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Arquivos das aldeias

Como o sionismo preparou o terreno para atacar a Palestina

O sionismo viu a necessidade de sistematizar as informações a respeito de toda a população que habitava a Palestina, para poder realizar sua operação de limpeza étnica

Este Diário vem publicando uma série de matérias expondo o histórico da região da Palestina e de como a criação de “Israel” se deu através de uma limpeza étnica da região, a qual contou com a imprescindível ajuda do imperialismo britânico, norte-americano e do stalinismo e foi colocada em prática por milícias fascistas do sionismo, que se utilizaram da mais abjeta violência.

Para que “Israel” fosse fundada sobre a Palestina, ou seja, um Estado supremacista judeu, tiveram de expulsar, de início, quase 1 milhão de palestinos. Como dito acima, fora necessária a mais vil crueldade. Puro fascismo de milícias como a Haganá, o Irgun, a Gangue Stern e a Palmach.

Ao primeiro momento, como é de se esperar, os ataques não eram ordenados e sistematizados o suficientes a ponto de conseguirem promover uma Nakba de pronto. Ou seja, promover uma expulsão massiva dos palestinos de suas terras, naturalmente, como acontece em todo processo de colonização.

Assim, o sionismo viu a necessidade de sistematizar as informações a respeito de toda a população que habitava a Palestina, a população não-judia, a população árabe. Sistematizar as informações sobre todos os vilarejos palestinos, a fim de que, quando a hora chegasse, o sionismo pudesse fazer uma espécie de blitzkrieg, ou mesmo uma operação barbarossa, com a licença da analogia militar imprecisa.

Os sionistas passaram, então, a buscar informações, tanto em arquivos disponíveis, quanto a realizar estudos e investigações in loco de absolutamente todos os vilarejos palestinos, coletando informações e agindo com pura espionagem.

Isto é detalhadamente retratado no livro “A Limpeza Étnica da Palestina”, de Ilan Pappe, historiador judeu israelense, que inicia um título específico destinado aos “arquivos das aldeias” expondo que o sionistas viram a necessidade de sistematizar as informações das mesmas para conseguir alcançar seu objetivo de erguer “Israel”:

“Mais do que apenas saborear a excitação de atacar uma aldeia palestina, era necessário um planejamento sistemático. A sugestão veio de um jovem historiador de óculos da Universidade Hebraica chamado Ben-Zion Luria, na época funcionário do departamento educacional da Agência Judaica. Luria destacou o quão útil seria ter um registro detalhado de todas as aldeias árabes e propôs que o Fundo Nacional Judaico (FNJ) realizasse esse inventário.”

E então ele explica o que era o tal Funda Nacional Judaico, e qual era sua relevância para o levantamento das informações:

“O JNF (Fundo Nacional Judaico) era a principal ferramenta sionista para a colonização da Palestina. Ele atuou como a agência usada pelo movimento sionista para comprar terras palestinas nas quais então assentava imigrantes judeus. […] ele liderou a sionização da Palestina ao longo dos anos do Mandato […] Sua principal prioridade na época era facilitar o despejo de inquilinos palestinos de terras compradas de proprietários ausentes, que provavelmente residiam a certa distância de suas terras ou até mesmo fora do país, já que o sistema do Mandato havia criado fronteiras onde antes não existiam […]”.

Ainda segundo Pappe, o apoio entre o sionistas para o mapeamento e levantamento das informações das aldeias era unânime. Todos viam como necessário para o triunfo de seu projeto de Estado judeu na Palestina. Para isto, vários especialistas universitários foram contratados para o serviço:

“Todos os envolvidos se tornaram fervorosos apoiadores da ideia. Além de registrar topograficamente o layout das aldeias, o projeto também deveria incluir a exposição das “origens hebraicas” de cada vila. Além disso, era importante para a Haganá saber quais das vilas eram relativamente novas, já que algumas delas foram construídas “apenas” durante a ocupação egípcia da Palestina na década de 1830. No entanto, o principal esforço era mapear as vilas, e por isso um topógrafo da Universidade Hebraica que trabalhava no departamento de cartografia do Mandato foi recrutado para o empreendimento. Ele sugeriu realizar levantamentos fotográficos aéreos e mostrou orgulhosamente a Ben-Gurion dois mapas aéreos para as vilas de Sindiyana e Sabbarin.”

Igualmente, os melhores fotógrafos do país. Inclusive, o chefe do Palmach, unidade de comando do Haganah, milícia fascista do sionismo, mostrando já qual era a intenção dos sionistas com o mapeamento das vilas: um ataque militar sem precedentes:

“Os melhores fotógrafos profissionais do país foram convidados a se juntar à iniciativa. Yitzhak Shefer, de Tel Aviv, e Margot Sadeh, esposa de Yitzhak Sadeh, o chefe do Palmach (as unidades de comando da Haganá), também foram recrutados.”

