades. Além disso, essa política só fazia sentido se viesse junto com a reivindicação do fim do vestibular.

Veja que a questão das cotas trans não tem absolutamente nenhuma relação com isso. As estimativas mais exageradas apresentadas pelas organizações que representam os LGBTs, dizem que o Brasil teria aproximadamente 3 milhões de pessoas trans.

Parece superestimado, mas contando que esse número seja real, significa cerca de 2% da população adulta. Já a população negra e parda no Brasil chega a 56%.

Apenas a diferença de números apresentada já mostra porque não faz sentido a reivindicação de cotas para trans e porque não tem nada a ver com a cota racial.

A defesa de cotas trans, diferente do que são as cotas raciais, acaba sendo um privilégio para uma ínfima minoria de transssexuais. E quando dizemos minoria, estamos falando de uma minoria dentro de uma minoria.

O próprio artigo afirma que “Cerca de 72% das pessoas trans não concluíram o ensino médio e 56% não concluíram nem mesmo o ensino fundamental.” Ou seja, estamos falando de uma população extremamente marginalizada. O problema da maioria das pessoas trans está muito longe de ser a universidade. É preciso antes de qualquer coisa dar condições para que essas pessoas possam ter uma vida digna.

Os trans que podem se preocupar com estar ou não na universidade é a ínfima minoria de um setor já ultra minoritário da população. No fim das contas, seria como se o movimento estudantil estivesse pedindo um privilégio para um setor da população. E pior, é exatamente assim que vai aparecer para o povo.

O artigo continua, dizendo que “é preciso encampar a luta por direitos das pessoas trans como parte das tarefas no enfrentamento da extrema-direita paulista e do governo Tarcísio.” Mas será que falar em cotas para trans é falar em direitos? Como vimos, claramente não. O direito das pessoas trans seria garantir saúde, garantir educação básica, garantir que essas pessoas não sofram com a violência, ou seja, direito básicos. Isso não tem nada a ver com dar cotas para trans.

O movimento estudantil deve, sim, lutar pelos direitos das pessoas trans, assim como deve lutar pelos direitos de todos. Mas a tarefa tradicional do movimento estudantil é transformar a universidade em um local popular, em que o povo trabalhador possa ter acesso. Lutar por cotas de um setor ultra-minoritário da população, além de ir contra esse princípio, é jogar o povo contra o movimento estudantil. Por que um trabalhador comum também não teria direito a uma cota na universidade? Se uma pessoa trans pode ter esse direito, por que outros setores, não?

A ideia apresentada no artigo e defendida por uma boa parte da esquerda identitária é impopular. E não só isso, cria diante da maioria do povo, a sensação de que os trans seriam pessoas privilegiadas, indispondo esse setor com a população.

Além disso, tudo, chama a atenção que quase a totalidade das correntes de esquerda pequeno-burguesa que atuam no movimento estudantil não levantam seriamente a palavra de ordem de fim do vestibular e livre ingresso. Isso mostra que a política de cotas nada mais é do que pura demagogia com determinados setores, apenas isso.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.