No dia 30 de agosto de 2023 deu-se um golpe militar no Gabão, país localizado na faixa central do continente africano, banhando pelo Atlântico Sul. Foi o mais recente dos golpes de Estados de caráter progressista que ocorreram nos últimos anos na África, seguindo na esteira dos golpes no Níger (26/07/2023), no Burquina Fasso (30/09/2022), Guiné (05/07/2021) e no Mali (24/05/2021). No Sudão, um golpe se deu em 25/10/2021, contudo o imperialismo acabou desencadeando uma guerra civil no país quando um setor nacionalista das forças armadas tentou assumir a dianteira, guerra esta que continua ocorrendo.
Assim como se deu em todos esses países, o golpe militar ocorrido no Gabão é um resultado do enfraquecimento mundial da ditadura imperialista, em especial no continente africano, tanto do bloco imperialista europeu (destaque para o francês, com forte presença no continente), quanto do bloco anglo-americano.
No caso do Gabão, o golpe não chegou a expressar o nível tão grande de radicalização e antagonismo com os países imperialistas, da mesma forma que ocorreu com a Burquiina Fasso ou mesmo o Níger. Contudo, ainda assim, tratou-se da tomada do poder que contrariou os interesses o imperialismo na região.
Foi derrubado Ali Bongo, filho de Omar Bongo, pondo fim a mais de meio século de uma ditadura subserviente ao imperialismo, tanto francês quanto norte-americano. Conforme noticiado por este Diário, o golpe recebeu amplo apoio popular, inclusive estimulando a mobilização operária contra empresas que estavam lhe tratando como escravos, os quais foram atendidos pelo governo em suas reivindicações:
Golpe militar está estimulando mobilização operária no Gabão
Foi igualmente noticiado que o governo de transição deu início a investigações referente a acordos feitos entre petroleiras e o presidente deposto, Ali Bongo:
CTRI do Gabão investigará acordos entre Ali Bongo e petroleiras
O novo governo acabou ainda com a taxa de matrícula da rede pública de ensino, uma situação profundamente anti-democrática que vigorava anteriormente na ditadura de Bongo:
Novo governo do Gabão acaba com taxa de matrícula nas escolas
Em suma, o golpe foi dado em resposta ao anseio do povo gabonês, que não suportava mais ver suas riquezas serem sugadas pelo imperialismo, em especial o francês, que já havia inclusive esgotado todas as reservas de urânio do país, e seguia saqueando o restante a passos largos, dada a crise mundial do bloco imperialista:
Após quase quatro meses do golpe que derrubou a ditadura de Bongo, lacaio do imperialismo, quais são as novidades sobre o Gabão?
O Comitê para a Transição e Restauração das Instituições (CTRI), ou seja, o governo provisório, anunciou um calendário com as principais fases de transição para um governo definitivo, calendário este que foi aprovado pelo Conselho de Ministros e tem conclusão prevista para agosto de 2025, para quando foram marcadas as eleições presidenciais. Contudo, apesar da data definida, o CRTI declarou caber ao povo gabonês decidir sobre a viabilidade desse calendário, se ele deverá ser adiantado.
Demonstrando mais uma vez que o golpe foi de fato progressista, no sentido de contrariar os interesses do imperialismo, a Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC), uma organização de países africanos cujos governos continuam sobre o controle do imperialismo, anunciou na última sexta (15) que manterá a “decisão de suspender a participação do Gabão nas atividades comunitárias até que a ordem constitucional seja restaurada”.
Em esforço para combater a sabotagem do imperialismo, o presidente interino Brice Oligui Nguema segue realizando encontros com chefes de Estados de outros países africanos, buscando convencê-los a levantar as sanções econômicas que seus países impuseram ao Gabão, sob pressão do imperialismo. Nesse sentido, no dia 7 de dezembro, o militar se encontrou com o presidente dos Camarões, Paul Biya. Antes disto, Nguema já havia visitado o Chade, a República Centro Africana, a Guiné Equatorial e a República do Congo.
Em suma, por ora, a situação permanece calma no Gabão. Por outro lado, enquanto isto, o antagonismo popular ao imperialismo, expresso através de movimentações de setores nacionalistas dos militares, parece ressurgir em outros países africanos, como na Serra Leoa, onde, no final de novembro, treze oficiais militares foram presos por tentarem um golpe militar; e na Guiné-Bissau, onde um líder das forças de segurança foi detido por confrontos que ocorreram na capital, na noite do dia 30 de novembro, mostrando que, no ano de 2024, o imperialismo continuará a ter problemas no continente africano.



