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Combater Dilma-Temer?

Combater Lula-Alckmin, mais uma muleta da esquerda golpista

Mais uma organização de esquerda adere à tese de que Lula é um lacaio do imperialismo para poder atacá-lo em coro com o imperialismo

Com um mês de governo Lula, as posições da esquerda sobre o novo governo vão sendo definidas. Uma das organizações que se posicionou sobre o governo foi a Esquerda Marxista, tendência do PSOL, que definiu uma política de “combate do governo Lula-Alckmin aos trabalhadores”. A tese aqui já prevê que o governo Lula será um inimigo dos trabalhadores que precisa ser combatido e abre margem para uma política golpista de esquerda, ao estilo do PSTU e do PCB. Por isso vale analisar o texto publicado em seu sítio no dia 24/01: “Perspectivas para a luta de classes no Brasil em 2023 e as tarefas dos marxistas”

O texto começa fazendo um panorama da crise internacional do capitalismo, dando dados sobre questões econômicas em todo o mundo, inclusive a crise no Brasil como o caso da falência das Lojas Americanas. É de fato um ponto crucial para entender a política nacional e internacional, mas não é o suficiente para acertar a análise política acerca do governo Lula. Isso fica claro, pois logo depois o texto aborda os atos bolsonaristas do 8 de janeiro: “Os grupelhos de extrema-direita realizaram o bloqueio de rodovias após as eleições e a recente invasão da sede dos três poderes, em 8 de janeiro. Porém o bolsonarismo radical, já minoritário, encontra-se cada vez mais isolado e desnorteado, com o próprio Bolsonaro perdendo apoio em sua base.”

Aqui já está claro que a EM está fora da realidade. Não há como grupelhos organizarem um ato nacional de 4 mil pessoas em Brasília e nem bloqueios em rodovias de todo o país, o movimento bolsonarista pelo contrário é relativamente grande e organizado. E também não é verdade que o bolsonarismo radical perde força, a própria questão citada acima da crise mundial é algo que fortalece a extrema-direita no mundo todo. Trump ganha força, Le Pen ganha força, a extrema-direita está no governo na Itália etc. Bolsonaro neste último mês de governo Lula não perdeu suas bases até porque o novo governo não conseguiu tomar nenhuma política concreta, pelo contrário até demonstrou fraqueza.

O texto então condena, de forma correta, a ditadura do Judiciário, que vem se formando, apesar de apoiar a palavra de ordem de “sem anistia”, que no atual contexto é um fortalecimento dessa ditadura. O princípio político da EM neste caso está correto, contudo a organização não percebe que apoiar essa política vai contra esse princípio. Mas o texto expõe os maiores erros quando fala sobre o caráter político do governo “Lula-Alckmin” em suas palavras. “Caracterizamos este governo como um governo operário liberal, nos termos definidos pela 3ª Internacional em seu 4º Congresso. Um governo do PT, de união nacional, em uma época de crise profunda das instituições e do capitalismo.” Diz o texto e então cita o exemplo da 3ª Internacional: “Um governo operário liberal. Já existe um governo deste tipo na Austrália e também é possível a curto prazo na Inglaterra.”

Aqui se usa o termo marxista, mas fora de contexto, seria o momento de pegar o exemplo histórico da Austrália, desconhecido pela maioria dos brasileiras, contudo, logo depois, a EM fala sobre a Frente Popular na Espanha, que não era categorizada como um governo Operário Liberal, mas sim como uma Frente Popular. No fim, parece que é apenas uma crítica vazia ao governo Lula, uma forma de chamá-lo de liberal. É nesse momento que a EM incorre em um erro grave:

“Levando em conta a experiência política e histórica do proletariado, em especial da Revolução Espanhola, o marxismo sabe que na luta contra a extrema-direita e a contrarrevolução não se pode abandonar a luta pelas reivindicações mais sentidas dos oprimidos e explorados e a independência de classe, ou seja, a principal lição da Revolução Espanhola é a que a luta contra a extrema-direita exige a luta contra a burguesia e o capital e, portanto, da construção do partido operário revolucionário independente. Nesse sentido nossa política se opõe frontalmente à política do governo Lula-Alckmin, que é a política do capital e do imperialismo, o que não nos impede de sermos os mais decididos na luta contra a extrema-direita e o bolsonarismo.”

