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Cessar-fogo de quatro dias

Começa a trégua em Gaza; para onde vai a guerra?

A partir do quinto dia, o imperialismo se vê diante de paradoxos e uma crise incontornável

As forças armadas do Estado de Israel e os militantes do Movimento Resistência Islâmica (Hamas) iniciaram no último dia 24 a troca de prisioneiros estabelecida no acordo de cessar-fogo anunciado dois dias antes. 25 reféns dos palestinos foram libertados, em troca dos 39 árabes que deixar as prisões israelenses, sendo os primeiros dentre 50 mulheres e crianças israelenses a serem libertadas e 150 mulheres e crianças palestinas. Com a trégua de quatro dias, ambos os lados começam a se preparar para a próxima etapa, marcada pela vitória do Hamas e uma crise no interior do Estado sionista.

Israel diz que a trégua pode ser estendida se mais reféns forem libertados a uma taxa de 10 por dia. Além disso, centenas de caminhões com ajuda humanitária estão prontos para entrar no enclave palestino, constituindo uma vitória da mobilização palestina, apesar da mortandade criminosa de mulheres e crianças árabes. Desde o começo, o objetivo declarado do Hamas com a operação era a libertação de prisioneiros palestinos nas masmorras israelenses. Com isso em mente, a conclusão da troca será uma vitória para os árabes e uma derrota para os sionistas.

Em resposta, nas últimas duas semanas, Israel prendeu cerca de 4.000 palestinos de Gaza que trabalhavam em Israel, mantendo-os em bases militares. Nos demais territórios palestinos, como a Cisjordânia e a cidade de Jerusalém Oriental, outros 1.070 palestinos foram presos no mesmo período.

Comentando as perspectivas da nova etapa da luta, o jornalista e analista militar Amos Harel, ligado ao dispositivo militar sionista, escreveu esperar “agora um estágio crítico. A hipótese é que, se o acordo for adiante, mesmo após a devolução de 50 prisioneiros em quatro rodadas, o Hamas solicitará mais tempo para localizar mais prisioneiros e devolvê-los também. ” (“As First Hostages Set to Be Released, Israel Is Already Planning Next Phase of Gaza War“, Amos Harel, Haaretz, 24/11/2023).

Otimista, o chefe de gabinete das Forças de Defesa de Israel (FD), Herzl Halevi, disse em uma reunião com os comandantes de brigada da 36ª Divisão na Faixa de Gaza: “Continuamos até a vitória e estamos avançando em outras áreas”(idem). No entanto, o Hamas além de não ter sido derrotado, evidenciou como as declarações fortes vindas dos inimigos israelenses, embora grotescas, estavam desencontradas com a realidade, o que obrigou Israel a atender parcialmente aqueles a quem jurou destruir com a máxima violência.

Como destaca Harel, “não estamos vendo imagens dos militantes armados da organização emergindo com bandeiras brancas. Alguns estão lutando até a morte, outros estão se escondendo em túneis ou fugindo por eles para o sul da Faixa de Gaza”. (Idem).

Por outro lado, o mundo viu militantes palestinos destruindo tanques e sendo apoiados por iemenitas, que simpatizando com a luta pela libertação da Palestina, realizaram uma ação espetacular de expropriação de uma embarcação israelense. Registros que contrariam o otimismo para todos de Halevi, do comando militar da FDI, mas que corroboram a análise de Harel.

Já no órgão árabe Al Jazeera, o analista de política internacional Marwan Bishara destaca que “a guerra sádica de Israel contra Gaza, o ponto culminante de uma longa série de políticas criminosas, pode muito bem ser suicida a longo prazo e levar ao fim do poderoso ‘Estado judeu’.”(“This Israel has no future in the Middle East”, 24/11/2023).

Para Bishara, “à medida que a opinião pública ocidental se volta contra Israel, seus líderes cínicos também mudarão de rumo, se não para preservar sua posição moral, então para salvaguardar seus interesses no Grande Oriente Médio. A mudança na posição da França, exigindo que Israel pare de matar crianças em Gaza, é um indicador do que está por vir”, diz. (Idem).

“Muito antes da guerra em Gaza”, continua o analista da Al Jazeera, “um importante jornalista israelense, Ari Shavit, previu o fim de Israel ‘como o conhecemos’, caso continuasse no mesmo caminho destrutivo”, diz, acrescentando que “na semana passada, Ami Ayalon, ex-chefe do serviço secreto Shin Bet de Israel, alertou que a guerra e a expansão territorial do governo levarão ao ‘fim de Israel’ como o conhecemos. Ambos escreveram livros alertando Israel sobre o futuro sombrio que o aguarda se continuar com sua ocupação.” (Idem). De fato.

Ainda que tenha promovido um massacre, matando milhares de crianças e mulheres, e também reduzido Gaza a escombros, Israel estará diante de opções muito ruins ao término do conflito. “A guerra de Gaza”, reforça Bishara, “pode vir a ser o começo do fim, mas não para a Palestina. Assim como o apartheid da África do Sul, o sangrento regime supremacista implodiu, o mesmo acontecerá com os israelitas, mais cedo ou mais tarde”, conclui. (Idem).

Finalmente, há um terceiro personagem importante a ser considerado: os EUA. Também no Haaretz, o colunista Alon Pinkas questiona “O que acontece no quinto dia? Os Estados Unidos apoiam a retomada da guerra?” (“Biden’s Dilemma: What Does U.S. Want When Four-day Truce Ends in Gaza?”, 23/11/2023) Elencando os principais focos de crises do imperialismo (“Afeganistão, Iraque; e uma mudança estratégica para a arena do Indo-Pacífico para combater a China”), Pinkas destaca:

“Gaza se tornou um ponto conectado em um mapa que mostra um desenvolvimento sinistro: a consolidação de um “eixo de resistência e caos” que inclui o Irã, a Síria, o Hezbollah, o Hamas, os Houthis no Iêmen e a Rússia.” (Idem).

“Esse eixo”, continua, “é claramente antiamericano, não apenas na retórica”, conclui o analista, reforçando que a capacidade de Washington para superara os problemas levantados pela ação do Hamas colocam os EUA em um “paradoxo”:

“Você precisa degradar o Hamas até o ponto em que ele não tenha nenhuma capacidade militar significativa e nenhum poder político residual. Para que isso aconteça, você precisa apoiar a retomada da guerra, por mais odiosa que essa ideia pareça. Se você apoiar a guerra, a probabilidade de formar o ‘eixo de estabilidade’ diminui; os aliados na Europa expressarão reservas; a pressão política interna sobre Biden aumentará. Isso é exatamente o que o Irã e a Rússia querem.” (Idem).

Sem uma saída fácil à vista, o cessar-fogo cumpre o papel também de ganhar tempo para o imperialismo. Por isso e dado o tamanho da crise, pode estar em perspectiva também o alongamento da trégua.

Isso ampliaria a crise interna em Israel, que já ameaça derrubar Netanyahu, e poderia provocar uma desmoralização imensa do sionismo. Por isso mesmo, o quinto dia após o cessa-fogo tende a produzir eventos com consequências sérias para a manutenção do enclave imperialista no Oriente Médio, assim como o imperialismo em geral. Graças a esta primeira vitória do Hamas, no entanto, não será um dia fácil para a ditadura mundial.

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