Um grupo de três congressistas norte-americanos propôs o envio das forças armadas do país para intervir no México. Para eles, haveria a necessidade de tal intento para combater o narcotráfico mexicano, que teria virado um problema para os cidadãos dos Estados Unidos
Logo após dessa declaração dos congressistas, o The Wall Street Journal e a MSNBC se lançaram em defesa da proposta de invadir o México. A necessidade de ocupar militarmente o país seria, única e exclusivamente, para combater os cartéis, garantem os jornalistas.
No entanto, é relativamente difícil acreditar em tal versão. Afinal, a campanha contra o narcotráfico vem logo depois da proposta de reforma do sistema eleitoral apresentada pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, que ensejou manifestações com milhares de direitistas no centro da Cidade do México.
O descontentamento da burguesia com o projeto de reforma eleitoral mexicano foi tamanho, que até jornais brasileiros criticaram o presidente Obrador. Por exemplo, a Folha de S. Paulo publicou uma notícia em que caracteriza a reforma como inconstitucional e que afirma que ela favoreceria o atual presidente no futuro pleito.
Portanto, é-se obrigado a supor que a defesa de uma invasão militar norte-americana no México, imediatamente após esses significativos acontecimentos, pouco têm a ver com o narcotráfico. Inclusive, vale ressaltar que o presidente mexicano, López Obrador, se opôs à medida, que significaria uma verdadeira ocupação territorial do México pelos Estados Unidos.
A proposta norte-americana consiste em um duríssimo ataque à soberania nacional do México. Antes de tudo, é um precedente terrível para ser usado contra os países atrasados, em especial contra os países latino-americanos. Obrador está correto em não ter aceitado a “ajuda”; no entanto, é relativamente complicado acreditar que os Estados Unidos não seguirão na campanha para intervir no México só porque Obrador se opôs.
Antes o oposto, um congressista, autor do projeto original, chegou a publicar um vídeo em que exorta o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a conversar com Obrador e a conseguir intervir no México. O deputado ainda questiona o porquê de o presidente mexicano ter recusado um apoio tão genuíno quanto o dos norte-americanos: nas palavras do deputado, os EUA seriam amigos do México, enquanto os narcotraficantes seriam um inimigo em comum.
Entretanto, o vídeo não teve um tom ameno. O deputado cita diversos males que os cartéis mexicanos teriam provocado aos Estados Unidos e, com base nisso, exige que o México acate sua “ajuda”, pelo bem dos cidadãos estadunidenses. Tal discurso indica uma certa propensão à invasão.
Naturalmente, os mexicanos não devem abaixar a cabeça para este tipo de provocação. É preciso defender a sua autodeterminação e sua soberania sobre o próprio território. São completamente inaceitáveis as tentativas dos Estados Unidos de ocuparem militarmente o país, ainda mais sob um pretexto tão fajuto quanto este. Os mexicanos devem sair às ruas contra os ataques à sua soberania promovidos pelos congressistas norte-americanos: tal é a única defesa real do país e o único meio efetivo de reagir a estas agressões.