No mês de fevereiro, estima-se que centenas de indígenas do Mato Grosso do Sul foram ao sul do país para trabalhar na lavoura de uma nova colheita de maçãs do tipo gala e fuji. Os índios são submetidos a trabalhos exaustivos sem as condições ideais para um trabalho digno.
Os trabalhadores ficam 45 dias no Rio Grande do Sul trabalhando na colheita, numa distância aproximada de 1,5 mil quilômetros de suas aldeias. Caso haja um novo tipo de serviço, os trabalhadores ficam mais tempo longe de suas casas, em situações, muitas vezes, abaixo do aceitável para um ambiente de trabalho.
“Hoje, é um privilégio ver o pessoal saindo da nossa aldeia e indo para o Rio Grande do Sul trabalhar na colheita de maçã. Embora o serviço seja distante, em outro estado, e exista o perigo nas estradas, não podemos desconsiderar as dificuldades que enfrentamos aqui na aldeia. Espero que tudo dê certo, que trabalhem, ganhem um dinheirinho e voltem tranquilos, porque a família deles está aqui, esperando esse retorno”, disse Marcelo Quevêdo Pedro, que é vereador do município de Douradina
Essa fala deixa claro que o aceite dos indígenas para o trabalho ofertado não é fruto de uma oportunidade única de emprego, mas sim da falta de opção dos indígenas. Eles vão para o Sul numa situação de tudo ou nada, arriscando suas vidas e deixando seus familiares à distância.
Agora, por que todo esse esforço para levar os indígenas ao Sul para trabalharem? Bom, levando em consideração que os patrões não são tão benevolentes com os trabalhadores, é fácil chegar à conclusão de que os índios não estão sendo beneficiados por uma caridade. A questão é o custo da mão de obra dos índios e a exploração do trabalho manual dessas pessoas.
Jeferson Pereira, procurador do Trabalho em Dourados, fiscaliza essas contratações desde 2014. A fiscalização é realizada por meio de uma parceria entre Ministério Público do Trabalho, Governo de Mato Grosso do Sul através da Fundação do Trabalho de MS (Funtrab), Instituto de Direitos Humanos, Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae) e Coletivo dos Trabalhadores Indígenas.
O procurador deu a seguinte declaração: “Em regra, eles não têm qualificação para trabalhar com máquinas computadorizadas, e a colheita da maçã é manual, faz parte do estilo de vida deles”.
Nada mais absurdo. A procuradoria do Trabalho do Mato Grosso do Sul está contra os indígenas e a favor dos latifundiários. É muito confortável para os latifundiários economizarem com maquinário para auxiliar no trabalho de colheita e explorar a força braçal dos trabalhadores indígenas.
Se os índios não têm condições para usar o maquinário, por que não ensiná-los? Mas, não é essa questão. A questão é que o estado e a burocracia do Mato Grosso estão contra os indígenas e protegendo os latifundiários, passando uma borracha sobre a situação desses trabalhadores.