O exemplo da Revolução Espanhola não cabe no caso brasileiro atual. O governo de Frente Popular, foi criticado por Trotski justamente por seu caráter contrarrevolucionário, que acabou entregando a revolução nas mãos do fascismo. O governo brasileiro atual é antes uma frente popular que é resultado de uma luta contra o golpe e a direita. Ou seja, ele tem, relativamente, um caráter positivo, enquanto na Espanha ele tinha um caráter abertamente contrarrevolucionário.

Essa caracterização do governo Lula não significa, de maneira nenhuma, que os revolucionários devem participar do governo, como fazem setores do PSOL. Mas o governo deve ser empurrado para a esquerda, na medida em que as massas depositam nele a esperança de que será um governo que vai superar os anos desastrosos do golpe. É preciso acompanhar esse movimento no sentido de uma mobilização real contra a direita.

Trotski não afirmava que era preciso combater o governo da Frente Popular, mas a frente popular em si, ou seja, combater a aliança da esquerda com a burguesia, atacar a direita que está no governo que é o principal entrave para o desenvolvimento da luta dos trabalhadores. Essa política também vale para o governo Lula, não faz sentido combater o governo, é preciso mobilizar os trabalhadores fazendo com que a ala esquerda do governo, ligada ao movimento operário, se fortaleça e assim que a direita dentro do governo tenha cada vez menos força. Ficar contra o governo foi o erro que um grande setor da esquerda cometeu em 2016 durante o golpe contra Dilma, apoiando o golpe. Esse erro não pode ser cometido novamente.

A EM ainda afirma que a política do governo Lula é a política do capital e do imperialismo, o que é um absurdo dado que o governo do PT foi derrubado e Lula foi preso pelo imperialismo. É uma afirmação para embasar o ataque ao governo do PT visto que é preciso lutar contra o imperialismo. A realidade é que o imperialismo está infiltrado no governo pela figura de Alckmin, e outros ministros,  para tentar controlá-lo e se necessário derrubá-lo. A luta contra o imperialismo é, portanto, a luta contra essa infiltração no governo Lula, é uma luta para expulsar a direita do governo. A EM adota o extremo oposto, considera Lula-Alckmin como uma entidade inseparável o que faria em última instância que o governo fosse um lacaio do imperialismo.

A EM ainda tenta justificar a sua tese: ”Ao contrário dos dois primeiros mandatos de Lula, desta vez o cenário econômico estreita muito sua margem de manobra. Isso necessariamente irá se traduzir em manutenção de ataques anteriores (ao invés da revogação) e a preparação de novos ataques contra direitos e conquistas dos trabalhadores para atender às necessidades da burguesia e do imperialismo em meio à crise.” Essa é uma análise totalmente inversa. Nos primeiros governos a margem e manobra permitia a conciliação de Lula com o imperialismo, tanto que não houve investida golpista. No atual estágio não existe essa margem, o governo então tende a se chocar com o imperialismo, o que torna o apoio a Lula totalmente imprescindível.

Se Lula atacar os trabalhadores, ele será derrubado pela direita, pois irá perder totalmente sua única base, o apoio popular. Se não atacar os trabalhadores irá se chocar com a direita e, portanto precisará de apoio popular para não ser derrubado. Não existe conjuntura para a esquerda em que se combate o governo Lula, um partido revolucionário deveria compreender isso. Ao invés de levantar a tese desconhecida do governo “operário liberal” deveria lembrar dos casos brasileiros do governo Dilma e do último governo Vargas. Em ambos os stalinistas se colocaram contra o governo de “conciliação com o imperialismo” e na prática apoiaram o golpe de Estado organizado pelo próprio imperialismo.

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