E quais foram os resultados? Detalhes precisos dos vilarejos. Tanto no que diz respeito à topografia, quanto aos aspectos demográficos, sociais e políticos, inclusive com dados de natureza claramente persecutória. Ou melhor, que visavam a tais fins, eventualmente:

“Até o final da década de 1930, este “arquivo” estava quase completo. Detalhes precisos foram registrados sobre a localização topográfica de cada vila, suas estradas de acesso, qualidade da terra, nascentes de água, principais fontes de renda, sua composição sociopolítica, afiliações religiosas, nomes de seus muqtares, seu relacionamento com outras vilas, a idade de homens individuais (de dezesseis a cinquenta anos) e muito mais. Uma categoria importante era um índice de “hostilidade” (em relação ao projeto sionista, isto é), decidido pelo nível de participação da vila na revolta de 1936”.

Parte superior do formulário

Os sionistas fizeram questão de listar palestinos que estiveram envolvidos em lutas revolucionárias anteriores contra o imperialismo britânico, e também contra sionistas ou mesmo contra judeus. Era uma clara sistematização para fins de um futuro ataque militar:

“Havia uma lista de todos que estiveram envolvidos na revolta e das famílias daqueles que perderam alguém na luta contra os britânicos. Uma atenção especial foi dada às pessoas que supostamente tinham matado judeus. Como veremos, em 1948, esses últimos detalhes de informação alimentaram as piores atrocidades nas aldeias, resultando em execuções em massa e tortura”.

Aliás, isto foi nota por membros da própria Haganá, que participou de uma das operações de reconhecimento, conforme expõe Pappe em seu livro:


“Os membros regulares da Haganá que foram encarregados de coletar os dados em ‘missões de reconhecimento’ nas aldeias perceberam, desde o início, que isso não era apenas um exercício acadêmico de geografia. […] Ele lembrou muitos anos depois: Tivemos que estudar a estrutura básica da vila árabe. Isso significa a estrutura e a melhor forma de atacá-la.”

Ademais disto, foi criada uma sistemática rede de espiões. Em 1943, os sionistas estavam satisfeitos com a rede que haviam criado e tornaram e aproveitaram para reorganizar os arquivos das aldeias que já existiam, para torna-los ainda mais sistematizados, com as novas informações providas pelos informantes da população local:

“Os arquivos na era pós-1943 incluíam descrições detalhadas da criação de animais, das terras cultivadas, do número de árvores em plantações, da qualidade de cada pomar de frutas (inclusive de cada árvore individual), da quantidade média de terra por família, do número de carros, donos de lojas, membros de oficinas e os nomes dos artesãos em cada vila e suas habilidades. Mais tarde, foram acrescentados detalhes meticulosos sobre cada clã e sua afiliação política, a estratificação social entre notáveis e camponeses comuns, e os nomes dos funcionários públicos no governo do Mandato.

Conforme a coleta de dados criava seu próprio impulso, encontramos detalhes adicionais surgindo por volta de 1945, como descrições das mesquitas da vila e os nomes de seus imãs, juntamente com caracterizações como ‘ele é um homem comum’, e até mesmo relatos precisos das salas de estar dentro das casas dessas autoridades. No final do período do Mandato, as informações se tornam mais explicitamente orientadas para questões militares: o número de guardas (a maioria das aldeias não tinha nenhum) e a quantidade e qualidade das armas à disposição dos habitantes (geralmente obsoletas ou até mesmo inexistentes)”.

Com isto, os sionistas tinham praticamente tudo o que precisavam para realizar a limpeza étnica que tanto desejavam: expulsar os palestinos de suas terras. Sabiam praticamente de tudo o que acontecia, de toda a vida dos aldeões palestinos, de praticamente todas as aldeias. Com tais informações, poderiam organizar uma ofensiva militar de difícil contenção, ainda mais levando-se em conta o apoio que eles tinham do imperialismo britânico, norte-americano e do stalinismo, e falta de apoio dos países árabes aos palestinos.

Mas tais não foram as últimas informações a serem inseridas nos arquivos. A últimas o foram no ano de 1947, segundo Pappe. E trataram de mais informações a respeito daqueles palestinos que deveriam ser eliminados quando os sionistas desatassem sua ofensiva genocida:

“A última atualização dos arquivos das aldeias ocorreu em 1947. Isso se concentrou em elaborar listas de pessoas ‘procuradas’ em cada vila. Em 1948, tropas judaicas usaram essas listas para as operações de busca e prisão que realizaram assim que ocupavam uma vila. Ou seja, os homens da vila eram alinhados e aqueles que constavam nas listas eram então identificados, muitas vezes pela mesma pessoa que os havia denunciado inicialmente, mas que agora estaria usando um saco de pano sobre a cabeça com dois buracos para os olhos, a fim de não ser reconhecido. Os homens identificados eram frequentemente executados no local. Critérios para inclusão nessas listas eram o envolvimento no movimento nacional palestino, ter laços próximos com o líder do movimento, o Mufti al-Hajj Amin al-Husayni, e, como mencionado, ter participado de ações contra os britânicos e os sionistas”.

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