O ano de 2023 caminha para o fim e já estamos em clima de eleição. Quem anda pelas ruas de São Paulo percebe o esforço do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) para se fazer conhecido: são inúmeras obras, desde recapeamentos até a renovação da avenida Santo Amaro (para o socorro dos banqueiros da Faria Lima e seus carros de luxo). O emedebista – tucano de alma – anunciou até mesmo que, a partir do último dia 17, os ônibus municipais serão gratuitos aos domingos. Seria oportunismo eleitoral?
Enquanto o herdeiro de Bruno Covas (PSDB) luta pela reeleição, o Partido dos Trabalhadores já declarou seu apoio à pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSOL). Pouparemos nossos leitores da enxurrada de denúncias sobre o suposto líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Para os curiosos, sugerimos uma busca neste Diário pelo nome do psolista para descobrir suas relações muito suspeitas com influentes empresários, advogados, e políticos golpistas, além de instituições diretamente ligadas às agências de inteligência norte-americanas, como a Global Americans.
Boulos, que não é do PT, é o candidato do PT à prefeitura de São Paulo. Após especulações de que Tabata Amaral (PSB) seria sua vice, por ser do mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, surgiram indícios de que a direção do PT estaria preparando a indicação de Marta Suplicy (sem partido) para o cargo. Sim, aquela que abandonou o PT, apoiou o golpe e que é, atualmente, secretária de Relações Internas da gestão Ricardo Nunes. Isso para não mencionarmos o desastre que foi sua prefeitura.
Não demorou muito para que ouvíssemos vozes de dentro do PT “criticando” a possibilidade. Usamos aspas porque se, no passado, Valter Pomar criticou com certa veemência o anúncio de Alckmin como vice de Lula, em sua recente coluna “Marta vem aí?”, o dirigente petista parece ter abandonado a crítica em favor simbolismos. Já que tratamos do tema de eleições paulistanas, a crítica remete ao chavão do reacionário Paulo Maluf: “estupra, mas não mata”.
Não matem o PT, diz Pomar.
“Eleitoralmente a ideia tem seu sentido. Basicamente porque, na periferia paulistana, a memória do governo Marta segue presente e positiva”.
“O que não faz sentido, na minha opinião, é Marta se filiar ao PT. O que ela fez em 2016, apoiando o golpe, foi uma violência inesquecível e imperdoável.”
Segundo Pomar, trazer pessoas como Marta para dentro do PT é algo que “vai mudando, por dentro, o partido”. O dirigente petista reconhece que “perto de algumas tranqueiras” que estão dentro do PT, Marta nem é tão ruim assim, mas teme que a decisão de filiá-la no partido tenha um valor simbólico perigoso.
“Se Marta, depois do que fez em 2016, pode mesmo assim voltar a ser filiada ao PT; e filiada com o objetivo de disputar a vice-prefeitura da maior cidade do país, supostamente em nome do PT; e ainda ser recebida com pompa e circunstância; então estaremos cruzando uma perigosa fronteira”, diz Pomar.
Mas Marta é apenas um detalhe no erro político fundamental cometido pela direção petista de apoiar Boulos e não um candidato próprio para a prefeitura de São Paulo. O partido parece pronto para perder a relevância na principal cidade do País – onde foi fundado, onde tem uma história de lutas com as greves do ABC – assim como fez após sucessivos erros na segunda maior cidade do País, o Rio de Janeiro.
O problema não é sequer Boulos – ainda que seja um grande problema – mas o simples fato de que a militância petista paulistana está sendo dirigida a apoiar figuras que não são de seu partido.
Pomar levou o debate para um terreno paradoxal: ou o PT apoia uma chapa sem representante do próprio partido, ou apoia uma chapa com uma petista postiça e golpista como vice. Se ele está de acordo com a indicação de Marta, que acredita ser uma memória “presente e positiva” no imaginário paulistano, nada mais natural que a pré-candidata, atualmente sem partido, entre no PT.
A solução não está em lamentar uma possível retorno de Marta ao PT. Está em criticar a sequência de erros políticos que Pomar reconhece, no início de seu artigo, “cobram seu preço”. Se Marta será vice de Boulos pelo PT ou pelo PSB (difícil, pois o partido de Alckmin tem pré-candidatura própria) é um tema secundário. O PT precisa de uma candidatura própria na principal cidade do país, de uma candidatura forte, que mobilize sua militância e reverta a situação política nacional, em que o governo Lula se encontra totalmente recuado.