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Analfabetismo político

Com perseguição, Bolsonaro será tão impopular quanto Trump

Grande parte da esquerda nutre um sonho infantil e inocente de que Bolsonaro perderá sua popularidade com as perseguições judiciais. Não entendem que isso alimenta o bolsonarismo.

O portal Brasil 247 publicou coluna intitulada “A sobrevivência do bolsonarismo depende do fim de Bolsonaro”, mais uma tentativa de desqualificar a popularidade do bolsonarismo, o que é sempre ruim para a esquerda.

De acordo com a coluna, os “pretendentes a herdeiros do acervo político de Bolsonaro têm pela frente o desafio de ajustar os movimentos que os afastem um pouco do indivíduo, sem que pareça desprezo ou fuga e sem se distanciar do que ainda é o bolsonarismo”.

Essa visão incute a ideia de que a base de Bolsonaro se afastará dele, haja vista que foi declarado inelegível e é alvo de processos e investigações policiais. De acordo com o colunista, “O principal, o mais visível no momento, é este: é arriscado para alguns agrupamentos de direita manter ou estreitar laços com a imagem de Bolsonaro, considerando-se quem tem projetos eleitorais para o ano que vem e faz carreira para o futuro de médio prazo”.

Essa visão parte de uma fé da esquerda nas instituições, em especial no Poder Judiciário, na ideia de que um político deva ser “puro”. Nada mais falso. Se tomarmos como referência Donald Trump, à medida que as perseguições aumentaram, com a proximidade das eleições, o ex-presidente dos Estados Unidos ganhou em popularidade e, inclusive, está na frente nas pesquisas.

Em uma das pesquisas, realizada pela NBC News, entre 15 a 19 de setembro, Trump já está tecnicamente empatado com Joe Biden, e sua popularidade é 40 pontos maior que a de Ron DeSantis, governador da Flórida, o segundo nome entre os republicanos.

Nos EUA, a tendência é que Trump amplie essa vantagem e concorra em condições de vencer, especialmente em razão da guerra na Ucrânia e da deterioração econômica do país, além da ampliação da demagógica política identitária.

No Brasil, Bolsonaro vive situação semelhante. É perseguido por inúmeros motivos fúteis, e, no essencial, a crítica que deveria ser feita sobre sua política antinacional e neoliberal passa ao largo tanto da direita gourmet quanto da esquerda identitária, que não se importa com a economia nacional e até apoia indiretamente as privatizações para pegar uma boquinha em alguma fundação.

Entretanto, apesar do desenvolvimento da situação política nos EUA, e de nenhuma queda de Bolsonaro em pesquisas de opinião, a coluna afirma que “É complicado estreitar conexões entre ambições políticas e Bolsonaro, no momento em que (sic) o sujeito é cercado pelo sistema de Justiça e se fragiliza politicamente, já com um pé na cadeia”.

Eventual prisão de Bolsonaro vai ampliar a força da direita e do bolsonarismo. Não é impensável o surgimento de acampamentos e vigílias em defesa da liberdade do ex-capitão. Trump explorou o fato de ser perseguido judicialmente e ganhou dividendos políticos com isso. Bolsonaro certamente poderia fazer o mesmo. Mas, no horizonte, não se vê ainda a prisão de Bolsonaro, e seu fortalecimento é visível com a ditadura judicial organizada pelo STF em torno dos eventos de 8 de janeiro. 

Tudo isso tem servido para que Bolsonaro fique cada vez mais forte. Além disso, considerando os tropeços de vários membros do governo Lula, tanto na área da Justiça, quanto na área dos “direitos humanos”, a militância bolsonarista ganhou ainda mais combustível. 

Na coluna, com base em pesquisas de opinião do instituto Datafolha, o autor tenta demonstrar a possível desidratação do bolsonarismo, tentando considerar que as mesmas ideias de Bolsonaro perduram no Brasil há décadas e, portanto, qualquer político seria capaz de conduzir um grupo de eleitores.

Na verdade, a presidência de Bolsonaro concentrou eleitores que convergiram a vários pensamentos políticos existentes no Brasil, mas o fato de ele ter condensado tudo isso numa síntese faz com que ele seja o nome mais lembrado pela direita. 

Além disso, Bolsonaro possui o carisma que a direita tradicional não possui, o que lhe dá ampla vantagem em confronto contra a esquerda, que tem sido completamente incapaz de produzir um programa social, econômico e político capaz de lhe garantir a vitória. O neoliberalismo impregnou-se na esquerda no campo econômico (conciliação com a burguesia) e no campo social com o famigerado identitarismo.

A análise de sempre feita pela esquerda é sobre o conjunto de elementos superficiais relacionados com o campo do ex-presidente. “Bolsonarismo, numa simplificação, poderia ser percebido genericamente num quadrado onde cabem ultraconservadorismo, extremismo, fascismo ou algo assemelhado, capaz de acolher esse eleitor negacionista, antiaborto, antigay, antidemarcação de terras indígenas, antimaconha, anticotas, muitas vezes antivacina e tantas outras vezes terraplanista e racista”, afirmou.

A questão aí é que esses elementos fazem parte dos interesses de diversos setores da própria burguesia que, caso se veja novamente encurralada, pode facilmente lançar mão dessas campanhas em larga escala.

Esses elementos todos são fortalecidos não somente pela base do bolsonarismo, mas pela esquerda que não tem pauta para o povo, abandonou completamente a população à própria sorte, não apresentando um programa para ela.

A coluna considera que “Bolsonaro pode ser, em pouco tempo, apenas o dono do ponto, o cara que criou o mercado, tem clientela e consolidou uma marca. Mas sujou o nome”. Esse é um pensamento simplista do processo político atual, pois essa pauta, nas mãos da maior parte dos direitistas, faz com que “a clientela” fuja. Essas pautas nefastas e bizarras encontraram expressão na figura de Bolsonaro, e sua substituição em favor de outro elemento da direita não é algo tão simples como tenta ensinar o colunista. Lembremos que a esquerda sequer conseguiu destruir Bolsonaro.

É uma ilusão da esquerda pensar que um “nome sujo” é suficiente para desmoralizar alguém na política. E essa ilusão é parte do pacote do analfabetismo político da esquerda atual, cada vez mais distantes dos anseios populares. O exemplo de Trump está aí. Basta ter olhos para ver.

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