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Caso Antony

Caça às bruxas será bom para as mulheres?

O imperialismo descobriu que se a repressão, se feita em nome de uma "boa causa", terá o apoio da esquerda

O jogador Antony Matheus dos Santos, atual integrante do poderoso time de futebol inglês Manchester United, foi dispensado da seleção brasileira em razão das recentes acusações de violência contra mulher, no caso, contra sua ex-namorada Gabriela Cavallin.

Com essa acusação, Antony se junta ao seleto grupo de jogadores acusados de violência contra mulher, tendo, dentre eles, Robinho, Daniel Alves, Bruno (ex-goleiro), e outros tantos que já sofreram processos em razão de violência contra mulheres.

Até aí não teria nenhuma novidade, não fosse o fato da histeria ter tomado conta dos próprios órgãos dirigentes de clubes e seleções, que, para responder à pressão da imprensa capitalista (que não liga a mínima para direitos das mulheres) resolvem encabeçar a punição contra os jogadores antes do trâmite processual regular.

Uma coisa que a esquerda pequeno burguesa esqueceu, se é que aprendeu alguma vez, é que para ser preso é necessário um processo, provas, direito de responder um processo com contraditório e a mais ampla defesa, e, após a última instância, se condenado for, cumprir a pena. Afora as considerações sobre a pena em si, sobre a prisão, o processo penal é assim na maioria dos países.

Mas a luta dos setores oprimidos da sociedade, em razão da política do próprio imperialismo, saiu das ruas para as salas dos tribunais de justiça e para as redações da imprensa capitalista. Agora tudo precisa de reprimenda antes de qualquer processo, de qualquer prova. A pena é cumprida antes do julgamento, e os resultados disso devem ser imediatos. É isso que se deu com Antony. Os famosos linchamentos que aconteceram às vésperas do golpe, hoje mostram que ainda estão por aí, como política defendida, desta vez, pela esquerda. 

Antes mesmo de um possível resultado penal de sua conduta, o jogador foi crucificado e já foi desconvocado da seleção brasileira, que irá disputar jogos da eliminatória da copa do mundo de 2026 nos próximos dias. Não é possível imaginar que a retirada do jogador foi do interesse do técnico ou da própria CBF, mas o tempo é de caça às bruxas, e lá estava mais uma, que deve ser incinerada e depois veremos o que de fato aconteceu.

A lei não obriga que uma pessoa que tenha sido condenada alguma vez possa ficar impedida de exercer sua profissão. Na realidade, isso é um preconceito contra o egresso. Exigir o famoso “nada consta” para assumir um trabalho é proibido. Uma pessoa não pode pagar pelo resto da vida por um crime que teria cometido, e essa é mais uma das várias posições democráticas a serem assumidas pela esquerda. No caso de Antony, nem foi apurado o crime ainda e ele já está proibido de exercer sua profissão.

Mais sóbrio que a CBF, que a imprensa da inquisição e que a própria esquerda de conjunto, o clube do qual faz parte Antony divulgou nota oficial dizendo que está ciente da denúncia, e que vai aguardar os desdobramentos do processo para ver que posição tomar.

Isso por um lado. 

Por outro lado, poderíamos cogitar a seguinte hipótese: se todos os homens que agrediram mulheres forem presos, absolutamente todos, vai impedir que novas agressões contra mulheres aconteçam? Ou seja, a cadeia é o que garante a existência de determinado direito? Não.

Uma pesquisa, ainda em 2012, feita pelo chamado Mapa da Violência revelou que desde a sanção da lei Maria da Penha (sancionada em 2006) a violência contra as mulheres não diminiu, sequer estabilizou. Ela simplesmente aumentou.  

Outra pesquisa, já em 2022, chamada “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil” demonstrou o mesmo problema, que a violência contra a mulher aumentou, apesar das leis e das penas, apesar da ameaça de cadeia, apesar da inquisição que se deu sobre o tema no último período, como pode ser visto no caso de Antony e de outros.

Na realidade, nenhum crime ou conduta criminosa se reduz com a ameaça de cadeia, com a ameaça de prisão, por pior que sejam as prisões brasileiras. Nem os menores, como  pequenas contravenções, nem os maiores, como homicídio doloso, qualificado. Punir nunca serviu para absolutamente nada e, até ontem, a esquerda sabia disso. Mulheres e, especialmente, negros não ganham nada com a existência de mais leis repressivas e novos crimes. 

Ocorre que o imperialismo descobriu que se a repressão, se feita em nome de uma “boa causa”, terá o apoio da esquerda Por isso a satisfação da imprensa capitalista e da esquerda pequeno burguesa com o afastamento de Antony. Toda repressão penal que envolva racismo e violência contra a mulher tem hoje, nas fileiras da esquerda, seu principal apoiador. 

No caso de Antony e de outros jogadores de futebol, a histeria da esquerda deve ser explicada por mais um ângulo, que é o mais puro preconceito de classe. Como oriundos e circundados por pessoas da classe média, essa esquerda, por óbvio, odeia os trabalhadores e sua cultura, como o futebol. E ama o modo de vida burguês, o quer como propósito de vida, mesmo que isso jamais seja alcançado.

Não é de hoje que a esquerda chama de alienado tanto o esporte em si quanto seus praticantes. Mesmo sem saber o que significa o termo alienado, e sem saber, também, o que é o futebol e a importância dela para o povo trabalhador brasileiro. Os que aí estão serão crucificados para sempre pela esquerda pequeno burguesa, com ou sem crime, com ou sem provas.

“Sem anistia” foi o lema que abriu o ano de 2023, como bandeira da esquerda, nas ruas. Significa: prendam todos os nossos opositores políticos, com ou sem prova. A lição de 1964-1985 não foi absorvida por inteiro e a verdade é que, de tanto pedir a inquisição, pode ser que ela volte, e a esquerda terá uma nova oportunidade para refletir sobre as leis penais, os juízes, a cadeia. Não parece em um primeiro momento, mas é isto que revela a reação da esquerda no caso Antony e de outros.

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